A arquitetura conta histórias. Ela revela de onde viemos, como vivemos e quais caminhos seguimos. Em Teresina, cada casarão antigo, cada fachada preservada e cada construção carrega fragmentos da identidade da cidade. A Casa Zenon Rocha é um desses exemplos: considerada a primeira edificação modernista da capital, marcou uma transição importante na paisagem urbana e no estilo construtivo local.
Construída em um lote de esquina entre as ruas Coelho Rodrigues e Dr. Área Leão, na Praça Demóstenes Avelino, conhecida como Praça do Fripisa, a residência foi projetada pelo arquiteto Anísio Medeiros. À época, o local era considerado “arredor” do centro urbano, por estar em uma área elevada e ventilada, e trouxe novidades arquitetônicas até então inéditas na cidade.
O modernismo, que chegou a Teresina na década de 1950, já se insinuava em detalhes internos de algumas construções antes de se consolidar em obras de maior porte. Até então, predominavam as casas coloniais, com grandes portas e janelas voltadas para a rua. Essa realidade começou a mudar com a expansão da Avenida Frei Serafim, que se tornou o endereço da elite local após a construção da Igreja de São Benedito.
A Casa Zenon Rocha simboliza esse novo momento. Anísio Medeiros concebeu um projeto moderno, com planta modulada e setorizada, espaços de lazer cobertos no pavimento térreo com uso de pilotis, mezanino e pátio interno ajardinado. Esses elementos proporcionavam conforto térmico em uma cidade de clima quente, ao mesmo tempo em que valorizavam o espaço interno.
A ocupação inicial do centro concentrava casarões entre as praças João Luís Ferreira, Saraiva, da Bandeira e Rio Branco, delimitando um urbanismo com amplas áreas verdes. “Com a abertura da Frei Serafim, a elite migrou para essa via, onde surgiram casarões em estilo eclético, muitos inspirados em palacetes e influências estrangeiras”, explica o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí (CAU-PI), Gerardo Fonseca.
Os primeiros casarões tinham estilo similar aos de Oeiras [a primeira capital do Piauí], mas, na fase de transição para o modernismo, começaram a surgir releituras, com influências ecléticas e traços contemporâneos. Assim como a Casa Zenon Rocha, outros imóveis seguem o estilo moderno e resistem ao tempo e ao descaso.
“Infelizmente, não existe uma boa conservação. Precisamos que o poder público crie mecanismos para ajudar na manutenção desses imóveis. Pode ser por meio da redução de impostos, linhas de crédito específicas ou incentivos à cultura que deem função social a essas construções. Quando preservamos, mantemos viva a história da cidade”, defende o presidente do CAU-PI.
A preservação desses casarões não é apenas uma questão estética, mas também um compromisso com a memória coletiva, com a referência geográfica e social que essas edificações oferecem à população. Elas são marcos que ajudam a contar a trajetória de Teresina, desde seus primeiros traços urbanos até a modernização.
“A arquitetura é o legado do que fica, da passagem do ser humano pelo planeta. A história antiga é contada por monumentos e pelo que sobrou das habitações. O que sabemos dos povos originários veio dos resquícios que sobraram das habitações e da forma que eles moraram, e isso traduz o que somos”, conclui Gerardo Fonseca.
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