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Especialistas asseguram que autismo não impede que adultos se tornem produtivos

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico presente desde a infância

02/04/2025 às 09h12

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Neste dia 02 de abril é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) desde 2007. Em 2025, a campanha nacional traz como tema “Informação gera empatia, empatia gera respeito”, destacando a importância do conhecimento como caminho para a construção de uma sociedade mais acolhedora, com empatia e respeito às pessoas autistas.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico presente desde a infância, caracterizado por prejuízos na comunicação, socialização e padrões restritos e repetitivos de comportamentos e interesses. O diagnóstico pode ser feito em qualquer idade, porém na vida adulta torna-se mais desafiador, uma vez que muitos indivíduos aprendem a “mascarar” seus sintomas para se adequar às expectativas sociais.

O diagnóstico do autismo pode ser feito em qualquer idade, porém na vida adulta torna-se mais desafiador - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
O diagnóstico do autismo pode ser feito em qualquer idade, porém na vida adulta torna-se mais desafiador

Em alguns casos, a dificuldades para desempenhar determinada atividade ou em interpretar linguagem não verbal, a rigidez na rotina, ou sinais discretos para sentimentos como tristeza, alegria, raiva e cansaço, por exemplo, geralmente não são percebidos pelos autistas, o que pode ser visto como falta de empatia, preguiça, entre outros. Segundo a psicóloga, isso pode ocorrer devido à falta de habilidades, que não foram desenvolvidas ainda na infância.

“Ultimamente, tem sido cada vez maior o número de adultos recebendo o diagnóstico nessa fase, e isso se dá devido ao conhecimento, já que os estudos sobre autismo estão avançando. Na fase da infância, quando a criança recebe o estímulo precoce, elas são mais preparadas para a vida adulta, com mais autonomia e vida social estabelecida e independência. Antigamente, não se falava sobre o autismo porque não havia conhecimento do tema, e, isso pode causar diversos prejuízos para a vida desse adulto atualmente, tanto na vida social como familiar, prejudicando amizades, relacionamentos e a vida profissional, ficando mais complexo dela se inserir no ambiente de trabalho”, disse Elyda Veruska, psicóloga.

Se a pessoa com autismo não consegue se comunicar de forma efetiva, possivelmente, haverá dificuldades em se inserir no mercado de trabalho e ter uma vida produtiva. No autismo, existem os níveis I, II e III de suporte, cada um com suas especificidades, sendo as maiores dificuldades, na vida adulta, as que contemplam o nível I.

É na adolescência e na fase adulta que essas pessoas se sentem diferentes dos demais, pois não há características tão evidentes, como atraso de linguagem, e isso pode ser confundido com timidez ou da personalidade. Porém, com o aumento das demandas sociais, essa pessoa passa a não se sentir pertencente e acaba sofrendo bullying, e isso gera depressão, ansiedade, o que pode chegar a ser fatal

Raynara Lopesfonoaudióloga

Ao receber o diagnóstico na fase adulta, dependendo das demandas necessárias nesse paciente, deve-se buscar o apoio emocional e multiprofissional, trabalhando habilidades sociais e buscando intervenções voltadas para adultos, o que ainda é incomum de ser encontrado. O auxílio da terapia ocupacional é importante para trabalhar as habilidades do dia a dia, enquanto a psicologia auxilia na compreensão das emoções e compreensão do próprio diagnóstico, e da fonoaudiologia, que trabalha os aspectos da comunicação assertiva e como a pessoa pode se colocar.

Na terapia, é possível apresentar conflitos de estresse, no qual o profissional vai auxiliar na busca da melhor maneira para solucionar essas situações, por meio de estratégias e técnicas. A terapeuta ocupacional, Artny Vasconcelos, explica que, em muitos casos, a parte sensorial é o que mais afeta uma pessoa com autismo, causando uma desregulação e gerando alguns reflexos, como movimentar a perna em demasiado, morder o bocal da caneta, entre outros.

“Esses reflexos são estratégias que eles utilizam para se regulagem, e é na terapia ocupacional que trazemos estratégias sensoriais que ele possa usar para extravasar essas emoções e sentimentos, mas de modo socialmente aceitável, não gerando um desconforto a essa pessoa. Algumas pessoas utilizam o fidget toy, que é um brinquedo anti stress, bolinhas ou até liga embaixo da cadeira para colocar os pés. Aos que têm dificuldade em permanecer em ambientes com muito barulho, devido aos sons agudos ou excesso de pessoas falando ao mesmo tempo, pode-se utilizar os abafadores”, disse.

