As ruas Riachuelo e Uiraúna, localizadas no bairro Matadouro, Zona Norte de Teresina, tornaram-se verdadeiros depósitos de lixo à céu aberto. Onde antes havia espaços limpos e organizados, segundo moradores, hoje predominam pilhas de sacolas, sujeira, mau cheiro e urubus.
De acordo com Maria Reis, moradora da região há 25 anos, a área nem sempre foi motivo de preocupação e a mudança negativa foi acontecendo pouco a pouco. “No começo, era uma sacolinha aqui e outra ali. Depois, foi aumentando, até tomar conta, como está agora. E quando a prefeitura manda limpar, não demora nada para carroceiros e moradores, daqui e de outros bairros, jogarem lixo de novo”, revela.
A cena já virou parte da rotina dos residentes e comerciantes, mas o problema definitivamente se agravou nos últimos anos. Este mês de agosto complicou ainda mais a situação, já que, segundo moradores, o caminhão de coleta não fez o recolhimento regular do lixo por 20 dias. Para não acumular resíduos dentro das casas, muitas pessoas acabam despejando o material nos pontos já tomados por entulho.
Riscos para a saúde
No entorno de um dos locais tomados pelo lixo, há uma escola de educação infantil da rede municipal de educação. O comerciante Kleber dos Santos, proprietário de um depósito de bebidas na Rua Riachuelo, relata a preocupação com as crianças que passam diariamente pelo espaço. “É bicho morto, resto de comida, todo tipo de lixo. O risco de doença é grande, principalmente para as crianças que vão a pé para a escola e passam bem ao lado da sujeira, sentindo esse cheiro ruim e pisando em água suja quando chove”, conta.
Alguns moradores relatam que a limpeza das áreas até acontece, mas sem efeito duradouro. Graciele Fernandes, também comerciante na região, afirma que a prefeitura chega a recolher os resíduos, mas pouco tempo depois a cena volta a se repetir. A presença de cães de rua revirando sacolas e urubus em busca de restos de comida reforça o incômodo de quem vive na região. No período chuvoso, a situação se torna ainda mais crítica, já que a água contaminada escorre pelas calçadas, afetando toda a rua e as vias vizinhas.
Papel da população
Embora parte do problema seja causado pela irregularidade da coleta de lixo, moradores destacam que o despejo de resíduos por pessoas de bairros vizinhos é outro fator que dificulta a solução do problema. “Não é só lixo nosso, não. Carroceiros vêm de outros lugares e largam tudo aqui. Junta sujeira de todo mundo e ninguém controla”, afirma Maria Reis.
A percepção de abandono cresce a cada dia, diante da falta de alternativas. Não há contêiners públicos no local, e os que existem, de acordo com os moradores, pertencem a um supermercado da região. “ Se tivesse um cesto grande, pelo menos a gente teria onde colocar o lixo. Mas, sem isso, o pessoal joga no chão mesmo”, diz a moradora.
Para os moradores mais antigos, como Maria Reis, a lembrança de uma rua organizada e limpa contrasta com o cenário atual de descuido e descaso. Segundo ela, a sensação é de que o problema do lixo ultrapassa a simples coleta e é reflexo de uma cadeia de falhas, que envolve poder público e população. Enquanto isso, as ruas Uiraúna e Riachuelo continuam sendo um retrato visível daquilo que, em Teresina, insiste em se repetir.
Resposta do poder público
A Empresa Teresinense de Desenvolvimento Urbano (ETURB) informa que está ciente do grave problema da falta de coleta de lixo em diversos bairros de Teresina, provocada pelo consórcio Recicle/Aurora, e está atuando de forma efetiva para a solução mais breve do problema.
Além das falhas na coleta, a empresa chegou a atrasar pagamentos aos trabalhadores da limpeza e também aos proprietários de caminhões terceirizados, agravando ainda mais a situação. Nos últimos dias, foram identificadas práticas como o desligamento do sistema de GPS dos veículos, numa tentativa de ocultar a real execução do serviço. A alegação atual é de que o Consórcio não teria condição financeira para pagamento de diesel, ainda que todos os pagamentos devidos pela Prefeitura estejam quitados, ou dentro do prazo de análise e quitação. Assim, a ETURB não compreende por que a empresa deixou de abastecer sua frota, prejudicando diretamente a população.
O processo de contratação das empresas que substituirão o Consórcio já foi concluído, entretanto é necessária uma fase de transição correspondente ao tempo de mobilização de equipamentos e contratação de pessoal. Desta forma, a Prefeitura de Teresina encaminhou novo acordo junto ao TRT para permitir o pagamento de cerca de 6 milhões de reais, viabilizando a quitação e despesas imediatas pelo Consórcio e o retorno às atividades, durante tal fase de transição.
Rebeca Negreiros, especial para o Portal O Dia, com edição de Isabela Lopes.
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