No bairro Vale-Quem-Tem, em pleno coração da zona Leste de Teresina, funciona há mais de cinco décadas um estabelecimento que carrega um pedaço do interior piauiense para dentro da capita. A Casa do Beiju mantém viva a tradição da “farinhada”, um processo artesanal de produção da mandioca que produz o típico beiju, e faz da iguaria um símbolo de identidade do estado, resistência cultural e afetividade.
Fundado por Antônio Tomás e sua esposa, Livramento, vindos da cidade de José de Freitas em uma época em que a região ainda era pouco desenvolvida, o negócio foi criado para sustentar a família e ganhar gerações. Hoje, é levado por filhos, netos e noras, que preservam a cultura com dedicação e carinho.
Segundo Janete Rocha, uma das empreendedoras que tocam o estabelecimento, o processo é todo continuado pela família de Antônio e Livramento, que trouxeram seus filhos já para trabalhar juntos. Segundo ela, todos sempre foram bastante unidos em cada passo – no descascar, lavar, prensar, etc. Assim, o valor do coletivo, a transmissão entre gerações e o vínculo familiar tornam-se tão importantes quanto o sabor do produto.
Na prática, o ritual da farinhada começa com a mandioca, descascada e serrada, e segue com a separação da massa da goma num procedimento conhecido como lavar. “O processo de lavar a massa da mandioca é justamente para separar a massa e tirar a goma. Depois, pegamos a massa e botamos na prensa, para tirar o restante da água e misturar com a goma e o coco”, explica o neto do fundador, Gilson Santos.
No dia seguinte, segundo ele, a massa vai descansar e ser misturada com o coco ralado. O conjunto de passos está documentado por pesquisadores como parte central da tradição da farinhada. “Raspar, lavar, prensar. Daí sai a goma que será utilizada para fazer o beiju”, continua Gilson.
Na Casa do Beiju, a tradição se renova com modernização, mas sempre equilibrada com as raízes que começaram e tornaram o negócio o que é hoje: um marco na identidade piauiense. Hoje, cerca de 150 unidades são feitas e vendidas diariamente, atendendo clientes fiéis e visitantes, sem perder a aura do interior do estado.
Para alguns dos clientes, como Celso e Elizabete, a tradição pode ser sentida no local. “É uma coisa regional e deliciosa. Lembra a nossa infância. Morávamos no interior do Piauí e, quando viemos morar aqui em Teresina, tivemos o prazer de conhecer essa maravilhosa Casa do Beiju”, diz Elizabete. Os dois acompanham a tradição de tomar um “cafezinho, bem nordestino”, junto com o beiju, uma combinação simples, mas carregada de afeto e significado.
Enraizado no interior e fincado em Teresina, o beiju de farinhada da Casa do Beiju reflete a confluência de tradição, memória e sabor. Trata-se de uma produção artesanal que escancara o valor simbólico da mandioca, raiz que sustenta a cultura e que encontra, na prática da farinhada, um momento coletivo de resistência cultural. Como apontam pesquisadores, a farinha se constitui em um bem da cultura imaterial.
Além de alimentar paladares locais e visitantes, a gastronomia local de Teresina consolida sua importância econômica e identitária. Sabores como bolo frito, panelada e beiju atravessam gerações e seguem marcando presença no dia a dia da população.
Para quem visita ou mora em Teresina e ainda não conhece a Casa do Beiju, o local funciona a partir das 14 horas, quando começam as vendas, e permanece aberto até a noite, entre as 21 e 22 horas. Aqueles que forem à Casa podem aproveitar para conferir o ritual de preparo, sentir o cheiro da mandioca, degustar o beiju ainda quente e tomar aquele cafezinho. Numa capital que se moderniza cada vez mais, a Casa do Beiju mostra que o interior do Piauí segue vivo, no prato e na memória.
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