O segundo domingo de agosto marca a celebração de uma data muito especial: o Dia dos Pais. Mais do que um dia para trocar presentes, é um momento de reconhecer e agradecer a presença, o carinho e a dedicação dessa figura paterna que, de diferentes formas, ajudam a construir histórias e marcam a vida e a construção de uma pessoa. Pais biológicos, adotivos, de coração, avôs, tios e até amigos próximos. Há diversas maneiras de ser pai, mas, em todas, existe a presença dos valores, do apoio e da presença.
Apesar de no Brasil haver mais de 11 milhões de mulheres que criam sozinhas os filhos, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), ainda é possível ver famílias onde a presença do pai é mais do que uma figura, é sinônimo de fortaleza. Enquanto em muitos lares não há essa presença paterna, em outros, o amor transborda e supera todos os desafios.
Conciliando o home office e a rotina ao lado do filho
Quando soube da gravidez da esposa, Érica Pessoa (23), Bruno Carneiro (33) sabia que queria estar por perto, não apenas no parto, mas acompanhando cada etapa da gestação. Com um trabalho que permitia ter mais flexibilidade na rotina, o representante comercial conseguiu acompanhar consultas e exames e aproveitar cada momento ao lado da esposa e do bebê que estava por vir.
Quando Theodoro nasceu, em 2022, Bruno encontrou uma forma de conciliar carreira e paternidade, reorganizando sua rotina para ficar as manhãs com o filho. “Eu levo e busco na escola, vou às reuniões, preparo o lanche. Já à tarde, quando a Érica está em casa, ela fica mais tempo com ele e eu consigo me dedicar ao trabalho”, comenta.
Durante a pandemia, o home office se tornou realidade e, pouco antes do nascimento do filho, Bruno negociou com a empresa para continuar trabalhando de casa. “Expliquei que queria participar mais, estar presente no dia a dia. Eles aceitaram e, desde então, sigo no home office”. Isso permitiu que ele estivesse presente em todas as fases do Theo, como o início da alimentação, as primeiras palavras e os primeiros passos.
“Não é muito comum ver pais que conseguem estar tão presentes, seja porque o trabalho atrapalha ou até porque a pessoa não quer. Não é uma tarefa fácil, mas vale a pena demais, porque você tem uma conexão com seu filho muito diferente. Eu sentia muita falta dessa conexão com meu pai, pois ele não foi muito presente na minha vida, e eu queria fazer diferente com o meu filho. Tive a sorte de ser abençoado e conseguir conciliar o meu trabalho com a criação dele”, destaca.
Essa decisão de reorganizar a rotina de Bruno para que ele ficasse com o filho foi acordada entre o casal considerando alguns fatores, tanto para que Theodoro continuasse perto dos pais, quanto para que os dois pudessem seguir em seus trabalhos. Segundo Bruno, Érica estava no início da carreira e precisava se dedicar ao crescimento profissional. Já ele, por ter mais tempo de empresa, conseguia mais flexibilidade.
Para Bruno, essa foi a melhor escolha que eles poderiam ter tomado para Theodoro, que hoje tem dois anos e 10 meses. Assim, os dois participam da rotina e da criação de Theodoro. “Tem sido gratificante conviver com o Theodoro, e ele é muito apegado aos dois, pois nós estamos muito presentes na vida dele”, conclui.
Construção de memórias e do fortalecimento de vínculos
A distância e a estabilidade profissional, por exemplo, não foram um empecilho para o jornalista Natanael Souza (31), que decidiu dar uma pausa em sua carreira para ir ficar com a esposa e a filha em uma cidade completamente desconhecida da família. Em 2022, o casal descobriu a gravidez e, desde esse momento, Natanael já tinha em mente que queria vivenciar cada fase da vida da filha.
