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Engravidar após os 40 anos: os desafios e o sonho de ser mãe

Laura (42) e Roberto (42) estão casados há 12 anos e aguardam ansiosos a chegada do primeiro filho

01/12/2024 às 11h13

*nomes fictícios

Laura (42) e Roberto (42)* estão casados há 12 anos e aguardam ansiosos a chegada do primeiro filho. O casal já tem uma jovem de 22 anos, do primeiro casamento de Laura, que também está na contagem regressiva para a chegada do irmão caçula. Uma criança muito desejada e amada, antes mesmo de ter vindo ao mundo. O casal ainda mantém a gestação em segredo, uma forma de se resguardar e garantir que o bebê se desenvolva com tranquilidade.

Há alguns anos o casal vem vivenciando a angústia de tentar engravidar, mas sem sucesso. Laura conta que aos 35 anos, cinco após o casamento, engravidou naturalmente, porém, antes de completar dois meses de gestação, o casal perdeu o bebê. Durante o processo de investigação sobre o que poderia ter ocorrido, decidiram entrar na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer inseminação artificial, entretanto, a primeira tentativa não deu certo. Quando se preparava para a segunda tentativa, Laura engravidou de forma natural novamente, mas antes de completar oito semanas de gestação, uma nova perda.

Foram duas perdas em menos de seis anos. Foi então que decidimos procurar um especialista, e a médica relatou que meu problema era genético, por conta da idade, que quando engravidei com 35 anos, eu estava em uma boa fase, mas o tempo passa e, para nós, mulheres, infelizmente a idade pesa. A gente acha que 40 anos é jovem, mas para a medicina e para a ciência, já é uma idade avançada

Lauragrávida de 12 semanas

“Foram duas perdas em menos de seis anos. Foi então que decidimos procurar um especialista, e a médica relatou que meu problema era genético, por conta da idade, que quando engravidei com 35 anos, eu estava em uma boa fase, mas o tempo passa e, para nós, mulheres, infelizmente a idade pesa. A gente acha que 40 anos é jovem, mas para a medicina e para a ciência, já é uma idade avançada”, comenta.

Em 2023, o casal decidiu iniciar novamente o tratamento para inseminação artificial e, novamente, tiveram uma surpresa, ao descobrirem que somente poderiam ser pais por meio da fertilização in vitro (FIV). Na primeira consulta com a médica especialista, foi dito que, com as condições dos óvulos de Laura, as chances dela ter um filho eram de apenas 19%.

Aos 42 anos, Laura está grávida do primeiro filho com Roberto - (Arquivo pessoal) Arquivo pessoal
Aos 42 anos, Laura está grávida do primeiro filho com Roberto

Em março deste ano, foi identificado que Laura tinha apenas cinco óvulos. “Eu estava muito inchada, com muito açúcar no corpo, me alimentando errado. Então, preparamos meu organismo para melhorar a qualidade dos óvulos, frequentei psicóloga, terapia medicamentosa, mudei a alimentação, melhorei o sono. É preciso fazer uma mudança de vida e, ainda assim, não significa que vai dar certo, pois acima de 40 anos, nem todos os óvulos da mulher são sadios. Meses depois, fiz uma nova ultrassom e descobrimos que eu estava com 11 óvulos. Fiz mais uns meses de tratamento e nos preparamos para fazer a retirada. Nesse dia, foram visualizados 13 óvulos, mas só foi possível tirar 12. Desse total, nove fecundaram e apenas seis conseguiram ir adiante. Enviamos três óvulos para a biópsia antes de ser implantado e somente um deu certo. E foi esse que implantamos e estou gestando”, relata Laura.

A implantação aconteceu em setembro de 2024 e Laura está com três meses de gestação. Chegar às 12 semanas é uma vitória para o casal, que comemora cada dia com muita alegria. Ela tem seguido sua rotina normalmente, mas sem fazer tantos esforços, como pegar peso, e continua fazendo uso de medicações. Para ela, não há satisfação maior do que poder gerar o filho, ao lado de seu parceiro e recebendo todo o amor da família e amigos.

Não é um processo fácil, mas valeu a pena cada tentativa, desde quando começamos o tratamento, o acompanhamento psicológico e uso de medicação. O medo de perder o tempo todo está presente, pois as perdas foram muito traumatizantes, mas estou muito feliz e acredito que fiz tudo que tinha para fazer. Estamos trabalhando a alimentação, fazendo acompanhamento psicológico, e ao lado do meu parceiro, pois essa rede de apoio é essencial

Lauraa implantação aconteceu em setembro de 2024

Gerando vidas

Para muitas mulheres, realizar o sonho de tornar-se mãe significa superar qualquer desafio, inclusive aqueles impostos pela idade. Engravidar após os 40 anos, uma época em que a fertilidade feminina naturalmente diminui, é um tema que ainda desperta preocupações e dúvidas, mas também traz uma pontinha de esperança para quem ainda não desistiu de gerar seu filho e busca uma gestação bem sucedida.

