Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook x Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Dia da Nostalgia: lembranças que cabem em uma folha de papel e na moldura

Pessoas que preservam memórias em diários e fotos reveladas contam como objetos materiais ajudam a manter a ligação com o passado.

23/08/2025 às 10h29

23/08/2025 às 10h29

O tempo passa, mas certos objetos resistem à pressa do presente e guardam muito mais do que registros. No Dia da Nostalgia, comemorado em 24 de agosto, histórias de pessoas que cultivaram hábitos como escrever diários ou revelar fotografias mostram como o contato físico com lembranças carrega força emocional em uma era cada vez mais digitalizada e virtual.

A comemoração da data que celebra a nostalgia, sentimento de carinho ou saudosismo por algo que aconteceu no passado, surgiu como uma tradição no Uruguai, no final da década de 1970. Todos os anos, em 24 de agosto, boa parte da população do país vai à ruas para comemorar a Noite (ou Festa) da Nostalgia, relembrando sucessos musicais que marcam momentos do passado.

O psicólogo Alyson Reis explica que a nostalgia vai além de uma simples saudade por uma época que já passou. Para ele, é um padrão comportamental em que o presente é influenciado por estímulos do passado. “Objetos materiais, como fotos e diários, possuem uma história associada que pode evocar respostas emocionais. Eles nos transportam para o momento em que foram produzidos, trazendo de volta as sensações daquela época”, detalha.

Dia da Nostalgia: lembranças que cabem em uma folha de papel e na moldura - (Reprodução/ Arquivo Pessoal) Reprodução/ Arquivo Pessoal
Dia da Nostalgia: lembranças que cabem em uma folha de papel e na moldura

LEMBRANÇAS NO PAPEL

Transformar suas memórias em palavras no papel é um hábito antigo na história da humanidade que, mesmo com o passar dos anos e a evolução das tecnologias, nunca deixa de ser relevante. Para a jornalista Jéssica Sales, escrever seus pensamentos em um diário na sua infância e adolescência foi uma forma de falar, sem precisar contar. “Quando eu era criança, era moda aqueles diários com cadeado e canetinha colorida, mas mex iam nas minhas coisas e liam o que eu escrevia. Então, para ninguém conseguir entender, eu criei um código próprio de escrita, trocando as letras do alfabeto. Escrev ia tudo de cabeça e só eu entendia”, conta.

A experiência, além de trabalhar a criatividade, foi também um espaço de acolhimento. Nas folhas, Jéssica registrava angústias, problemas, paixões de adolescência e até comentários sobre novelas. Entre as páginas, guardava também convites de eventos que a marcaram e adesivos que gostava, de produtos que nem existem mais. “Era uma forma de lembrar quem eu fui naquela época”, diz ela.

Com o passar do tempo, a rotina acabou afastando-a do hábito, mas, em alguns momentos, ela sentiu saudades e voltou a escrever. Segundo a jornalista, revisitar as anotações trouxe novas reflexões sobre si mesma. “Algumas lembranças mexiam comigo, mas também me ajudaram a perceber minha vulnerabilidade e a decidir que não queria repetir certas experiências”, comenta. Hoje, Jéssica acabou transformando o diário escrito em um monólogo íntimo, uma conversa consigo mesma, mas acredita que retomar o hábito seria bom.

Dia da Nostalgia: lembranças que cabem em uma folha de papel e na moldura - (Jorge Machado/ O Dia) Jorge Machado/ O Dia
Dia da Nostalgia: lembranças que cabem em uma folha de papel e na moldura

MOMENTOS ETERNIZADOS

Entre as décadas de 1970 e 2010, o hábito de revelar fotos era algo bastante comum nas casas de brasileiros. Com o passar do tempo e a evolução das tecnologias que guardam imagens, a digitalização e o armazenamento em nuvem, a tradição acabou sendo deixada de lado para várias pessoas. As fotos físicas possibilitam uma ligação maior com nossas lembranças e com os momentos que nos marcam ao longo de nossas vidas, com um valor sentimental incalculável e registros eternizados.

A produtora digital Geice Mello transforma sua nostalgia com certos momentos de sua vida em fotos e molduras. Desde a infância, ela lembra de as fotografias impressas serem parte da rotina de sua família. “Lá em casa, a gente usava máquinas analógicas, de filme. Todo final de ano ou em momentos especiais, comprávamos os rolos para registrar e depois revelar. Eu lembro da ansiedade de tentar olhar o filme contra a luz, só para ver se tinha dado certo”, recorda.

O costume atravessou gerações e hoje ainda se mantém vivo em sua mesa de trabalho, onde dois quadros emoldurados reúnem imagens carregadas de significados. Um deles é o “quadro dos sonhos”, feito em estilo de scrapbook (com colagens), que reúne algumas de suas inspirações e objetivos pessoais. O outro é o “quadro das lembranças”, com fotos que simbolizam conquistas e motivações.

Dia da Nostalgia: lembranças que cabem em uma folha de papel e na moldura - (Reprodução/ Arquivo Pessoal) Reprodução/ Arquivo Pessoal
Dia da Nostalgia: lembranças que cabem em uma folha de papel e na moldura

“Quando os dias estão cinzentos, olho para essas imagens e lembro de quem sou e de tudo que construí até aqui. É como uma dose de coragem para continuar”, revela. Para Geice, a fotografia funciona como uma lembrança palpável, uma forma concreta de não perder de vista o caminho já percorrido e manter viva a esperança para o futuro.

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Alyson Reis, especialista em psicologia comportamental, afirma que itens materiais como diários e fotografias reveladas ajudam na preservação da identidade, funcionando como uma espécie de âncora emocional. “As memórias podem gerar pertencimento e até servir como um fator de sobrevivência emocional. Revisitar lembranças pode trazer conforto, esperança e fortalecer a resiliência. Mas é importante equilibrar, não se trata apenas de olhar para trás, mas também de construir novas experiências no presente”, ressalta o psicólogo.

O especialista ainda lembra que a digitalização mudou a forma como lidamos com a nostalgia. “Hoje, fotos armazenadas em nuvem ou redes sociais tornam as lembranças mais acessíveis e compartilháveis. Mas objetos físicos ainda despertam emoções e sensações diferentes, especialmente para quem cresceu em contato com eles”, afirma.

As histórias de Jéssica e Geice mostram que a nostalgia pode assumir diferentes formas, seja nas páginas secretas de um caderno ou nas fotos emolduradas no quarto. Mas todas têm em comum o poder de reconectar pessoas com quem elas foram. Se a nostalgia é, também, sobrevivência emocional, guardar registros do passado pode ser mais que um hábito – pode ser uma forma de não se perder, mesmo na pressa e na efemeridade dos dias atuais.

Rebeca Negreiros, especial para o Portal O Dia, com edição de Isabela Lopes.


Você quer estar por dentro de todas as novidades do Piauí, do Brasil e do mundo? Siga o Instagram do Sistema O Dia e entre no nosso canal do WhatsApp se mantenha atualizado com as últimas notícias. Siga, curta e acompanhe o líder de credibilidade também na internet.