O Brasil viveu um período sombrio de sua história entre 2020 e 2023, marcado pelas mazelas provocadas pela pandemia da Covid-19. Três anos após o primeiro caso registrado no país, em março de 2023, o número de mortes ultrapassou 700 mil. Contudo, mais de 400 mil delas poderiam ter sido evitadas, segundo a ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade.

Assis Fernandes / O DIA

Negacionismo da saúde causou mais de 400 mil mortes, diz ex-ministra da Saúde no Piauí

De passagem pelo Piauí nesta quarta-feira (23) para receber o título de cidadania piauiense, Nísia afirmou em entrevista ao PortalODia.com que o negacionismo do governo de Jair Bolsonaro agravou a crise sanitária no Brasil.

“O negacionismo do governo Bolsonaro naquela época foi patente em relação à Covid-19, de tratar como gripezinha e também com toda a dúvida colocada sobre as vacinas. Então, eu reforço muito que nós não podemos esquecer o que se passou na pandemia de Covid-19, eu estou trabalhando numa exposição para mostrar isso, e poderia ser diferente porque nós temos instrumentos da ciência, do sistema único de saúde, da participação social para ter dado uma resposta muito melhor. Infelizmente, os especialistas calculam que mais de 400 mil mortes poderiam ter sido evitadas”, disse a ex-ministra durante evento na Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi).

Nísia também destacou que, embora o discurso negacionista tenha perdido força, ainda há desafios na área da saúde pública, sobretudo no combate à desinformação.

“Não existe muito negacionismo, mas infelizmente esse discurso de descrédito, de colocar em dúvida coisas que a nossa população não duvidava nos anos 80, por exemplo, sou mãe de dois rapazes e ninguém discutia, questionava o poder das vacinas, de proteger como hoje se questiona. Então, acho que temos um grande desafio, sim, nessa área, de saber onde são as fontes de informação confiáveis, levar essa mensagem para a população”, relatou.

Divulgação/Sesapi

Mortes provocadas pela Covid-19 passaram de 700 mil vítimas

Apesar das dificuldades, a ex-ministra ressaltou avanços recentes.

“Não dá para descansar mas aproveito para dizer que o Brasil melhorou os indicadores de cobertura das vacinas desde 2023. Isso foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde que nos deu o título de país livre do sarampo, houve melhoria na cobertura vacinal para várias doenças, a cobertura do calendário de vacinação infantil, sobretudo. Então, houve avanços, mas não tem como descansar. Ao contrário, tem que avançar mais. E a vacinação de Covid das crianças é um desafio. Nessa vacina, realmente, muita desinformação”, argumentou.

Título de cidadania piauiense

A visita de Nísia Trindade ao estado também foi marcada por uma homenagem. A ex-ministra recebeu o título de cidadania piauiense, concedido pela Alepi a partir de proposta do deputado estadual Dr. Marcus Vinícius Kalume (PT).

Emocionada, ela agradeceu a honraria. “Fico muito feliz, muito emocionada. É um reconhecimento pelo meu trabalho no período em que fui ministra da Saúde, mas também por toda a minha trajetória como pesquisadora e gestora, na forma de olhar o Brasil e pensar um país mais integrado e com menos desigualdade. O Piauí é um exemplo das mudanças que o país viveu nos últimos 20 anos, com melhorias na saúde e na educação. Ainda há muito a avançar, mas é uma alegria fazer parte desse processo e receber esse reconhecimento”, finalizou.

Fotos: Assis Fernandes / O DIA

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