A escassez de água potável pode deixar de ser um problema pontual para se tornar um desafio estrutural no Brasil nas próximas décadas. Um estudo do Instituto Trata Brasil projeta que, até 2050, as cidades brasileiras poderão enfrentar em média 12 dias de racionamento de água por ano, devido à combinação entre aumento do consumo, perdas no sistema e efeitos das mudanças climáticas.
Segundo o relatório “Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”, a disponibilidade hídrica no país deve cair cerca de 3,4% nos próximos 25 anos. Em regiões já afetadas pela baixa pluviosidade, como partes das regiões Nordeste e Centro-Oeste, o racionamento pode ultrapassar 30 dias por ano, trazendo sérias consequências para a saúde pública, economia e qualidade de vida da população.
Além da redução nas chuvas, o estudo aponta que a temperatura máxima do país deve aumentar cerca de 1°C e a mínima deve crescer 0,47°C em comparação a 2023. Isso resultará em maior evaporação e elevação no consumo doméstico de água, estimado em 12,4% acima do crescimento esperado apenas por fatores econômicos.
“As tendências climáticas indicam restrição de oferta de água de 3,4% na média do ano. Estes dois fatores combinados trazem a urgência de adotarmos medidas imediatas e efetivas para reduzir as perdas e planejarmos de forma sustentável o uso dos nossos recursos hídricos”, afirma Luana Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil.
O levantamento mostra que o Brasil, embora rico em recursos naturais, ainda convive com grande desigualdade no acesso e na eficiência do abastecimento. Em 2023, o consumo nacional foi de 10,7 bilhões de metros cúbicos de água tratada, o que corresponde a 175 litros diários por pessoa. Porém, mais de 40% dessa água se perde em vazamentos, furtos e falhas na distribuição. O volume desperdiçado seria suficiente para suprir a demanda adicional estimada até 2050.
Caso o atual nível de perdas se mantenha, o país precisará aumentar em quase 60% a produção de água tratada para atender à demanda projetada nos próximos 25 anos. Isso exigiria investimentos robustos no setor de saneamento, além de políticas públicas voltadas à gestão eficiente dos mananciais.
A pesquisa ainda revela que fatores como crescimento econômico, urbanização e temperatura influenciam diretamente no consumo de água pela população. Cidades mais urbanizadas e mais quentes tendem a gastar mais água por habitante. A cada grau Celsius adicional, a demanda por água cresce quase 25%. Já locais com maior umidade e mais dias de chuva apresentam consumo e oferta mais equilibrados.
O cenário projetado preocupa especialmente por seus impactos sociais. O aumento no número de dias sem abastecimento contínuo deve afetar principalmente populações vulneráveis, que já sofrem com o acesso precário à água e ao saneamento básico. O estudo alerta que as mudanças climáticas podem ampliar o semiárido brasileiro e levar à desertificação de novas áreas, agravando a crise hídrica em municípios do interior.
Para evitar um colapso no abastecimento, o levantamento reforça a importância de reduzir as perdas na rede, investir na universalização do saneamento e implementar planos de adaptação climática nas cidades. “Onde já enfrentamos escassez, como no Nordeste e no Centro-Oeste, a falta de água pode se prolongar por mais de 30 dias, o que traz impactos severos na saúde e na qualidade de vida das pessoas. É fundamental agir agora para promover eficiência e preparar o país para os desafios que virão”, alerta Luana Pretto.
Você quer estar por dentro de todas as novidades do Piauí, do Brasil e do mundo? Siga o Instagram do Sistema O Dia e entre no nosso canal do WhatsApp se mantenha atualizado com as últimas notícias. Siga, curta e acompanhe o líder de credibilidade também na internet.