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Teresina implantou menos de 5 km de ciclovias em quatro anos

O acidente envolvendo o médico e triatleta Brenno Andrade, no último dia 19 de julho, trouxe à tona uma discussão sobre a infraestrutura para ciclistas em Teresina e a segurança desses espaços. Brenno pedalava pela Avenida Professor Arimatéia Santos, na zona Leste da capital, quando colidiu com um caminhão estacionado. Ele sofreu escoriações e sangramento na cabeça, acendendo o alerta para as condições das ciclovias e ciclofaixas na cidade. Atualmente, Teresina possui 71,4 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas. Entretanto, nos últimos quatro anos, o crescimento foi de apenas 4,7 km, referindo-se exatamente à Avenida Arimatéia Santos, local do acidente.

Quem pedala diariamente, e já enfrentou e presenciou diversas situações, sabe a dificuldade que é transitar pelas ciclovias e ciclofaixas de Teresina. A fotógrafa Andressa Sipaúba (36) conta que a quantidade de ciclovias existente na cidade não é suficiente para trazer segurança aos ciclistas, e que é necessário investir, ainda, na sinalização e conscientização dos motoristas no trânsito.

Tem que aumentar, e muito, a quantidade de ciclovias, mas não só isso, mas a sinalização e as campanhas de conscientização de trânsito. Já tem pouca ciclovia e as poucas que tem não são respeitadas. Sempre tem carro parado para alguém descer, ou alguém que foi resolver algo ‘rapidinho’, ou para pela desimportância que dá para os outros veículos

Andressa Sipaúbafotógrafa e ciclista

A ciclista enfatiza ainda que não são apenas os carros que desrespeitam as faixas/ciclovias, os próprios pedestres/corredores causam transtorno ao utilizarem as faixas exclusivas para bicicletas enquanto fazem caminhada/corrida. “Não existe fiscalização, fora aquelas dos dias que em algumas ruas são fechadas, como nas avenidas Raul Lopes e Marechal. Sinto-me mais segura em pedalar na BR do que dentro da cidade. As pessoas não respeitam, algumas, inclusive, jogam o veículo para cima da gente propositalmente, tiram o famoso ‘fino’ por pura diversão deles”, denuncia Andressa Sipaúba.

Arquivo pessoal
A fotógrafa e ciclista, Andressa Sipaúba conta que a quantidade de ciclovias existente na cidade não é suficiente para trazer segurança

Segundo Ananda Patrícia, engenheira responsável pelo setor de trânsito da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (Strans), as ciclovias seguem o padrão do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), com sinalização vertical e horizontal, além de tachões amarelos que separam o espaço dos veículos do espaço dos ciclistas. A distância entre os tachões é de um metro, e a ciclovia da Arimatéia, por exemplo, tem largura de 2,5 metros.

“A via, além da sinalização, foi feita com uma largura de 2,5m, suficiente para a prática do esporte. A fiscalização é constante, mas sempre há condutores que estacionam onde não deveriam. Infelizmente, como na Arimatéia não há videomonitoramento nem agente de trânsito, acabou acontecendo o acidente”, explicou a engenheira.

Ithyara Borges/ODIA
Teresina implantou menos de 5 km de ciclovias em quatro anos

Por ser uma via recente, a ausência de videomonitoramento e de fiscalização no trecho são fatores que comprometem a segurança de quem utiliza o local. De acordo com Ananda Patrícia, a Strans não possui um levantamento sobre acidentes envolvendo ciclistas em Teresina, o que dificulta a identificação de pontos críticos da cidade. Diante disso, a Strans tem articulado uma parceria com o Hospital de Urgência de Teresina (HUT), além de outros hospitais e órgãos como a Polícia Militar, para criar uma base de dados com registros de vítimas de acidentes com bicicleta.

“Antes da última gestão, tínhamos um relatório semestral informando diversos tipos de ocorrências, e conseguíamos atuar nesses pontos conforme o tipo de acidente. Atualmente, não temos esses dados, mas estamos retomando esse serviço. Acreditamos que no próximo semestre consigamos ter esse relatório”, completou.

Assis Fernandes/ODIA
Ananda Patrícia, engenheira responsável pelo setor de trânsito da Strans

Até 2020, Teresina contava com 43 km de ciclovias e ciclofaixas. De 2021 a 2021, foi executado apenas metade da rede mínima cicloviária, ou seja, somente 22 km. Assim, a cidade tem pouco mais de 60 km finalizados, que estão em fase de complementação com os trechos mais recentes. Há um planejamento previsto no Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Teresina que visa implantar uma rede cicloviária estrutural com 136 km, interligando todas as vias existentes e formando um sistema completo de mobilidade para ciclistas. No entanto, esse avanço pode demorar.

“Tínhamos um recurso externo da CAF (Cooperativa Latino-Americana de Fomento) para elaborar o projeto executivo da rede estrutural e executar a obra. Porém, na última gestão, perdemos esse recurso. Quando iniciamos esta gestão, tentamos retomar o financiamento, mas, como foi perdido, teremos que recomeçar do zero para captar esse recurso novamente”, explicou Ananda.

Ithyara Borges/ODIA
Teresina implantou menos de 5 km de ciclovias em quatro anos

Hoje, a maioria dos usuários das ciclovias são atletas ou praticantes ocasionais. Isso porque os trabalhadores que se deslocam de bicicleta frequentemente não encontram rotas completas que liguem suas casas aos locais de trabalho.

“Antigamente, as ciclovias eram construídas conforme as vias iam sendo feitas. Depois veio a rede mínima, com o objetivo de ampliar os trechos dentro do centro, atraindo mais pessoas. A rede estrutural é a interligação de todas essas partes. Quando for totalmente executada, Teresina terá quase 200 km de ciclovias e ciclofaixas, beneficiando toda a população”, finaliza a engenheira.

Ciclovias e ciclofaixas de Teresina

Divulgação/Strans
Mapa das ciclovias e ciclofaixas em Teresina

Verde: Rede existente (43 km até 2020)

Vermelha: Rede mínima (22 km até 2022)

Amarelo: Rede estrutural (136 km aguardando projeto para ampliação)


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