Entre flores coloridas, aromas de ervas e o som suave da água correndo, o Jardim Sensorial do Parque da Cidade se tornou um convite para desacelerar e se reconectar com a natureza em Teresina. Coordenado pela educadora ambiental Naisis Andrade, coordenadora do Núcleo de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam), o espaço foi idealizado para despertar e estimular os cinco sentidos – visão, olfato, tato, audição e paladar – de forma lúdica e educativa.
Especialmente para as crianças, o local tem a capacidade de promover aprendizado, inclusão e bem-estar. “O jardim surgiu da carência de espaços verdes nas escolas. Visitando as unidades, eu percebia o quanto as crianças estavam afastadas do contato com a natureza. Tinham salas de robótica, de informática, mas faltava o essencial, que era a conexão com o meio ambiente”, explica Naisis.
No jardim, uma trilha de areia, grama e pedras abre os caminhos e interliga estações, com a orientação de ser percorrida com os pés descalços. Cada canto do espaço foi cuidadosamente planejado para estimular um dos sentidos, com flores que encantam pela beleza das cores, ervas aromáticas como capim-santo e cidreira, texturas diversas em folhas e pedras, fontes de água que despertam a audição e convidam à contemplação e até plantas comestíveis.
“Quando as crianças vêm, a primeira coisa que elas fazem é tirar os sapatos e começar a explorar. Sentem a areia, o frescor da grama, o cheiro das plantas, provam o boldo e o manjericão, por exemplo. É uma festa sensorial”, relata a educadora. “E o mais bonito é ver o resgate da memória afetiva. Muitos lembram dos chás feitos pelas avós, do quintal de casa, do cheiro de terra molhada”, diz.
Sustentabilidade e inclusão
Além da experiência sensorial, o jardim também tem um caráter educativo e inclusivo. Por meio de QR Codes instalados em placas em cada uma das estações, os visitantes podem ouvir áudios produzidos com apoio de inteligência artificial, que descrevem o funcionamento e a importância de cada espaço. “É uma forma de o jardim ‘falar’ por si só. Mesmo quando eu não estou presente, qualquer pessoa pode entender a proposta e mergulhar na experiência”, afirma Naisis.
Apesar de o espaço no Parque da Cidade não ser de fácil acesso para pessoas cadeirantes ou com outras deficiências físicas, as estruturas garantem que pessoas com deficiências visual e auditiva, por exemplo, possam aproveitar diversas partes do espaço. “O QR Code facilita a audiodescrição e o formato suspenso permite que quase todos possam tocar, sentir e participar. Pensamos especialmente nas crianças neurodivergentes, como autistas, que se beneficiam muito desse contato direto com elementos naturais”, destaca a coordenadora.
A sustentabilidade é outro ponto central do projeto. Boa parte dos vasos e lixeiras foi feita com pneus reciclados e materiais reaproveitados. “Nada aqui é descartável, é tudo reutilizado. Os pneus, por exemplo, vieram de descarte da própria Semam. É uma forma de ensinar, na prática, o valor do reaproveitamento”, esclarece a educadora ambiental.
Além do espaço no Parque da Cidade, Naisis Andrade também leva a experiência sensorial com a natureza para outros locais através de um jardim móvel, contemplando escolas públicas e particulares, eventos especiais e até outros parques públicos. A Escola Municipal Noé Araújo Fortes, por exemplo, na zona Leste da capital, recebeu o jardim, promovendo uma experiência transformadora, especialmente entre as crianças com deficiência e necessidades especiais.
“Antes, quando uma criança com autismo tinha uma crise, a professora tirava da sala e deixava sozinha, pintando, desenhando ou até sem fazer nada. Agora, elas podem ir para o jardim, mexer na terra, cuidar das plantas, dar nome às mudinhas. É outra energia, porque a natureza tem esse poder terapêutico”, comenta ela.
O sucesso do projeto motivou a educadora a apresentar o Jardim Sensorial até mesmo em outras cidade e estados. O modelo já foi levado a feiras e exposições por todo o Piauí e, por exemplo, para São Paulo e o Rio de Janeiro, onde o trabalho encantou o público. “Em São Paulo, uma senhora chorou ao visitar o jardim porque lembrou da infância e da filha com síndrome de down. A natureza desperta sentimentos profundos”, relembra Naisis.
Educação ambiental gratuita
O Jardim Sensorial do Parque da Cidade está aberto ao público de segunda a sexta-feira, geralmente das 8h às 11h, com entrada gratuita. Escolas interessadas em visitas de estudantes podem agendar orientações guiadas pelo Núcleo de Educação Ambiental da Semam.
Quem chega ao local é recebido por trilha sensorial, fontes de água e plantas típicas do clima piauiense (como ixoras, espadas-de-São-Jorge e orquídeas-do-mato). O som dos pássaros e das árvores do Parque ao redor do jardim completam a experiência. “Aqui a gente escuta o vento nas folhas, o barulho da água e o canto dos saguis que aparecem pelo Parque. É um ambiente vivo, acolhedor, feito para ser sentido”, descreve Naisis.
Para a coordenadora, mais do que um espaço bonito, o Jardim Sensorial é uma ferramenta de educação ambiental e emocional. “O que eu quero é plantar uma sementinha de amor pela natureza nessas crianças. Se algumas delas crescerem valorizando o meio ambiente, já valeu a pena”, conclui.
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