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O sentido das coisas: ensaios sobre a vida

Obra de Marcelo Eulálio convida o leitor a refletir sobre felicidade, amizade, angústia, e família como caminhos para compreender o sentido da vida.

04/10/2025 às 08h00

“Todo o racional é uma conclusão.” A frase de Hegel, retomada pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, ajuda a pensar a proposta central da obra O Sentido das Coisas, de Marcelo Eulálio, lançada recentemente e que eu já tive a oportunidade de ler, fechar os olhos, refletir e sentir, porque a obra do Marcelo traz a temática do “sentido” logo em seu título. Mas afinal, quando algo tem sentido? Toda coisa possui um sentido? O que significa buscar o sentido das coisas? 

O sentido de uma coisa está ligado à sua função. Mas o livro conduz o leitor por uma reflexão que vai muito além da simples função dos objetos. Se o automóvel tem como sentido o transporte, o que dizer do sentido do amor, da felicidade, da amizade, da angústia, da velhice, da verdade? Estas questões intrigam filósofos e pensadores desde a antiguidade.

Marcelo Eulálio constrói seus ensaios como um encadeamento, em camadas que se sobrepõem, e não como textos isolados. Pensando na ciência da lógica de Hegel, no sentido como categoria formal-lógica, O Sentido das Coisas precisa ter uma conclusão, e tem. Mas diferente da hipervisibilidade e da hipervigilância dessa sociedade da transparência de hoje, que exige uma exposição total e voluntária, onde os discursos narrativos deixam de existir. A conclusão, portanto, se revela de modo contemplativo. É preciso “fechar os olhos” para perceber que o sentido das coisas se confunde com o sentido da própria vida.

Ao longo da obra, o autor passeia por temas universais – felicidade, amizade, angústia, existência, verdade, violência – e dialoga com filósofos como Santo Agostinho, Heidegger e tantos outros, sempre com linguagem acessível. O ponto culminante está na família. É nesse espaço que o autor encontra o verdadeiro significado da palavra “vida”, o valor do amor que permanece e a noção de felicidade que não se apresenta de forma plena e constante, mas em pequenos pedaços que precisam ser reconhecidos e vividos.

Assim, O Sentido das Coisas é mais que um livro de filosofia: é também um testemunho sociológico e existencial. Ao falar de si, de sua infância, da juventude na Rua 24 de Janeiro, da esposa e dos filhos, o autor transforma sua própria experiência em reflexão coletiva.

Uma obra que me comoveu bastante porque, em que pese trazer ensaios pequenos, e aqui já penso ser uma influência do professor Carlos Evandro, são ensaios muito profundos. Você pode lê-los(todos) de rompante, mas você não vai compreender de rompante. É preciso parar, meditar sobre eles, contemplá-los. Tentar retirar da profundidade, a verdade, o sentido do que está escrito, os elementos que estão cobertos pelo véu da filosofia impressa na obra e que tão logo sejam descobertos, você se depara com a grande beleza de tudo o que está sendo dito aqui através do pensamento do autor. Para ler O Sentido das Coisas é preciso, repito, fechar os olhos.