Quem é de Teresina ou já visitou o centro da cidade certamente já ouviu falar da Banca do Joel, a mais tradicional banca de revistas e jornais da capital. Muito popular nas décadas de 1980 e 1990, o espaço marcou gerações e tornou-se um até ponto de referência para encontros de grupos.

Natural de Parnaíba, litoral do Piauí, Joel Meneses da Costa (73) veio para Teresina, com apenas seis anos, juntamente com sua irmã e sua mãe. Na capital, para sustentar os filhos, a mãe de Joel começou a trabalhar como lavadeira. Para complementar a renda familiar, o garoto passou a vender produtos no meio da rua, próximo ao mercado central.
Aos 14 anos, Joel comprou uma banca de ferro usada e começou a vender revistas usadas no centro da cidade. A banca que leva seu nome surgiu em meados da década de 1970 e ficava localizada na Avenida Antonino Freire, embaixo de uma figueira. Pouco depois, o complexo cultural da Praça Pedro II passou por uma reforma, conectando a praça com as calçadas do Cine Rex e do Theatro 4 de Setembro, e a banca do Joel migrou para o local. Durante a realização do ofício, Joel percebeu que poderia tirar seu sustento dessa venda e passou a investir no negócio.
No começo eu até duvidava se conseguiria fazer desse trabalho uma forma de sustento da minha família, pois eu não tinha uma venda grande e que rendesse bem. Nessa época, a editora Abril Cultura dominou o país com diversos produtos, e um representante da empresa veio para Teresina, e o grupo me vendeu uma banca da editora. Levei mais de 24 meses para quitar esse débito, e vendia de tudo, desde gibi a revistas, mas eu gostava da comunicação e decidi vender outras coisas
Foi quando Joel passou a vender ingressos de shows e eventos. Nos anos 70 surgiu a primeira emissora de TV do Piauí e, para divulgar as atrações musicais que seriam apresentadas nos programas de televisão, a emissora contava com o Joel, que vendia os ingressos dos shows agendados para acontecer em Teresina.
“Eu me ofereci para vender os ingressos como forma de gerar uma renda a mais para mim, inclusive, formava fila na minha banca para comprar os ingressos, e foi assim que passei a trabalhar vendendo ingressos. Vivi assim por quase 45 anos, fazendo a comunicação chegar nas pessoas”, disse.
Com a popularização de sua banca, Joel já foi representante do Jornal do Brasil, do O Globo, da Folha de S. Paulo, gerando, inclusive, mais de três mil assinaturas de teresinenses. Com o fim das assinaturas dos jornais impressos, Joel precisou se reinventar.

“Era lindo ver o cliente parando o carro em frente à banca e descer para comprar um jornal ou revista para o pai, o gibi dos filhos, a revista de moda da esposa. Três vezes por semana as pessoas compravam os jornais e aos domingos a quantidade de vendas era maior, já que não havia tanta programação na televisão aberta”, lembra.
A variedade de produtos vendidos também mudou com o tempo, dando espaço para as apostilas preparatórias de cursinhos de vestibular e concurso. O material teve uma excelente repercussão e era enviado até para outros estados vizinhos. “Fizemos crescer essa área, na época, mas não tivemos muitos lucros, pois vendíamos com preços bem acessíveis”, conta.
“Procurei a melhor forma possível de ajudar a população do meu município e de outras cidades através da leitura. Passei 45 anos trabalhando com isso e não ganhei nada, nem uma flor, mas sinto que cumpri meu dever com o povo do Piauí. Decidi sair de Teresina e vim morar em outro estado. Atualmente, resido em São Paulo, trabalho com cultura e vendo livros. Saí fisicamente do Piauí, mas nunca deixei de amar meu estado. Sinto que ajudei a construir Teresina, com muitos jornais, revistas, comunicação e expressão. A cultura é extraordinária e, quando as pessoas reconhecerem isso, nosso país crescerá muito”, ressalta.
A Banca do Joel existe até hoje, mas é administrada por outra pessoa. “Eu não alugo e nem vendo. É um patrimônio, como uma lembrança e um amuleto da minha vida, pois foi com ela que tive a minha estabilidade.

Você quer estar por dentro de todas as novidades do Piauí, do Brasil e do mundo? Siga o Instagram do Sistema O Dia e entre no nosso canal do WhatsApp se mantenha atualizado com as últimas notícias. Siga, curta e acompanhe o líder de credibilidade também na internet.