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Casa das Estudantes do Piauí: símbolo de resiliência, resistência e luta feminina

Há 43 anos, a organização oferece abrigo e possibilita a formação acadêmica de meninas de todo o Brasil.

02/09/2025 às 11h06

A Casa das Estudantes do Piauí (Cepi), fundada em 7 de agosto de 1983, foi estabelecida com o objetivo de oferecer suporte para meninas maiores de 18 anos, que estão em formação de níveis médio ou superior, sejam piauienses ou de outros estados. O local atualmente funciona na Zona Sul de Teresina e conta com 30 mulheres que moram no espaço, mas já chegou a abrigar até 50 estudantes.

Criada há 43 anos por Maria da Cruz de Oliveira, primeiramente, a casa funcionou no bairro Piçarra, região Centro-Sul da capital, abrigando homens e mulheres que buscavam estudar em Teresina. Ainda na década de 1990, o local passou a receber somente estudantes femininas e, a partir do ano de 2013, passou a ter sua sede estabelecida no bairro Macaúba.

Hoje, a Casa das Estudantes é mantida majoritariamente pelas próprias moradoras, que formam a diretoria e o conselho fiscal da casa e pagam uma taxa mensal de R$30 para gastos coletivos, como a manutenção do espaço. A instituição conta com a ajuda esporádica de órgãos públicos, como a Secretaria de Educação do Estado (Seduc) - que também contribui com pagamento de contas de água, energia e internet - e de doações da população.

Casa das Estudantes Feminina do Piauí - (Assis Fernandes/O DIA) Assis Fernandes/O DIA
Casa das Estudantes Feminina do Piauí

Ellen Silva, moradora da Cepi há três anos e presidente do Conselho Fiscal da casa, explica que, para passar a ser integrante do espaço é preciso apresentar documentação pessoal, comprovante de matrícula em instituição de ensino, laudo médico psiquiátrico e psicológico e antecedentes criminais. “Depois que tudo é aprovado, a gente marca uma data para a mudança. A estudante passa por um período de adaptação de sete dias e, se tudo correr bem, fica até o fim do curso”, diz.

A casa conta com segurança 24 horas e uma localização estratégica, próxima a farmácias e comércios, o que ajuda bastante as estudantes, que arcam com suas próprias despesas extras. “É como morar sozinha, porque cada uma tem o seu mundo, mas com a vantagem de ter uma rede de apoio. É quase uma fraternidade feminina. As tarefas de organização e limpeza são definidas e decididas em assembleia”, destaca Ellen.

A gestão é feita de forma democrática, com eleições anuais que decidem quais estudantes serão parte da diretoria (que conta com presidente, vice, secretárias, diretoras e tesoureiras) e do conselho fiscal. Todas as decisões tomadas na Casa são registradas em atas, guardadas na Secretaria do local, que se tornou um acervo histórico, guardando fotos, documentos e registros de ex-moradoras, preservando a memória da instituição.

Ellen Silva, moradora da Casa das Estudantes. - (Assis Fernandes/O DIA) Assis Fernandes/O DIA
Ellen Silva, moradora da Casa das Estudantes.

A estrutura da Cepi conta com cinco quartos, sendo um com capacidade para 4 pessoas e os outros podendo ter até sete, todos equipados com cama, colchão e ar-condicionado. Os quartos também contam com alguns armários, embora ainda haja demanda por mais móveis. Um banheiro, com cinco chuveiros e quatro sanitários, é divido para todas de acordo com as regras de convivência de uso e manutenção, assim como as outras áreas comuns, como biblioteca, cozinha, área de lazer e lavanderia.

A troca de experiências e a confiança entre as estudantes que, em sua maioria, vêm de outras cidades e estados, é essencial para a boa relação entre todas. Além de espaço físico, a Casa das Estudantes oferece vivência marcada por laços de amizade e apoio. “Já tivemos meninas que aprenderam a cozinhar aqui. Algumas são as mães da casa, algumas a gente tem que pegar na mão. Tem gente do Piauí e de outros estados”, relata Ellen Silva.

Além disso, a presidente do conselho fiscal também conta que a Cepi é feita pelas gerações que passam pelo local, mas também forma muitas estudantes que são as primeiras de suas famílias a ter um diploma. Várias das mulheres que recebem o apoio da instituição indicam amigas e familiares que também precisam da ajuda domiciliar oferecida pela organização.

Casa das Estudantes Feminina do Piauí - Biblioteca. - (Assis Fernandes/O DIA) Assis Fernandes/O DIA
Casa das Estudantes Feminina do Piauí - Biblioteca.

Apesar dos grandes avanços que a Casa já teve ao longo dos últimos 42 anos, o espaço ainda enfrenta diversos desafios. Reformas estruturais, por exemplo, dependem de trâmites burocráticos e do apoio de órgão públicos, como a Seduc. Algumas áreas, como os boxes do banheiro, ainda precisam de melhorias, mas várias das demandas são supridas pelas próprias garotas. Bruna Milhomem, presidente da diretoria, conta que as próprias garotas já chegaram a fazer a capinagem do quintal da casa.

A Casa das Estudantes do Piauí mantém seu trabalho graças ao esforço das estudantes e o apoio de parceiros pontuais. A fundadora da Cepi, Maria da Cruz Oliveira, deixou de agir ativamente ainda nos primeiros anos da instituição. Mesmo assim, em mais de quatro décadas, o local nunca deixou de oferecer apoio e já abrigou centenas de histórias de superação. “A cada nova turma, a gente reforça que isso é mais que uma moradia estudantil. É, também, um símbolo de resistência e de conquista feminina”, finaliza Ellen.

Bruna Milhomem, Presidente da Diretoria da Casa das Estudantes. - (Assis Fernandes/O DIA) Assis Fernandes/O DIA
Bruna Milhomem, Presidente da Diretoria da Casa das Estudantes.

Rebeca Negreiros, especial para o Portal O Dia, com edição de Isabela Lopes.


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