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Prainha, o litoral dos teresinenses

No Rio Parnaíba, formava-se um imenso banco de areia em frente ao Centro Administrativo onde a população se reunia para apreciar o pôr-do-sol, conversar e curtir atrações culturais.

21/07/2024 às 10h14

22/07/2024 às 09h49

A Prainha foi um importante ponto de lazer para a população teresinense na década de 1980. Localizado em frente ao Centro Administrativo, o espaço contava com quiosques e uma estrutura muito similar a que é vista no litoral piauiense. No Rio Parnaíba, formava-se um imenso banco de areia, comumente utilizado para a prática esportiva. Já nas barracas, a população se reunia para apreciar o pôr-do-sol, conversar e curtir atrações culturais.

Prainha, o litoral dos teresinenses. - (Arquivo / Vôlei Bar) Arquivo / Vôlei Bar
Prainha, o litoral dos teresinenses.

O professor e historiador Ricardo Arraes lembra que as coroas do Rio Parnaíba funcionavam como ponto de encontro para as pessoas que não tinham recursos para frequentar os clubes sociais. Com o tempo, o local passou a ser frequentado por grupos da elite cultural, que trabalhavam com teatro, música e com as artes.

“Um bar se destacava, era o Vôlei Bar, onde as pessoas podiam jogar, comer e beber. Esse espaço ainda resistiu por um tempo, era lá que eles faziam música, peça e era o lazer deles. Foi o auge das coroas. Em meados dos anos de 1980, estourou um movimento autônomo, próximo ao Centro Administrativo. As pessoas começaram a montar barracas e iam para lá comer, beber cerveja e se divertir à noite. Isso durou seis meses, até que o governo interferiu e passou a padronizar e limitar o número de barracas, regulando o funcionamento e isso gerou uma decadência. Pouco anos depois, as pessoas foram abandonando e procurando outros espaços”, cita.

Prainha, o litoral dos teresinenses - (Reprodução/Theresina do Passado) Reprodução/Theresina do Passado
Prainha, o litoral dos teresinenses

Acy Campelo, escritor e teatrólogo, era um dos frequentadores do espaço. Ele lembra que a Prainha era um ponto de encontro para aqueles que queriam se divertir e conversar com os amigos em um espaço agradável. Era comum ter a presença de muitos jovens e artistas.

“No final dos anos 70 e início dos anos 80, o maior divertimento que nós jovens tínhamos eram as coroas do rio Parnaíba, que ia desde o Troca-Troca até à Cepisa [atual Equatorial]. Esse percurso era fantástico. Durante a semana, íamos no final da tarde e ficávamos até às 19h. A Prainha nasce no início dos anos de 1980, urbanizada, com barracas e, de certa forma, as pessoas acabaram migrando para lá. Ela surgiu para ser um ponto turístico, com shows, e nas coroas eram realizados campeonatos de futebol”, relembra.

Jornalistas, contistas, poetas e artistas da época costumavam se reunir na Prainha para comentar o cenário cultural da cidade. Foi lá também que surgiram muitos conjuntos musicais, como os Seis Maranhenses, e a primeira edição dos Folguedos, com apresentações como tambor de criolo, quadrilha e capoeira. Um trágico episódio marcou o local, fazendo com que os frequentadores da Prainha fossem se afastando do espaço.

Coroas do Rio Parnaíba funcionavam como ponto de encontro para as pessoas que não tinham recursos para frequentar os clubes sociais. - (Arquivo / Vôlei Bar) Arquivo / Vôlei Bar
Coroas do Rio Parnaíba funcionavam como ponto de encontro para as pessoas que não tinham recursos para frequentar os clubes sociais.

Após a morte do Assis Davis [músico], o local começou a declinar. Foi quando começamos a nos afastar, porque foi uma violência incrível e que ninguém entendeu, afastando muitas pessoas do local”

Acy CampeloEscritor e Teatrólogo

O professor Chicão também lembra da Prainha como um importante espaço de lazer, na época, e de como o fechamento representou uma perda significativa para a cidade, já que tratava-se de uma opção de entretenimento gratuito para a população. “No final de semana era bem movimentado, todo mundo se conhecia, conversava, mas acabou. Não sei onde vamos parar com tudo se perdendo, sem atividades de lazer”, finaliza professor Chicão.

Chicão, hoje professor de natação do Círculo Militar, também lembra da Prainha  como um importante espaço de lazer - (Assis Fernandes / O Dia) Assis Fernandes / O Dia
Chicão, hoje professor de natação do Círculo Militar, também lembra da Prainha como um importante espaço de lazer

Potencialidade turística não é explorada

Apesar de Teresina não ser uma cidade litorânea, a capital piauiense se destaca por uma peculiaridade: é banhada por dois rios, o Poti e o Parnaíba, que eram comumente utilizados pela população para entretenimento e lazer. Por décadas, as águas propícias para banho proporcionavam manhãs de diversão aos teresinenses, mas isso foi se perdendo ao longo dos anos e, hoje, essa importante potencialidade fluvial quase não é aproveitada.

