O paleontólogo Henrique Zimmermann identificou, ao passar pelas ruas do bairro Cidade Nova, zona Sul de Teresina, uma via com calçamento que seria feito com fósseis de troncos de árvores do Período Permiano, datados de cerca de 280 milhões de anos. Ao notar a presença das formações, o pesquisador levantou o questionamento sobre a necessidade de preservação do material, já que a capital está situada sobre uma área de floresta fóssil.
“A cidade de Teresina foi construída em cima de uma floresta petrificada. Os troncos fósseis foram e ainda são usados como material de construção, pois são blocos fáceis de achar pelo terreno, com bom tamanho e resistência favorável para construção de calçamento de ruas e fundações de casas”, disse o paleontólogo.
Carregando publicação do Instagram... Clique para ver a publicação
Por outro lado, o professor da UFPI, Juan Carlos Cisneros, doutor em paleontologia e pesquisador da Floresta Fóssil de Teresina, refutou Zimmermann, afirmando que os fósseis encontrados não são troncos de árvores do Período Permiano, mas oólitos, um tipo de microbialito. Segundo ele, trata-se de um fóssil comum, comparável ao cimento e calcário, também formados por restos fossilizados, descartando a hipótese de árvores com mais de 280 milhões de anos.
“Eles, sim, são fósseis, só que é algo que ocorre em números astronômicos, que não é algo que seja de preocupação para a ciência, para a conservação do patrimônio. Se a gente parar para pensar, até o cimento que a gente usa na construção é feito de fósseis microscópicos também. O cimento é calcário, e o calcário é feito com pedacinhos microscópicos de conchas, de organismos microscópicos”, disse, comparando o oólito também ao petróleo e ao carvão mineral.
O professor afirmou já ter encontrado fragmentos de madeira petrificada em calçamentos, mas considera algo extremamente raro, “uma em um milhão”. Para ele, não há motivo de alarde sobre o uso das pedras conhecidas popularmente como “cabeça de jacaré”, muito comuns na região.
LEIA TAMBÉM
Juan acrescenta que é possível identificar fósseis de madeira pela presença de anéis de crescimento, estrutura característica preservada mesmo após a petrificação. “Se você observar um banquinho de madeira, ela tem anéis. Todo mundo percebe que a madeira possui anéis, é uma coisa característica da madeira. A madeira, quando está petrificada, continua tendo anéis também. Então, isso que ele está mostrando na foto não parece nada com madeira”, disse.
Floresta Fóssil de Teresina
O parque, situado às margens do Rio Poti, abriga fósseis de árvores petrificadas do Período Permiano da Era Paleozóica, datados de 290 a 270 milhões de anos atrás. Descoberto em 1909 pelo geólogo Miguel Arrojado Lisboa, o local só foi transformado em parque na década de 1990. Recentemente, após a morte da arqueóloga Niéde Guidon, o espaço foi renomeado em sua homenagem.
Localizado próximo às avenidas Raul Lopes e Marechal Castelo Branco, o parque passou por obras de revitalização, atualmente paralisadas. Pesquisadores denunciam o mau uso da área, que sofre com fogueiras, degradação da vegetação nativa, esgoto a céu aberto e lixo, fatores que deterioram os fósseis e comprometem sua preservação.
Você quer estar por dentro de todas as novidades do Piauí, do Brasil e do mundo? Siga o Instagram do Sistema O Dia e entre no nosso canal do WhatsApp se mantenha atualizado com as últimas notícias. Siga, curta e acompanhe o líder de credibilidade também na internet.