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Em um terreno que antes era sua casa, cercado por muros pintados à mão e latidos que se misturam a miados, os trabalhos começam cedo para Fernando Machado, proprietário do Lar do Nando, um abrigo de animais na zona Norte de Teresina. Há 15 anos, ele e a esposa transformaram o próprio lar em um lar para cães e gatos abandonados, contando atualmente com cerca de 600 animais resgatados, incluindo jumentos.
“No começo eram só alguns, depois encheram a minha casa e a da minha sogra também. Tivemos que sair e procurar outro local para morar”, lembra Nando. O que nasceu do amor pelos animais, se tornou uma missão de vida, com uma grande estrutura que inclui a sede do Lar, no bairro Santa Maria da Codipi – que também possui uma clínica veterinária, uma propriedade na zona rural de José de Freitas, além do primeiro Samu animal do Piauí.
“Temos, aproximadamente, 350 cães, 200 gatos e 20 jumentos. A maioria chegou em situação crítica, atropelados, doentes ou vítimas de maus-tratos”, relata. Parte dos animais vive no abrigo da zona urbana e outros na zona rural, no Recanto dos Animais Lar do Nando, para onde são enviados após passarem por tratamento, caso não sejam adotados.
Atualmente, o abrigo tem cerca de 15 funcionários fixos, entre veterinários, cuidadores e pessoas que cuidam da limpeza e manutenção da área. “Também contamos com diaristas e voluntários. Mas o voluntário vem quando pode, no dia e no horário que der. O trabalho aqui continua sendo todo dia, não para”, explica Fernando.
Os custos, assim como a rotina de cuidados com os animais, são pesados. “Nossa despesa mensal fica entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. Só para ração, são cinco toneladas por mês, fora medicamentos e exames. Muita coisa é doada, mas apenas isso não supre a demanda”, diz o proprietário do Lar.
Ainda assim, sem apoio do poder público, o abrigo sobrevive também com o apoio e a solidariedade da população. “Não temos nenhum tipo de ajuda do poder público, só recebemos ajuda das pessoas que conhecem nosso trabalho”, afirma. Parcerias com comércios, por exemplo, e os lucros da clínica veterinária ajudam a manter os cuidados, as castrações e os atendimentos gratuitos.
A clínica veterinária divide espaço no terreno em que ficam os abrigos e baias dos cães gatos, contando com laboratório e centro cirúrgico próprios, onde são realizados atendimentos e procedimentos. “No início, a clínica era apenas para os animais do abrigo, para diminuir despesas com clínicas de fora. Mas, hoje, também atendemos a comunidade, inclusive com castração gratuita. Só este ano, fizemos quase 500”, conta ele.
Vida dedicada a proteger
Em meio a vários desafios, como dívidas que se acumulam e despesas muito altas, o que move Fernando a continuar como protetor animal é, segundo ele, o amor. “A prioridade são os animais. Sempre gostei deles, desde criança. Quando encontrei alguém que gosta da causa como eu e casei, começamos a cuidar dos animais e nunca mais paramos”, revela.
Nando relembra um dos resgates mais marcantes, de um animal que ainda está em tratamento no Lar. “Um cachorro chegou todo machucado, atropelado por um caminhão, em José de Freitas, e perdeu massa encefálica. Uma outra clínica indicou eutanásia, mas nós decidimos ajudar. Hoje, ele já reage, se arrasta, abre os olhos. Ele tem sequelas, mas voltou à vida. Casos assim são a maior recompensa”, diz.
Para aqueles que têm a oportunidade de conhecer o abrigo, é claro que o local é formado de histórias assim, com dor, renascimento e superação. Cães que voltam a correr, gatos que ganham uma segunda chance, jumentos salvos dos maus-tratos. Em cada espaço, há um olhar animal que agradece o cuidado silenciosamente. “As pessoas pensam que eu pego o animal da rua e jogo em um quintal. Mas, quando conhecem a estrutura, mudam o olhar”, afirma.
O Lar conta com uma área exclusiva para gatos, com cerca de 200 felinos, nomeado de “Gatolândia”, contando até mesmo com um playground para os animais. Segundo Fernando, o objetivo é expandir ainda mais o abrigo, que antes tomava o espaço de uma residência e, atualmente, já cresceu para quatro.
Apesar da constante vontade de evoluir e aumentar o local, o proprietário assume que o cansaço, às vezes, pesa. “Não é um trabalho que você consegue fazer se não tiver paixão. É uma empresa de vidas, não produtos. A gente tem contas, paga imposto, tem funcionários, mas o lucro real é ver um animal que chegou acabado voltar a sorrir. Isso é o que paga”, reconhece ele.
Em Teresina, dezenas de protetores independentes e abrigos seguem a mesma luta, silenciosa, constante e guiada pelo amor por animais. Alguns, como a Associação Piauiense de Proteção e Amor aos Animais (Apipa), acolhem centenas de cães e gatos e também precisam de doações. Outros atuam sozinhos, resgatando, tratando e buscando lares responsáveis. Todos têm em comum o desejo de um futuro mais digno para os animais.
Enquanto não conta com o apoio público, são pessoas como Fernando Machado que sustentam, com esforço e afeto, a causa da proteção aos animais em Teresina. No final do dia, quando o pátio do Lar do Nando silencia (mesmo que apenas por alguns minutos) e os animais adormecem, ele resume o sentido do trabalho. “É muito bom ver um bicho que já tinha desistido da vida voltar a ter brilho nos olhos. Isso é o que nos mantém de pé”, conclui.
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