Apesar dos avanços da medicina e dos tratamentos para fertilidade, ainda é comum ouvir relatos de mulheres acima dos 40 anos que enfrentam dificuldades para engravidar, e isso tem uma explicação. A ginecologista especialista em reprodução humana, Lyzianne Neves Bona, explica que a mulher consegue engravidar após os 40 anos, mas as chances de uma gravidez espontânea caem significativamente. Ela explica que, ao contrário dos homens, que produzem espermatozoides ao longo da vida, as mulheres nascem com um número fixo de óvulos, que vão diminuindo com o tempo.

Lyzianne Neves Bona, ginecologista especialista em reprodução humana - (Arquivo pessoal) Arquivo pessoal
Lyzianne Neves Bona, ginecologista especialista em reprodução humana

Esse processo de redução se torna mais impactante após os 35 anos, quando a qualidade e a quantidade de óvulos começam a diminuir drasticamente. Para ilustrar, Lyzianne aponta que, enquanto a chance de engravidar aos 35 anos gira em torno de 20% a 25% por ciclo menstrual, aos 40 anos essa taxa cai para apenas 6% a 10%.

Aos 43 anos, esse número diminui ainda mais, e a chance de engravidar espontaneamente fica entre 2% e 3%. A partir dos 45 anos, as chances se tornam extremamente baixas, e a maioria das mulheres perde a capacidade de engravidar naturalmente. A idade, por tanto, se apresenta como um fator determinante na fertilidade feminina.

A nossa fecundidade natural reduz pela metade. Apesar disso, é completamente possível engravidar após os 40 anos, e a reprodução assistida pode otimizar essa taxa de gravidez. É a partir dos 38 anos que a idade começa a angustiar as mulheres, quando inicia essa mudança estatística significativa

Lyzianne Neves Bonaginecologista especialista em reprodução humana

Embora a idade seja um fator crucial, Lyzianne Neves destaca a importância de um estilo de vida saudável, que pode ajudar a preservar a qualidade dos óvulos e otimizar as chances de gravidez. Ela explica que, apesar de não ser possível reverter a perda de óvulos com o passar dos anos, adotar uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas regulares, dormir bem e controlar o estresse pode ajudar a manter a saúde reprodutiva. A ingestão de alimentos ricos em antioxidantes, como frutas, vegetais e carnes magras, e a redução do consumo de produtos como doces, massas e carne vermelha, são fundamentais para proteger os óvulos do estresse oxidativo.

“O estilo de vida é importante o tempo todo, pois nascemos com um número de óvulos, ou seja, eles têm a nossa idade de vida embrionária. Assim, tudo que fazemos ao longo da vida vai impactar nesse óvulo. O estilo de vida pode piorar um patrimônio que você tem; por isso, é importante comer bem e diminuir o que mais causa estresse oxidativo no gameta. E claro, manter uma atividade física regular, com treinos de intensidade moderada três vezes por semana. Horas de sono reparadoras também são importantes, entre 6h a 7h e controle de estresse crônico”, destaca a ginecologista.

Quando é hora de procurar ajuda médica?

Para as mulheres que têm mais de 35 anos e tentam engravidar sem sucesso por mais de seis meses, Lyzianne Neves recomenda que procurem ajuda médica. A investigação das condições do aparelho reprodutivo da mulher, incluindo exames para avaliar a saúde das trompas e dos ovários, além da avaliação da fertilidade masculina, é uma etapa importante para otimizar as chances de concepção.

Se não houver sucesso após mudanças no estilo de vida e exames, a medicina oferece alternativas como a reprodução assistida, incluindo tratamentos de fertilização in vitro (FIV), que aumentam as chances de engravidar, mesmo após os 40 anos. A ginecologista Lyzianne Neves também assinala que, após os 40 anos, é fundamental agir rapidamente, já que o tempo e a reserva ovariana são fatores limitantes.

A fertilização in vitro, por exemplo, tem sido uma solução eficaz para muitas mulheres que sonham com a maternidade após os 40 anos. No entanto, como destaca Lyzianne Neves, essa alternativa também traz riscos, tanto para a mãe quanto para o bebê. Isso porque as mulheres acima de 40 anos têm maior risco de complicações durante a gestação, como hipertensão, diabetes gestacional e sangramentos, e também há um risco maior de malformações fetais e síndromes genéticas, como a síndrome de Down. A taxa de aborto espontâneo também é mais alta entre essas mulheres.