É importante que a pessoa com autismo faça um acompanhamento multiprofissional - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
É importante que a pessoa com autismo faça um acompanhamento multiprofissional

A fonoaudióloga Raynara Lopes comenta ainda que as pessoas com autismo têm plena capacidade física e mental para desenvolver atividades do dia a dia, desde as mais básicas, como tomar banho, a trabalhar. “As pessoas com autismo podem, sim, ser funcionais, e a sociedade e o mercado de trabalho precisam se atentar para isso. São pessoas que podem desenvolver papeis importantes e contribuir significativamente para as empresas, mas é preciso abrir os olhos e dar mais oportunidades, conhecendo as particularidades dessa pessoa para que, de fato, ela possa ser incluída”, cita.

Através da terapia ocupacional, essa pessoa consegue entender as estratégias, se organizar e até perceber quando terá uma desregulação, podendo dar uma resposta funcional às demandas do trabalho, social e familiar, explica Artny Vasconcelos.

A terapeuta ocupacional Ana Karina Monteiro enfatiza ainda que os treinos voltados para atividades de vida diária visam dar maior autonomia e independência para essa pessoa com autismo, independentemente do seu nível de suporte, que vai desde tomar banho, escovar os dentes, a pegar um transporte público. “Mesmo com todas as suas demandas, é possível que essa criança tenha sua independência e torne-se um adulto que conseguirá tomar uma medicação sozinho, de montar seu próprio prato, de conseguir um trabalho. Mas isso precisa ser trabalhado desde a infância”, concluiu.

Ambiente deve ser propício para a verdadeira inclusão

Ana Cândida Nunes Carvalho tem 41 anos é fotógrafa e assistente administrativa na Associação de Amigos dos Autistas do Piauí (Ama-PI). Há 11 anos, ela buscou ajuda psiquiátrica devido a algumas condições associadas ao autismo. À época, ela não sabia que tinha o espectro e acreditava se tratar de depressão ou fobia social. O diagnóstico veio quando aos 30 anos, pegando-a de surpresa. “Não acreditei que pudesse ser autista, principalmente porque tinha uma visão deturpada, fruto da falta de conhecimento. O laudo fala de Transtorno do Espectro do Autismo, sem deficiência intelectual. Na época eu estava em crise, apresentando constantes colapsos”, comenta.

Ana Cândida recebeu o diagnóstico de TEA aos 30 anos. - (Arquivo pessoal) Arquivo pessoal
Ana Cândida recebeu o diagnóstico de TEA aos 30 anos.

Foi necessário algum tempo até que Ana Cândida compreendesse mais sobre esse distúrbio e aceitasse seu diagnóstico. Isso foi possível, principalmente, devido à ajuda de amigos e familiares, que dão suporte na realização das atividades do dia a dia, como ir ao supermercado ou à farmácia sozinha. Segundo ela, ter autismo não a limita de viver uma vida comum.

“Vou ao trabalho sozinha, dirigindo, mas moro bem próxima à localização laboral, então dirijo pouco e sempre para lugares com os quais já tenho familiaridade com o trajeto. No trabalho, minhas amigas/colegas são essenciais para a minha qualidade de vida e desempenho cotidiano. Hoje, trabalho na Ama-PI, que é um lugar muito inclusivo. Meus colegas respeitam minhas características e adaptam o ambiente, seguindo minhas sugestões. Neste sentido, trabalho num canto tranquilo, perto do computador, fazendo atividades administrativas e ajudando em outras demandas, como auxiliar em projetos e ações com as quais posso colaborar, tendo em vista que também tenho formação em Psicologia e mestrado em Filosofia”, ressalta.

Apesar da abundância de informações sobre o autismo e seu diagnóstico, Ana Cândida considera que a sociedade não compreende as nuances do comportamento autista, como o foco de interesse restrito, às limitações de interação social, as estereotipias (maneirismos comportamentais) e comunicação demasiadamente antinormativa, ou seja, não atende aos padrões ditados socialmente.

“Dizem até que, na verdade, todo mundo é um pouco autista, o que se configura como uma grande falácia. Autismo não pode ser subjugado, nem o discurso de pessoas autistas pode ser esvaziado: há verdadeira fonte de sofrimento, porque a sociedade ainda é muito inacessível e capacitista

Ana Cândida Nunesfotógrafa e assistente administrativa na Associação de Amigos dos Autistas do Piauí (Ama-PI)
"No trabalho, minhas amigas/colegas são essenciais para a minha qualidade de vida e desempenho cotidiano", diz Ana Cândida - (Arquivo pessoal) Arquivo pessoal
"No trabalho, minhas amigas/colegas são essenciais para a minha qualidade de vida e desempenho cotidiano", diz Ana Cândida

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