Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook x Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Dia Mundial Sem Carro: transporte público precário e poucas ciclovias dificultam mudança de hábitos

Com mais de 294 mil automóveis em circulação, entre carros e caminhonetes, a capital piauiense ainda não oferece estrutura adequada para estimular o transporte sustentável.

22/09/2025 às 13h21

22/09/2025 às 13h21

Na Teresina da década de 1980, o cenário mais comum nas ruas era o de poucos carros e muitas bicicletas. Por serem menos acessíveis ou não tão necessários, os automóveis não costumavam tomar espaço e não eram o meio de transporte mais utilizado entre os moradores da capital. Hoje, porém, a realidade se mostra completamente diferente de mais de 40 anos atrás. No Dia Mundial Sem Carro, comemorado em 22 de setembro, um grande desafio em Teresina é trazido à tona: a dificuldade de reduzir a dependência do automóvel particular.

Embora a data tenha sido criada para incentivar o uso de meios de transporte mais sustentáveis, como bicicletas, ônibus e metrô, a conjuntura atualmente ainda está distante desse ideal. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Teresina possuía, até 2024, 294.401 automóveis, entre carros e caminhonetes registrados. O número, elevado para uma população de pouco mais de 900 mil habitantes (segundo estimativa do IBGE em 2024), evidencia a centralidade do carro na vida dos teresinenses.

Dia Mundial Sem Carro: transporte público precário e poucas ciclovias dificultam mudança de hábitos - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
Dia Mundial Sem Carro: transporte público precário e poucas ciclovias dificultam mudança de hábitos

Em paralelo, a malha cicloviária da cidade, que somava 41,86 km até 2020, cresceu para 80,46 km nos últimos cinco anos, de acordo com a Strans, com obras em avenidas como Arimatéia Santos, Aluísio Sampaio, Padre Humberto e Celso Pinheiro. Ainda assim, a expansão é insuficiente diante da necessidade de uma rede estrutural estimada em 135,69 km, nunca executada.

Por que o carro segue sendo indispensável?

Nas paradas de ônibus e nas estações de metrô, o discurso da falta de eficiência no transporte público se repete. A Fátima Alves, aposentada que depende do carro do filho para ir a consultas médicas, afirma que o automóvel ainda é o meio de transporte mais viável. “Para mim é muito difícil caminhar até a parada de ônibus ou a estação de metrô. O ônibus demora, é lotado e o calor castiga”, diz.

A nora de Fátima, Elisângela Rodrigues, diz que, mesmo sua filha utilizando o metrô para ir ao trabalho todos os dias, elas ainda precisam depender de outro meio de transporte, pois apenas o público não é suficiente. “A gente mora no bairro Todos os Santos (zona Sudeste) e trabalhamos no Centro. Minha filha até usa o metrô, mas o horário é ruim. Muitas vezes, eu preciso levar ela de moto até a estação, porque é longe e não dá para ir a pé”, conta.

Para muitos teresinenses, o metrô é uma alternativa de transporte, principalmente por ser gratuita - (Assis Fernandees/O Dia) Assis Fernandees/O Dia
Para muitos teresinenses, o metrô é uma alternativa de transporte, principalmente por ser gratuita

O casal de aposentados Graça Martins e Francisco de Assis, que moram na Vila Bandeirantes, zona Leste da capital, não tem carro próprio e precisam utilizar o transporte público para, por exemplo, ir a consultas médicas no Centro da cidade. Eles também reclamam da rotina desgastante de quem é usuário do transporte coletivo.

“Para vir a uma consulta, precisamos pegar quatro ônibus, dois para vir e dois para voltar. Quando eu trabalhava, era todo dia assim. Hoje, o ônibus é cheio, inseguro e cansativo”, diz Graça. Ela ainda acrescenta que sua vida seria “bem mais fácil” se tivesse carro próprio, apesar de o trânsito da cidade ser um ponto muito negativo.

Já os taxistas, profissionais que trabalham diretamente com o uso do carro, enxergam o Dia Mundial Sem Carro com certo distanciamento. Para eles, a falta de alternativas estruturais faz com que o automóvel seja indispensável. Erivelton Carvalho é taxista há quase 30 anos reforça que, enquanto a cidade não evoluir, a carro continuará sendo a solução para o deslocamento da sociedade.

Para o taxista Erivelton Carvalho, enquanto a cidade não evoluir, a carro continuará sendo a solução para o deslocamento da sociedade. - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
Para o taxista Erivelton Carvalho, enquanto a cidade não evoluir, a carro continuará sendo a solução para o deslocamento da sociedade.

“Aqui não tem metrô que cubra a cidade inteira e o sistema de funciona bem. Enquanto isso não mudar, o carro vai continuar sendo a solução”. Erivelton também destaca que a chegada dos aplicativos de transporte reduziu ainda mais o uso do ônibus. “A população abraçou o transporte por aplicativo, por exemplo, porque é mais confortável e rápido. Em Teresina, o ônibus perdeu espaço e não vai recuperar enquanto o serviço continuar ruim. Para mim, é um retrocesso”, afirma o taxista.

Especialista em mobilidade urbana defendem que o Dia Mundial Sem Carro deve ser mais que um gesto simbólico. É preciso repensar a infraestrutura da cidade para dar condições reais de mudança e possibilitar que a população posso depender do transporte alternativo, como bicicletas, ônibus e metrô. Na capital piauiense, além do déficit no transporte público, o calor intenso e a insegurança nas vias também desestimulam o uso da bicicleta.

Apesar dos tímidos avanços na malha cicloviária, a rede ainda está longe do que seria necessário para oferecer segurança e conforto ao ciclista. A ausência de corredores exclusivos de ônibus e a cobertura limitada do metrô também reforçam a dependência do uso do carro particular.

Na capital piauiense, além do déficit no transporte público, o calor intenso e a insegurança nas vias também desestimulam o uso da bicicleta. - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
Na capital piauiense, além do déficit no transporte público, o calor intenso e a insegurança nas vias também desestimulam o uso da bicicleta.

Enquanto em capitais como São Paulo e Fortaleza, o Dia Mundial Sem Carro mobiliza campanhas educativas e ações de estímulo ao uso do transporte coletivo e sustentável, em Teresina a data serve mais como alerta para um problema crônico. A falta de políticas públicas consistentes para o avanço da mobilidade urbana desestimula a sociedade para a diminuição do uso de automóveis pessoais.

Para quem precisa passar horas esperando ou dentro de ônibus lotados, ou precisa recorrer ao diariamente ao carro individual, a sensação é de que a capital ainda tem um longo caminho a percorrer até tornar o transporte sustentável uma realidade possível. Até lá, o carro segue sendo mais que um meio de locomoção: é, para muitos, uma necessidade inescapável.


Você quer estar por dentro de todas as novidades do Piauí, do Brasil e do mundo? Siga o Instagram do Sistema O Dia e entre no nosso canal do WhatsApp se mantenha atualizado com as últimas notícias. Siga, curta e acompanhe o líder de credibilidade também na internet.

Com edição de Isabela Lopes