O atual cenário econômico global é marcado por uma convergência de riscos que apontam para uma crise iminente. De um lado, uma bolha especulativa no setor de Inteligência Artificial (IA), no mercado de ações dos EUA; de outro, um problema estrutural de dívida global insustentável. A união desses fatores suscita previsões de uma enorme crise financeira nos EUA, com consequências para a economia real em todo o mundo
O epicentro da Crise seria uma bolha da IA. O crescimento astronômico do preço das ações das gigantes da tecnologia, as chamadas Sete Magníficas, impulsionadas pela aposta massiva nas promessas da IA, lembram os picos vistos durante a bolha Dot-com. No entanto, esta euforia tecnológica é sustentada por alicerces frágeis.
Para sustentar o boom da IA é necessária uma massiva inversão de capital de longo prazo, na construção da infraestrutura de computação acelerada, requerida para impulsionar os modelos de aprendizado de máquinas; e na geração da energia elétrica demandada para alimentar tal infraestrutura. A maioria das empresas dedicadas puramente à IA não registram resultados financeiros que sejam compatíveis com o investimento massivo de capital exigido por suas atividades no momento atual. Para uma remuneração mínima de 10% do capital necessário, o setor de AI precisaria de um faturamento anual de US$ 650bi, quando empresas como a OpenAI, um dos pilares do seguimento, fatura apenas US$ 13bi e opera com prejuízo.
O que determina a valorização das ações das empresas do setor de IA é a perspectiva de receitas futuras, mas muitos especialistas consideram excessivamente otimistas e arriscadas as expectativas de receitas adotadas pelo mercado, na fase inicial da nova tecnologia, apontando para um movimento especulativo que segue o padrão clássico de uma bolha, marcado por ingredientes como a incerteza sobre a monetização do modelo de negócio; a dependência de um único produto para o sucesso do business; a fascinação gerada pela “nova tecnologia”; e a presença de investidores inexperientes no mercado.
Dados do mercado norte-americano divulgados pela Census Bureau, em 20/11/25, revelam que a parcela de americanos que usa IA no trabalho caiu em um ponto percentual, situando-se em 11%. A queda foi mais acentuada nas grandes empresas (com mais de 250 funcionários). Outras pesquisas (de junho a agosto de 2024 e início de 2025) confirmam que, embora os níveis de adoção possam ser superiores a 10%, o crescimento no uso corporativo está desacelerando após um aumento inicial, levando a um patamar de estagnação.
Há uma grande disparidade no uso da tecnologia dentro das empresas: enquanto 87% dos executivos usam IA no trabalho, apenas 57% dos gerentes e 27% dos funcionários o fazem. Isso sugere que as iniciativas de IA podem ser impulsionadas pela alta gestão, mas estão sendo pouco implementadas ou descontinuadas silenciosamente pelos gerentes intermediários, talvez com o intuito de preservar seus empregos. A velocidade da adoção da IA nas empresas é o dado mais importante para determinar se as expectativas de receita futura do setor estão superestimadas e se o mundo está diante de uma bolha de IA.
Os sinais de alerta são concretos, incluindo anomalias financeiras em balanços de empresas líderes, como baixa conversão de caixa, que ocorre quando o lucro reportado nos balanços das empresas não se traduzem em dinheiro, mas em contas a receber, por exemplo, levantando dúvidas sobre a capacidade das empresas de gerar a liquidez necessária para manter suas operações.
O quadro é agravado pela utilização em larga escala do mecanismo de Financiamento Circular (Circular Deals), em que grandes empresas de tecnologia financiam umas às outras, gerando receitas que não correspondem a lucros reais ou demanda de mercado efetiva. Empresas como NVIDIA, Microsoft, Oracle, Amazon e Google investem bilhões em startups de IA, como Open AI, XAI e Anthropic. Em troca, essas startups assumem compromissos massivos de compra de chips ou aluguel de serviços, como cloud computing, fornecidos por empresas como a Azure, OCI, AWS, Google Cloud, etc.). Assim, o dinheiro circula entre os mesmos atores. A NVIDIA, por exemplo, registra os compromissos de compra como receita, mas o dinheiro real (caixa) não acompanha, pois uma grande parte das compras é financiada pelos próprios investimentos da empresa nas startups ou por dívidas (vendas a prazo feitas às mesmas startups). Estima-se que existam mais de US$ 610 bilhões em compromissos cruzados entre empresas do setor.
Esse mecanismo inflaciona o preço das ações das empresas envolvidas, devido aos resultados artificialmente registrados em seus balanços, e aumenta a valorização das startups,
pela demanda massiva por suas ações, apesar das mesmas registrarem prejuízos operacionais bilionários, como a Open AI, gerando valorizações desconectadas da realidade econômica das empresas.
A certeza de que uma correção no valor das ações está a caminho é reforçada pelo comportamento sincronizado de três das maiores lendas de Wall Street: Warren Buffett, que reduziu sua exposição ao risco, desfazendo-se de ações para acumular uma montanha recorde de dinheiro em caixa, à espera de um crash para adquirir ativos a preços de liquidação; Michael Burry, famoso por prever o colapso das subprimes em 2008, que assume posições vendidas maciças contra gigantes da tecnologia e da IA; e Ray Dalio, que critica abertamente o Federal Reserve (Fed) pelo afrouxamento monetário em meio à bolha, prevendo que a crise explodirá entre o segundo trimestre de 2026 e o início de 2027, quando o FED for forçado a reverter sua política.
Especialistas preveem um impacto enorme na economia real, pois as ações representam 21% da riqueza das famílias norte-americanas e a exposição de estrangeiros ao mercado acionário americano é da ordem de US$ 18 trilhões. Uma perda significativa de tais riquezas implicaria uma retração no consumo, levando os EUA a uma recessão, o que repercutiria no resto do mundo, pois a redução da demanda americana afetaria os demais países, em especial os da Europa e a China, agravando a crise fiscal e o endividamento global, que já registra níveis críticos.
A queda na demanda norte-americana aumentaria o excedente da produção manufatureira da China, acirrando a inundação dos mercados globais pelos produtos chineses, o que levará à intensificação das medidas protecionistas, que já afetam o comércio internacional.
Em tal cenário, o FED seria obrigado a intervir para mitigar a recessão causada pela queda dos mercados acionários, mas não poderá eliminá-la. A desaceleração econômica resultante do crash acionário agravará diretamente as finanças públicas já combalidas de muitos países.
O mundo é capaz de prever um crash no mercado de ações americano, mas não será capaz de evitar as consequências de tal evento.
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