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Novo uso: médico explica Mounjaro no tratamento da apneia do sono

Medicação já era usada no tratamento da obesidade e diabetes; agora possui nova indicação, mas uso exige avaliação médica criteriosa.

31/10/2025 às 11h19

31/10/2025 às 11h19

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso da tirzepatida, mais conhecida comercialmente como Mounjaro, para o tratamento da apneia obstrutiva do sono em pacientes com obesidade. A decisão segue resultados promissores de um ensaio clínico internacional, que demonstrou uma redução de até 60% no índice de apneia – ou hipopneia (IAH) – após 52 semanas de tratamento. O estudo incluiu pacientes obesos, em sua maioria com apneia moderada a grave, e apresentou bom perfil de segurança e tolerabilidade.

O médico do sono Humberto Fernandes explica que a novidade representa um avanço importante no cuidado de pessoas com apneia associada ao excesso de peso, mas alerta que a prescrição deve ser individualizada. “O Mounjaro é uma opção nova, mas não é para todo mundo. Ele é indicado para pacientes com obesidade e apneia obstrutiva do sono e deve ser usado com acompanhamento médico e multiprofissional”, afirma ele.

Novo uso: médico explica Mounjaro no tratamento da apneia do sono - (Reprodução/Freepik) Reprodução/Freepik
Novo uso: médico explica Mounjaro no tratamento da apneia do sono

O que é apneia do sono

A apneia obstrutiva do sono é uma condição em que a respiração é interrompida repetidas vezes durante o sono. “O sintoma mais marcante é o ronco, que costuma motivar a busca por atendimento médico”, esclarece o especialista. “Durante o sono, ocorrem pausas respiratórias que provocam despertares breves e fragmentam o descanso, levando à sonolência diurna, queda de rendimento, alterações de humor e até problemas de libido”, completa.

Segundo o médico, a doença é mais comum em homens entre 30 e 50 anos e em pessoas com sobrepeso ou obesidade, mas pode afetar também indivíduos magros. “A obesidade é um dos principais fatores de risco modificáveis, mas há casos de pessoas com biotipo magro que têm apneia por questões anatômicas, como alterações na garganta ou no tamanho da língua”, destaca.

A tirzepatida é um agonista duplo dos receptores GIP e GLP-1, os mesmos hormônios envolvidos no controle da saciedade e da glicose. Ela já era usada no Brasil para tratar diabetes tipo 2 e obesidade, com resultados expressivos na redução de peso corporal.

“No caso da apneia, o Mounjaro atua indiretamente, ao promover perda de gordura corporal, inclusive ao redor da garganta”, detalha o Dr. Humberto Fernandes. “Isso ajuda a desobstruir as vias aéreas e melhorar o padrão respiratório durante o sono”.

O médico ressalta, no entanto, que o uso sem indicação médica é perigoso. Segundo ele, pessoas não obesas que utilizem o medicamento de forma inadequada podem acabar perdendo massa magra ao invés de gordura, o que é prejudicial à saúde. “Por isso, o tratamento deve ser acompanhado por nutricionista e, se possível, por um educador físico”, adverte.

Cuidados e diagnóstico

Além da apneia, o distúrbio do sono está ligado a problemas cardiovasculares. “Pacientes com quedas acentuadas na oxigenação durante a noite têm risco maior de AVC, arritmias e hipertensão”, alerta o especialista. “Tratar a apneia é fundamental, não apenas para dormir melhor, mas para proteger o coração e o cérebro”.

O Mounjaro, segundo Humberto, não substitui os outros tratamentos já existentes, como o uso do CPAP nasal (equipamento que mantém as vias respiratórias abertas durante o sono), dispositivos intraorais ou cirurgias corretivas. “Agora temos uma quarta opção, medicamentosa, que pode ser combinada ou usado de forma isolada, conforme o caso clínico”, reforça ele.

O médico lembra ainda que, apesar da aprovação da Anvisa, o medicamento possui venda controlada e uso restrito a pacientes com prescrição médica. “É uma medicação potente e eficaz, mas requer acompanhamento e entendimento dos possíveis efeitos físicos, como a rápida redução de gordura corporal. O ideal é que o paciente saiba por que está usando e o que esperar do tratamento”, diz.

Para identificar a apneia, o exame mais indicado é a polissonografia, que monitora o sono e registra interrupções respiratórias. “Muita gente só percebe o problema quando o parceiro nota o ronco ou as pausas na respiração. Mas há sinais de alerta, como acordar cansado, ter dor de garganta pela manhã, sonolência excessiva durante o dia e dificuldade de concentração”, orienta Humberto.

O médico do sono reforça que manter hábitos saudáveis, como controle do peso, prática regular de atividades físicas, alimentação equilibrada e rotina regular de sono, é essencial, quanto na prevenção, tanto no tratamento. “O Mounjaro é uma ferramenta valiosa, mas ele deve estar inserido num contexto de mudança de estilo de vida e cuidado global com a saúde”, conclui.

Com a aprovação da Anvisa, o Brasil se junta a outros países que já utilizam o tirzepatida para tratar apneia do sono em pessoas com obesidade. Ainda que promissor, o avanço vem acompanhado do alerta dos especialistas, que afirmam que o medicamento não é uma solução milagrosa, mas mais uma aliada no combate a uma doença silenciosa e potencialmente grave.


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Com supervisão de Nathalia Amaral.