Potencialidade fluvial dos rios Poti e Parnaíba quase não é aproveitada - (Assis Fernandes / O Dia) Assis Fernandes / O Dia
Potencialidade fluvial dos rios Poti e Parnaíba quase não é aproveitada

“Teresina é banhada por dois rios e a gente não aproveita isso, eles são pouco explorados para eventos náuticos, por exemplo. Antigamente, as pessoas iam para as coroas do rio, tinha voleibol, atrações, mas isso se perdeu. Talvez se houvesse investimento, com apoio do Corpo de Bombeiros para dar segurança, o rio voltasse a ser explorado. Ele tem muito potencial, é de graça e as pessoas iam gostam. A cidade hoje está praticamente concretada, os clubes sociais praticamente não existem mais, então a solução seria investir no turismo rural e na gastronomia, por exemplo”, comenta Jorge Leite, presidente da Associação Brasileira dos Agentes de Viagem (ABAV-PI).

Jorge Leite, presidente da ABAV-PI - (Jailson Soares / O DIA) Jailson Soares / O DIA
Jorge Leite, presidente da ABAV-PI

O presidente da ABAV-PI reforça que Teresina tem inúmeras potencialidades turísticas, mas poucas são de fato exploradas, dando a sensação de que a capital não tem opções de lazer e entretenimento. Entretanto, ele enaltece que a cidade é rica em curiosidades culturais, gastronômicas, ambientais, entre outras.

Teresina é a única capital que tem uma floresta fóssil em plena zona urbana, mas que é pouco explorada. Se fizesse um parque florestal ali seria maravilhoso, mas o poder público precisa fazer sua parte. Já a Praça da Bandeira é o marco central da nossa cidade, com uma praça bastante ampla, tem o Teatro de Arena, onde as pessoas poderiam fazer apresentações culturais, e isso poderia ser aproveitado

Jorge LeitePresidente - ABAV-PI
Floresta Fóssil - (Jailson Soares/O Dia) Jailson Soares/O Dia
Floresta Fóssil

Jorge Leite comenta que o investimento do poder público é essencial para que esses espaços prosperem e se tornem referência no turismo, a exemplo do Bioparque do Zoobotânico, que passou a integrar uma parceria público-privada (PPP), melhorando a estrutura do local e tornando-se mais atrativo para visitação. Recentemente, foi criada a Rota dos Sítios, valorizando o turismo rural.

“Há pouco mais de um ano foi criada a Rota dos Sítios, enaltecendo o turismo rural. Os empreendedores demonstraram interesse, mas falta uma divulgação maior. A proposta era que, ao chegar em Teresina, o turista seria informado da existência do passeio, onde ele contrataria o serviço para visitar algum desses espaços. A proposta era que um ônibus passasse nos hoteis e pegasse as pessoas que compraram o pacote e levassem esses turistas ao destino desejado e, no final da tarde, deixaria eles em seus hoteis. Essa logística também serviria para o teresinense que não tem transporte, mas gostaria de conhecer essa Rota”, explica. 

A professora de Turismo da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), Andréia Magalhães, também reforça as inúmeras potencialidades turísticas de Teresina, enfatizando que elas não são utilizadas como deveriam devido à falta de estratégia, de gestão pública e da própria sensação de pertencimento dos teresinenses.

Vista aérea de Teresina - (Arquivo O Dia) Arquivo O Dia
Vista aérea de Teresina

“Essa potencialidade turística vai se esvaziando, porque não é vivenciada como deveria, mas temos muito potencial turístico. O próprio teresinense tem uma baixa autoestima, de não ter aflorado esse sentimento de pertencimento. A capital basicamente tem o turismo de saúde, mas essa é uma questão delicada, pois essa pessoa está vindo tratar da saúde, e o turismo de negócio, cuja ocupação média dos hotéis ocorre ao longo da semana e aos finais de semana é esvaziado. Assim, não são realizadas tantas atividades e estratégias para atração do turista, então, vejo isso como uma perda de oportunidades, pois temos atrativos, mas eles precisam ser preparados, vendidos e divulgados”, explica.

Segundo Andréia Magalhães, há pouco investimento governamental nesses locais de interesse turístico, ou seja, que existe potencialidade turística. Nesses locais deveriam ser aplicadas estratégias de marketing, especialmente o “boca a boca”. Além disso, para que haja o crescimento da atividade turística é preciso adotar medidas que combatam a depredação, tanto no aspecto material como imaterial, de modo a evitar o declínio do ciclo de vida desses espaços. "O turismo é um fenômeno que se repercute na particularidade de cada indivíduo", destaca a professora.

Esta reportagem sobre a Prainha faz parte do especial "Teresina 40°, uma capital solar com pouco lazer aquático" da edição de fim de semana do Jornal O Dia. Clique aqui para conferir a matéria na íntegra.


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