Foi somente nos anos 1990 que o Clube dos Diários passou a ser oficialmente incorporado ao Complexo Cultural do Theatro 4 de Setembro, sob tutela do Governo do Estado. Ganhou, então, uma nova função - a de abrigar espaços artísticos e expositivos. O clube faz parte da Galeria Nonato Oliveira, que homenageia o artista plástico piauiense e também contém o Cine Teatro Torquato Neto, ambos construídos na década de 1990, como parte do esforço para reocupar o centro da cidade.
A retomada definitiva veio apenas em 2016, quando o prédio foi restaurado integralmente. “Foi um processo de restauração, não de reforma”, frisa João Vasconcelos. “Preservamos o telhado original, as colunas, a estrutura. Mas modernizamos os espaços internos, a parte elétrica, os pisos. O objetivo era devolver a identidade e a dignidade ao prédio”, diz. A reabertura devolveu também à população o acesso a um dos patrimônios mais emblemáticos da capital piauiense.
Desde então, o Clube dos Diários transformou-se em um polo de cultura viva, com programação diversa e acessível. A galeria recebe exposições de artistas locais e nacionais, como a recente mostra de Afrânio Castelo Branco, com curadoria de Pablo Vasconcelos, e a exposição internacional “Lendo e Escrevendo com Anne Frank”, realizada em parceria com o Consulado dos Países Baixos. “A galeria funciona como espaço alternativo, acolhendo produções que o teatro principal não comporta, por exemplo, performances, lançamentos de livros e espetáculos intimista”, explica o diretor.
Entre as atividades fixas, está o Baile da Melhor idade, realizado mensalmente em parceria com uma produtora cultural. O evento resgata o espírito dos antigos bailes dos Diários, agora de forma inclusiva e popular. “Eles chegam cedo, dançam até as 11 horas da noite. É bonito de se ver, como se a história voltasse a pulsar aqui dentro”, diz João.
Outra iniciativa que mantém o Clube em plena efervescência é o projeto Boca da Noite, um dos mais tradicionais da cena cultural piauiense. Criado pela Secult, o projeto oferece apresentações semanais de música ao vivo, sempre às quartas-feiras, com artistas locais de diferentes estilos, do samba ao rock ao MPB ao regional.
Com entrada gratuita, o Boca da Noite já se tornou ponto de encontro entre gerações, democratizando o acesso à música e incentivando a produção autoral piauiense. “O Boca é uma das vitrines da cultura do Piauí. É um espaço onde o público encontra artistas da terra e descobre novos talentos. E o Clube dos Diários é o palco ideal para isso”, destaca João Vasconcelos.
O espaço também abriga grandes festivais do calendário cultural piauiense, como o Confluências de Teatro, o Junta Festival de Dança, a Semana Nacional de Teatro e o FestLuso, festival de dramaturgia em língua portuguesa. A maioria das atividades é gratuita, fruto de políticas de incentivo cultural da Secult. “É impressionante como há eventos gratuitos em Teresina, mas ainda existe o mito de que aqui ‘não tem cultura’”, observa o diretor. “Tem muita coisa boa acontecendo e o Clube é uma das provas disso”.
Vasconcelos destaca ainda que o projeto “Tour da Memória”, iniciativa de educação patrimonial que leva grupos em visitas guiadas pelo centro de Teresina. “O metrô leva os visitantes gratuitamente para um passeio pela história. Passam pelo Museu, pelo Teatro, pela Galeria, pelo Clube dos Diários. É uma forma de mostrar que esse patrimônio é vivo e nosso. Porque ninguém preserva o que não conhece”, conta.
Encontro de passado, presente e futuro
Esse processo de resgate e reocupação tem atraído também um novo público. Jovens artistas, estudantes, grupos independentes e coletivos culturais passaram a usar o espaço para ensaios, apresentações e encontros. “Essa juventude é o combustível que mantém o centro vivo. O centro histórico só se revitaliza com gente e a cultura é o que puxa esse movimento. É o que dá sentido à cidade”, defende o diretor.
Com 93 anos de existência, o Clube dos Diários é, hoje, uma síntese do percurso cultural de Teresina, da ostentação à inclusão, da ruína à reconstrução. Suas paredes guardam memórias de gerações, mas também refletem a cidade em transformação.
“Recuperar um prédio como esse não é apenas um ato de preservação arquitetônica. É um ato de resistência cultural”, resume João Vasconcelos. “O Clube dos Diários faz parte da nossa memória coletiva. E a melhor forma de mantê-lo vivo é ocupando-o, enchendo de gente e de arte”.
O antigo salão dos bailes de gala agora recebe passos de forró e risadas de idosos. O palco das tertúlias elitizadas hoje abriga jovens dançarinos, músicos e atores. O que antes era símbolo de distinção, agora é um ponto de encontro democrático. Assim, o Clube dos Diários reafirma o seu papel, não apenas de edifício histórico, mas de coração da cultura teresinense, sendo um espaço onde o passado e futuro se encontram à luz da arte e da vida.
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