Na reta final da gravidez, Glória Luz (31) foi aprovada em um concurso federal na cidade de Cocal, no interior do Piauí. Ela assumiu o cargo, mas, poucos dias depois, entrou em trabalho de parto. Em fevereiro de 2023, Laura chegou ao mundo de forma prematura, com apenas 34 semanas, em um parto de emergência. O medo de perder a filha e a situação aproximou ainda mais os pais. “Nas primeiras semanas de vida, eu tinha muita vontade de participar, mas tinha medo por ela ser muito pequena, molinha, e eu ter um porte físico avantajado. Mas, aos poucos, fui perdendo e passei a trocar fralda, a higienização de um recém-nascido. E foi no dia a dia que fui aprendendo a ser pai”, conta.
Ao término da licença-maternidade, o casal decidiu se mudar para Cocal e Natanael foi junto, já que a cidade não oferecia rede de apoio para a família. A mudança foi uma decisão difícil, mas, segundo Natanael, natural. “À época, eu estava estabilizado e ganhava relativamente bem, mas abri mão de tudo isso para acompanhar minha família, principalmente pela Laura, que tinha apenas seis meses, era dependente da mãe e não tinha ninguém da família que pudesse acompanhá-la. Muita gente me chamou de louco, mas para mim foi natural, pois não queria que minha filha ficasse longe da mãe”, comenta.
Durante um ano, a rotina em Cocal foi intensa e transformadora, unindo ainda mais Natanael a Laura, que pode vivenciar integralmente a paternidade, aprendendo a cuidar da alimentação, da higiene e da educação da filha.
Em setembro de 2024, Natanael e Laura voltaram a morar em Teresina, enquanto Glória permaneceu trabalhando no interior e vinha à capital nos fins de semana. Nesse período, o casal contou com a ajuda da avó paterna de Laura. Posteriormente, Glória conseguiu licença para cursar seu mestrado em Teresina, trazendo novamente à mãe para perto da família.
Para Natanael, esse um ano de dedicação quase exclusiva à Laura, hoje com dois anos e seis meses, foi uma das experiências mais marcantes de sua vida. “Eu queria aprender a cuidar dela e consegui. Essa vivência aumentou nosso vínculo e me fez amadurecer como pai. Antes, eu não imaginava que seria capaz de fazer tantas coisas, principalmente sendo pai de menina, que exige atenção especial em detalhes como cabelo e roupa”, relata, destacando que, apesar das críticas que ouviu, nunca duvidou da escolha que fez. “Sei que a maioria dos homens não faria o mesmo, mas vejo isso como meu papel de pai e esposo, de abrir mão de algumas coisas pelo bem da minha família”, concluiu.
A presença paterna como mudança geracional
Para a socióloga Shyrleane Cunha, a decisão de pais como Natanael e Bruno ainda é minoria no Brasil, mas reflete mudanças importantes nas novas gerações. A profissional lembra que, no Brasil, ainda existem milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento, e que, em muitos casos, a função paterna é assumida por tios ou padrastos.
Essa participação ativa é mais comum entre pais de classes sociais com maior escolaridade e estabilidade, que entendem a importância do envolvimento desde a gestação até a vida escolar e emocional dos filhos
Ela destaca que, culturalmente, o cuidado ainda é visto como responsabilidade da mãe, enquanto o pai assume o papel de provedor. A socióloga comenta que isso ocorre devido ao machismo presente na sociedade, no qual que há uma admiração exagerada quando o pai faz o que deveria ser natural: cuidar do filho.
Shyrleane Cunha explica que a divisão desigual de tarefas sobrecarrega as mulheres e impede que muitos homens desenvolvam vínculos mais fortes com os filhos. “Quando há inversão de papéis, como no caso de um pai ficar em casa enquanto a mãe trabalha, ainda existe estranhamento e resistência, inclusive por parte de algumas mulheres”, disse.
Segundo a socióloga, a presença paterna ativa tem impacto positivo direto no desenvolvimento infantil. “A participação e a presença da figura paterna fará com que essa criança tenha um efeito muito positivo, e que a tendência é que de esse vínculo também repercute na forma com essa pessoa se relacionará com seus filhos, se porventura ela tiver”, ressalta.
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