No dia 10 de setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, data que ganha força no Brasil com a campanha Setembro Amarelo, criada para conscientizar a sociedade sobre a importância da saúde mental e da valorização da vida. O tema, que por muitos anos foi silenciado e considerado tabu na sociedade, hoje ocupa espaço em escolas, empresas, órgãos públicos e meios de comunicação, reforçando que falar sobre o assunto pode salvar vidas.
Segundo o Ministério da Saúde, o Piauí ocupa o segundo lugar entre os estados com maiores índices de suicídio a cada 100 mil habitantes, um dado alarmante que revela a urgência de ampliar a rede de apoio disponível para as pessoas que precisam de auxílio. Nesse cenário, tanto o trabalho voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), quanto o acompanhamento de profissionais de saúde, como psicólogos e psiquiatras, tornam-se fundamentais.
Ouvir para acolher
O CVV, fundado no Brasil na década de 1960, funciona no Piauí há 41 anos e atende milhares de ligações todos os anos. O Serviço funciona gratuitamente através do número 188, 24 horas por dia, e garante anonimato e sigilo às pessoas que buscam apoio. Eyder Mendes, voluntário do Centro há 20 anos, relata que a escuta pode ser o primeiro passo de ajuda para alguém que vive um momento de dor emocional.
“O que a gente precisa é perder o medo de ser aproximar. Perguntar ‘está tudo bem com você? ’ pode abrir espaço para uma conversa amiga. Muitas vezes, é só isso que a pessoa precisa para não se sentir sozinha”, explica o representante do CVV.
Eyder lembra ainda que existem sinais de alerta aos quais familiares e amigos podem ficar atentos, como mudanças bruscas de humor e comportamento, isolamento repentino ou a perda de interesse em atividades antes tidas como prazerosas. “Essas atitudes não devem ser ignoradas. Elas podem indicar sofrimento emocional que precisa de atenção”, diz.
O trabalho do CVV é mantido por pessoas que dedicam uma parcela do seu tempo livre a ouvir. “Atendo uma vez por semana, no turno da noite, de casa, com um computador e um fone. O CNN funciona 24 horas e precisamos de mais voluntários, especialmente para a madrugada, quando há maior demanda de ligações”, esclarece Mendes.
O trabalho de promoção da vida
Eyder Mendes conta que decidiu dedicar parte da sua vida ao acolhimento de pessoas em sofrimento após enfrentar, há cerca de três décadas, um período de depressão. “Naquele momento, procurei ajuda com um psicólogo, foi a melhor decisão que tomei. Um ano depois, já estava renovado e, desde então, quis oferecer aos outros o que não tive, que foi alguém com quem pudesse conversar e confiar”, relata.
O voluntário reforça que o tratamento psicológico e psiquiátrico é um caminho seguro para a recuperação. “Muita gente acha que não tem condições de pagar, mas o SUS oferece atendimentos gratuitos. Em Teresina, temos o Provida, que conta com psiquiatras, e os CAPS, com psicólogos. Não é preciso enfrentar esse sofrimento sozinho”, alerta.
Para a psicóloga Samila Leão, fundadora do Instituto Samila Leão, falar sobre saúde mental é falar sobre vida. Ela explica que o Setembro Amarelo não deve ser reduzido a frases prontas ou campanhas superficiais, mas sim a um esforço coletivo de acolhimento. “Nem toda ajuda, ajuda. Dizer ‘seja forte’ ou ‘você consegue’ pode aumentar o sofrimento de quem já se sente incapaz. O caminho é oferecer escuta genuína, empatia e cuidado”, afirma.
Samila reforça ainda que a saúde mental é atravessada por fatores diversos, desde traumas pessoais até pressões sociais, e que o acompanhamento profissional é indispensável. “Psicólogos, psiquiatras e outros profissionais da saúde atuam não só na prevenção, mas também na reconstrução da vida de quem enfrenta situações de intenso sofrimento. É preciso lembrar: se tem vida, tem jeito”, ressalta.
A especialista explica que os profissionais de saúde mental trabalham tanto na prevenção quanto no tratamento de pessoas em sofrimento psíquico. “O psicólogo lida diariamente com histórias marcadas por traumas, lutos, violências. Nossa função é oferecer estratégias de enfrentamento e promover qualidade de vida. E isso vale também para quem cuida, como familiares e cuidadores, que também precisa de atenção, porque podem adoecer junto”, afirma.
Para Eyder Mendes, cada escuta é uma oportunidade de fazer diferença. “O CVV nasceu para que ninguém precise sofrer sozinho. Nossa missão é valorizar a vida, e todo mundo pode contribuir com isso, ouvindo, acolhendo e apoiando”, conclui.
Palestra em Teresina
Para quem quer se informar ainda mais sobre como cuidar da saúde mental, Teresina recebe nesta semana a palestra a psicóloga Karina Okajima, uma das maiores referências nacionais em suicidologia. O evento acontece na noite desta sexta-feira (12), através do Instituto Samila Leão, no Espaço Elite, Zona Leste da capital, e é aberto para estudantes e profissionais de psicologia.
Rebeca Negreiros, especial para o Portal O Dia, com edição de Isabela Lopes.
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