Médicos e demais profissionais da área da saúde estão realizando, nesta quinta-feira (30), uma paralisação das atividades e manifestação em frente ao Hospital Getúlio Vargas (HGV), em Teresina.
O movimento é liderado pelo Sindicato dos Médicos do Estado do Piauí (SIMEPI) e conta com o apoio de sindicatos que representam outras categorias da saúde, como fisioterapeutas, farmacêuticos e odontologistas.
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O ato desta quinta-feira tem como principal objetivo denunciar o desvio de recursos da saúde pública e pressionar o governo estadual pela realização de um concurso público que reforce o quadro de profissionais e reduza a sobrecarga nas unidades hospitalares.
A decisão pela paralisação foi tomada no último sábado (25), durante uma Assembleia Geral Extraordinária realizada pelo SIMEPI, que reuniu representantes de diferentes entidades e categorias do setor. O encontro discutiu as condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais da rede pública e os desafios que comprometem o atendimento à população.
"Essa manifestação acontece porque não aguentamos mais o descaso com a saúde pública do Piauí, enquanto assistimos nos noticiários desvios de milhões de recursos da saúde pública através de organizações sociais e outros meios. Enquanto isso, a população está morrendo. As condições de trabalho estão ruins e os hospitais estão precários. A propaganda diz que está tudo mil maravilhas, mas é mentira. Não tem segurança para ara os profissionais, que estão adoecidos e exaustos. Estão ali para salvar vidas, mas não conseguem porque o governo não dá essa condição", disse Samuel Rego, vice-presidente do Simepi.
Samuel denunciou ainda que os médicos chegam a comprar medicações com recursos próprios e entregá-los aos pacientes, devido à falta de remédios. O médico relatou ainda que a estrutura dos hospitais é bastante precária, com ar-condicionados quebrados, fiações expostas, bem como casos de assédio moral.
"Estamos em luto pelas milhares de mortes que estão acontecendo por conta da falta de recursos, decorrentes desses desvios. Estamos cansados de luto, por isso estamos indo à luta", reforçou Samuel Rego.
Durante a assembleia, os participantes relataram situações de precarização do trabalho, falta de estrutura e defasagem salarial. Entre as principais reivindicações, destacam-se:
- Remuneração digna e pagamento integral da insalubridade;
- Condições humanas de trabalho para todos os profissionais da saúde;
- Combate à precarização que adoece trabalhadores e compromete o atendimento público;
- Transparência na aplicação dos recursos públicos e fim do desvio de verbas da saúde;
- Resistência à reforma administrativa, que, segundo os profissionais, retira direitos dos servidores;
- E a oposição à indicação política nos serviços públicos.
Estiveram presentes Lúcia Brasil, farmacêutica; Marcondes Martins da Silva Júnior, diretor do Sindicato dos Odontologistas do Piauí (SOEPI); Letícia Evangelista, presidente do Sindicato dos Fisioterapeutas do Piauí (SINFITO/PI); entre outros representantes.
Leilane Quaresma, vice-presidente do Sindicato dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais do Piauí (Sinfito-PI), também esteve presente na manifestação e destacou que os problemas na saúde pública do Estado se estende, não somente aos médicos, mas outros profissionais, como os fisioterapeutas.
"Não é somente problema estrutural, mas também de valorização dos profissionais. Nós temos um concurso da FMS, com a lista de profissionais a serem convocados, mas é uma quantidade bem aquém da necessidade real do município e, mesmo assim, não conseguimos a convocação. O concurso foi anunciado com 25 vagas para terapia e terapia ocupacional e não vamos conseguir atender nem a demanda do FGV com essa quantidade. A população vai continuar desassistida, sem acesso de saúde de qualidade e com filas imensas", reiterou.
Contraponto
Por meio de nota, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) reconheceu o direito de greve dos profissionais, mas destacou que é necessário o cumprimento mínimo de 70% do efetivo. Sobre as condições estruturais, a Fundação reforçou que recebeu a pasta em condições precárias, inclusive com a ausência de medicamentos e insumos.
Em relação ao concurso público, a FMS destacou que está conduzindo um processo de reorganização do quadro funcional, com o intuito de garantir planejamento estratégico para futuras contratações. Já a Sesapi reconheceu o direito da classe médica de se manifestar, mas lamentou eventuais transtornos causados à população em razão de possíveis remarcações de consultas e exames.
Veja abaixo as notas de esclarecimento da FMS e Sesapi:
Nota de Esclarecimento
A Fundação Municipal de Saúde (FMS) informa que recebeu comunicado oficial do Sindicato dos Médicos do Piauí sobre a realização de uma paralisação de advertência de 24 horas, prevista para esta quinta-feira, 30 de outubro de 2025, envolvendo médicos da rede municipal e estadual de saúde.
A FMS reconhece o legítimo direito de manifestação e reivindicação dos profissionais, desde que exercido com responsabilidade e sem prejuízo à continuidade dos serviços essenciais prestados à população.
Diante da paralisação anunciada, a FMS emitiu parecer jurídico e decisão administrativa que reconhecem o direito de greve dos médicos servidores públicos municipais, conforme previsto na Constituição Federal e na Lei nº 7.783/1989. No entanto, esse direito está condicionado à manutenção mínima de 70% (setenta por cento) do efetivo em unidades com pluralidade de médicos, como hospitais, UPAs, SAMU e unidades especializadas.
Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nas Equipes de Saúde da Família (ESF) que contam com apenas um médico titular responsável pelo atendimento diário da população adscrita, não será permitida a adesão à paralisação, devendo o profissional ser notificado de sua designação para atuar em 100% (cem por cento) da jornada, a fim de garantir a continuidade dos serviços indispensáveis.
Sobre as reivindicações apresentadas, como a precarização da estrutura e a falta de medicamentos, a FMS esclarece que recebeu a rede de saúde em estado de caos no mês de janeiro deste ano, com registro de problemas estruturais, organizacionais e ausência de medicamentos e insumos básicos. Diante desse cenário crítico, foi decretado estado de emergência na saúde, medida amplamente divulgada. Desde então, foram elaborados planos de ação a curto, médio e longo prazo, priorizando as situações mais graves.
Em relação ao concurso público, a FMS informa que, somente neste ano, já foram convocados 1.305 profissionais, a maior convocação da história da instituição. Paralelamente, está sendo conduzido um processo de reorganização do quadro funcional, com o objetivo de promover maior racionalidade financeira, eficiência e eficácia na prestação dos serviços. Essa reestruturação também visa garantir um planejamento estratégico para futuras contratações, alinhado às reais necessidades da rede e à responsabilidade na gestão pública.
A FMS informa ainda que está acompanhando a situação e reforça que todas as medidas adotadas têm como objetivo garantir o atendimento à população, sem prejuízo ao direito de manifestação dos profissionais.
Nota à Imprensa - Sesapi
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) reconhece o direito da classe médica de se manifestar, no entanto, lamenta eventuais transtornos causados à população em razão de possíveis remarcações de consultas e exames.
A Sesapi ressalta que está tomando providências no sentido de manter os serviços funcionando, reduzindo os possíveis danos causados à população.
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