A fertilização in vitro é um dos métodos mais comuns de reprodução assistida - (Agencia Fiocruz) Agencia Fiocruz
A fertilização in vitro é um dos métodos mais comuns de reprodução assistida

Conforme a especialista, a taxa de abortamento para mulheres com 40 anos varia de 35% a 40%, e pode chegar a 50% para mulheres com 45 anos. No entanto, apesar desses desafios, Lyzianne neves afirma que é possível engravidar após os 40 anos com o auxílio da medicina reprodutiva, mas o sucesso depende de uma série de fatores, incluindo a saúde geral da mulher, a qualidade do sêmen do parceiro e a resposta aos tratamentos de fertilidade.

Para mulheres que desejam adiar a maternidade e aumentar as chances de uma gestação saudável no futuro, o congelamento de óvulos é uma dessas alternativas. Lyzianne Neves recomenda que esse procedimento seja feito até os 35 anos, quando a qualidade e a quantidade de óvulos são melhores. No entanto, mesmo após os 40, o congelamento de óvulos pode ser uma estratégia para mulheres que ainda não estão prontas para engravidar, mas querem garantir uma reserva ovariana para um momento posterior.

Outra alternativa disponível, quando a reserva ovariana está muito baixa, é a doação de óvulos. No Brasil, há três possibilidades: por meio de doação de uma parente de até quarto grau da paciente, desde que não gere uma condição de consanguinidade com o parceiro do casal; doações altruístas compartilhadas, entre pacientes atendidas na própria clínica, que se dispõe a doar para receber um beneficiamento financeiro para conseguir fazer o próprio tratamento, e é obrigatoriamente anônima; e os bancos de óvulos internacionais, no qual a paciente entra em contato e escolhe o perfil da doadora. Os óvulos vêm para o Brasil, são descongelados e o espermatozoide do parceiro é injetado. Após formados os embriões, eles são inseminados para a paciente receptora.

Mudanças de hábitos auxiliam na fertilização

Além da medicina reprodutiva, o apoio de profissionais de outras áreas, como nutricionistas e psicólogos, têm se mostrado essencial para o sucesso da gestação, especialmente para mulheres que estão tentando engravidar após os 40 anos. A nutricionista clínica especializada em saúde da mulher e fertilidade, Érica Moura, explica que a alimentação desempenha um papel fundamental na qualidade dos óvulos e na preparação do corpo para a gestação.

Segundo a profissional, para otimizar as chances de engravidar, é necessário fazer ajustes na dieta, com a inclusão de alimentos que favoreçam a saúde hormonal e a qualidade dos óvulos, como alimentos ricos em antioxidantes e ácidos graxos essenciais. Além disso, a prática de atividades físicas leves e constantes, o controle do estresse e a melhoria da saúde intestinal também são fatores que contribuem para uma melhor resposta do organismo aos tratamentos de fertilidade.

Para gestar, é preciso de um acompanhamento multiprofissional, e a nutrição é uma delas, e a mulher que deseja engravidar, precisa fazer esse preparo anteriormente. O interessante, em um cenário ideal, é que esse preparo começasse um ano antes. Mas há estudos que comprovam que, até três meses antes, é possível ter boas respostas, mas, para isso, é preciso aplicar algumas mudanças

Érica Mouranutricionista clínica especializada em saúde da mulher e fertilidade

Érica Moura lembra que esse equilíbrio está relacionado à alimentação e às escolhas do que é consumido, evitando alimentos que prejudiquem a qualidade dos oócitos, como alimentos industrializados e ultraprocessados ou tiveram contato com produtos que podem ser tóxicos, afetando a programação hormonal. Além disso, alguns alimentos em excesso podem causar alteração hormonal, como a cafeína ou o consumo de álcool.

Mas também há alimentos que podem potencializar a qualidade dos oócitos, dependendo do processo e da fase que essa mulher se encontre. “Na reprodução existem picos de alguns hormônios e certos alimentos podem interagir e interferir na qualidade ou melhora da liberação de algum hormônio. Todo mundo precisa de um nutricionista, mas quando isso é voltado para uma programação metabólica, gestacional, que envolve hormônio, é importante ter um olhar voltado para a fase de preparo”, comenta a profissional.

 É preciso ter equilíbrio entre alimentação e as escolhas do que é consumido - (Brasil Escola/Uol) Brasil Escola/Uol
É preciso ter equilíbrio entre alimentação e as escolhas do que é consumido

No caso de uma gestação natural, é necessária uma programação prévia tanto da mulher quanto do homem. E essa organização vai além da simples alimentação, ela inclui complementos, como a suplementação de nutrientes, ajuste de proteína, além de melhora da saúde do sono, saúde intestinal, prática de atividade física leve e constante.

“Muitas mulheres que estão em busca do corpo perfeito, acabam submetendo o corpo a atividades de alto impacto e intensidade, sem repouso, e tomam coisas que podem alterar os hormônios, e isso pode afetar nos resultados futuros e fazer com que ela não consiga engravidar”, complementa Érica Moura, nutricionista clínica especializada em saúde da mulher e fertilidade.


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