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Violência sexual infantil: como educar crianças e adolescentes para reconhecer e denunciar abusos?

Com número crescente de casos no Brasil, especialistas alertam: a prevenção contra o abuso sexual infantil começa com diálogo em casa e informação desde a primeira infância.

26/06/2025 às 15h29

26/06/2025 às 15h29

O Brasil enfrenta um cenário alarmante quando se trata da violência sexual contra crianças e adolescentes. Segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mais de cinco estupros de menores de 14 anos são registrados por hora no país. Em escala global, o Brasil ocupa a 5ª posição entre 51 países com maior número de denúncias de abuso sexual infantil pela internet, subindo rapidamente da 27ª posição em 2022 para a atual.

Como educar crianças e adolescentes para reconhecer e denunciar abusos? - (Reprodução/Redes Sociais) Reprodução/Redes Sociais
Como educar crianças e adolescentes para reconhecer e denunciar abusos?

Enquanto países como Bulgária, Reino Unido, Holanda e Alemanha lideram a lista, o crescimento dos casos no Brasil chama atenção também pela gravidade dos relatos, que envolvem, em muitos casos, vítimas com menos de cinco anos de idade.

Frente a esse contexto, especialistas defendem que a melhor forma de enfrentar o problema é por meio da educação, começando dentro de casa. A advogada Luciana Temer, professora de Direito Constitucional da PUC-SP e presidente do Instituto Liberta, organização voltada ao enfrentamento da violência sexual infantil, destaca que a conversa sobre o corpo e o consentimento precisa ser tratada com naturalidade desde cedo.

“A gente tem que quebrar o tabu. O desenvolvimento da sexualidade vai acontecer de qualquer maneira. Vamos orientar os nossos filhos para que aconteça de forma saudável e cuidadosa, e para que nossas crianças não sejam vítimas de violência sexual sem sequer entenderem que estão sendo vítimas”.

Luciana TemerAdvogada

Temer destaca que não se trata de falar sobre sexo com uma criança pequena, mas de ensinar, de forma apropriada à idade, noções básicas de autoproteção. “Ah, mas como vou falar com meu filho e com minha filha de 5 anos de idade? Você não vai falar de sexo, você não vai falar de violência. Mas tem hoje material prontinho, livrinho, filminho, que você pode usar. E ele vai perceber se alguma coisa ruim estiver para acontecer.”

A especialista reforça que é papel dos adultos (pais, cuidadores, professores) se informarem sobre o tema para proteger as crianças de forma ativa e consciente.

Quando começar?

De acordo com Luciana Temer, a prevenção deve começar desde muito cedo. Ainda que o bebê não tenha linguagem, os adultos devem estar atentos a comportamentos e sinais físicos, além de observar mudanças de atitude ou medo repentino de determinadas pessoas. A partir dos quatro ou cinco anos, já é possível conversar com a criança utilizando materiais didáticos acessíveis.

“A violência sexual acontece com crianças desde bebês. Antes de haver linguagem, é o adulto quem precisa observar a criança. Depois, aos 4 ou 5 anos, já existe material apropriado para começar essa conversa. E, quanto antes a gente naturalizar essa conversa sobre o corpo, melhor.”

A orientação, segundo a advogada, deve incluir informações claras sobre quais partes do corpo podem ou não ser tocadas, quem pode tocar (por exemplo, em situações médicas, com supervisão) e a conscientização de que, muitas vezes, o agressor não é um estranho, mas alguém próximo da criança.

“A maioria dos abusos acontece dentro de casa, praticados por familiares. Por isso, precisamos ensinar às crianças, desde cedo, que elas têm autonomia sobre seus corpos e que devem contar se algo as deixou desconfortáveis.”

A prevenção contra o abuso sexual infantil deve começar desde muito cedo.  - (Edilson Rodrigues/Agência Senado) Edilson Rodrigues/Agência Senado
A prevenção contra o abuso sexual infantil deve começar desde muito cedo.

Escola tem um papel complementar

A escola, segundo Temer, também tem um papel fundamental no processo de conscientização, oferecendo apoio educacional e psicológico, além de promover ambientes seguros para que as crianças e adolescentes possam relatar abusos.

Ela defende que o tema seja tratado de maneira transversal desde os primeiros anos do ensino básico, respeitando a faixa etária dos alunos, mas sem ignorar a urgência da prevenção.

Orientações práticas para pais e responsáveis:

  • Ensine o nome correto das partes do corpo desde cedo. Isso ajuda a criança a se expressar melhor.
  • Explique, com naturalidade, que certas partes do corpo são íntimas e que ninguém deve tocá-las sem consentimento.
  • Utilize livros infantis e vídeos educativos que abordem o tema de forma lúdica.
  • Crie um ambiente de diálogo em casa, onde a criança se sinta segura para relatar desconfortos ou situações estranhas.
  • Fique atento a mudanças de comportamento repentinas, medo de certas pessoas ou resistência em frequentar determinados lugares.

Falar sobre violência sexual infantil ainda é um desafio em muitas famílias brasileiras, mas a urgência dos dados mostra que o silêncio não é mais uma opção. Com informação, diálogo e acompanhamento atento, é possível proteger as crianças e construir um ambiente mais seguro para seu desenvolvimento.

“Vamos falar com os nossos filhos sobre o corpo. É natural. Explicar onde pode e onde não pode tocar. Ensinar que, se algo os fizer sentir mal, eles devem contar. Assim, protegemos nossas crianças do que há de mais cruel: a violência que vem de quem elas mais confiam”, conclui Luciana Temer.


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