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87,5% das pessoas mortas por polícias no Piauí em 2024 eram pretas ou pardas, diz estudo

Pesquisa realizada no Piauí e em mais oito estados brasileiros aponta racismo na segurança pública; polícias mataram 11 pessoas por dia, sendo 8 delas negras.

06/11/2025 às 09h52

Em 2024, 11 pessoas foram mortas por dia por ações policiais em nove estados brasileiros, sendo pelo menos oito delas pretas ou pardas, o que representa mais de 70% do total. O dado faz parte do boletim Pele Alvo, divulgado nesta quinta-feira (6) pela Rede de Observatórios da Segurança, que monitora a violência policial em estados como Piauí, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará e Pernambuco.

De acordo com o levantamento, das 4.068 mortes registradas no ano passado, 3.066 foram de pessoas pretas ou pardas. Os pesquisadores destacam, porém, que em mais de 500 registros não havia informação sobre cor ou raça da vítima. O mesmo estudo indicou, em 2023, que quase 90% dos mortos por policiais no Brasil eram negros.

87,5% das pessoas mortas por polícias no Piauí em 2024 eram pretas ou pardas, diz estudo - (Reprodução/Agência Brasil) Reprodução/Agência Brasil
87,5% das pessoas mortas por polícias no Piauí em 2024 eram pretas ou pardas, diz estudo

No Piauí, o estudo aponta que foram 24 mortes provocadas por agentes de segurança em 2024, sendo 87,5% delas de pessoas negras e 80% causadas pela Polícia Militar. É importante lembrar que, no estado, mais de 77% da população é formada por pessoas pretas ou pardas.

Os dados indicam que a polícia brasileira segue matando, em sua maioria, pessoas negras e jovens. Segundo o estudo, pessoas pretas têm 4,2 vezes mais chances de serem mortas por policiais do que pessoas brancas. Na Bahia, por exemplo, a taxa de mortalidade de negros chegou a 11,5 por 100 mil habitantes, contra 2 por 100 mil entre brancos. No Pará, foram 8,1 negros mortos para cada 100 mil moradores, ante 3,2 brancos. Já no Rio de Janeiro, a diferença também é alta, com 5,9 mortos negros para cada 100 mil, contra 1,3 brancos.

Em todos os estados pesquisados, a proporção de pessoas negras entre os mortos foi maior do que a presença delas na população geral. Na Bahia, onde 79,7% da população é preta ou parda, 95,7% das vítimas da polícia pertencem a esses grupos. No Rio de Janeiro, a discrepância é ainda maior, já que pessoas negras representam 57,8% da população, mas 86,1% dos mortos pela polícia.

A pesquisadora Francine Ribeiro, da Rede de Observatórios, afirma que os números refletem uma política de segurança pública baseada em confronto, não em prevenção. “As forças de segurança têm atuado em modo guerra, e não há integração com outros setores para reduzir a violência. Sem políticas estruturadas de prevenção, esse modus operandi não vai mudar”, explica.

Além do recorte racial, o estudo mostra que 57,1% dos mortos eram jovens. Na faixa etária entre 18 e 29 anos, o que representa 2.324 vítimas. Outros 297 eram adolescentes, o que representa um número 22% maior do que o registrado em 2023, sendo a maioria das vítimas era do sexo masculino.

A Bahia segue como o estado com a polícia mais letal entre os pesquisados, responsável por 38% das mortes, com 1.556 casos apenas no ano de 2024. Desde 2021, o estado registra mais de mil mortes por ano, quase todas de homens negros. O boletim alerta que este crescimento está relacionado à intensificação de conflitos entre facções e à resposta violenta do Estado, classificando a situação como “uma urgência social”.

Enquanto a letalidade na Bahia cresceu 139% em seis anos, o Rio de Janeiro teve uma redução de 61% no mesmo período. A pesquisa relaciona a queda à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, mais conhecida como ADPF das Favelas, decisão do Supremo Tribunal Federal que impôs limites às operações policiais em comunidades.

“Foi uma medida importante, que reduziu o número de mortes. Mas os recentes episódios de violência mostram que a tendência pode se inverter em 2025”, alerta Francine.

Em comparação, no estado de São Paulo as mortes provocadas por policiais voltaram a crescer, apresentando um aumento foi de 93,8% em três anos. A pesquisadora relaciona essa alta à flexibilização do uso das câmeras corporais, que deixaram de gravar de forma contínua, e à retomada de operações violentas. “Os números voltaram aos patamares de 2019, antes da expansão das câmeras”, afirmou.

O boletim da Rede de Observatórios, além de dados , apresentou uma sérei de recomendações para a redução da letalidade policial e combater o viés racial das abordagens. Entre elas estão tornar obrigatório o uso de câmeras corporais em todas as operações e unidades policiais, eliminar a categoria “não informado” nos registros de raça/cor das vítimas, rever a formação e o treinamento dos agentes (priorizando direitos humanos e redução da violência), criar programas de atenção à saúde mental dos policiais e vincular repasses federais de segurança ao cumprimento de metas de redução da letalidade.

"Política de Segurança Pública é desafiadora em um país como o Brasil, mas repetir estratégias que já não deram certo e desestimular ações que deram certo é contraproducente e leva à insegurança contínua da população", conclui a pesquisadora Francine Ribeiro.


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Com supervisão de Nathalia Amaral.