“Risonha, entre dois rios que te abraçam”. A frase, parte da poesia que gera o hino de Teresina, descreve bem a cidade, principalmente nos momentos especiais em que o sol bate no espelho d’água dos rios Poty e Parnaíba, que envolvem a capital. Construída na confluência dos dois corpos fluviais, Teresina tem no encontro dos rios um dos seus mais belos cartões-postais, além de uma forma viva de revisitar sua própria história.
Para exaltar ainda mais a beleza, tradicional da cidade mesopotâmica (ou seja, localizada entre dois rios), todos os finais de semana, moradores e visitantes se encontram no Parque Ambiental do Encontro dos Rios para aproveitar a oportunidade de conhecer a capital sob outro ponto de vista. O passeio acontece a bordo de um barco guiado pelo experiente pescador José Francisco, que conhece cada curva, margem e história da cidade através de suas águas.
Por 20 reais (cobrado por pessoa), é possível fazer um tour com duração de cerca de 25 minutos. O programa sai do ponto de encontro, contorna uma das pontes da cidade, percorre boa parte do Parnaíba e volta ao Poty, até retornar ao ponto de encontro inicial. É um passeio simples, mas potente em significado.
Para muitos que realmente saem de casa, especialmente aos finais de semana, buscando conhecer mais sobre a capital piauiense, o momento representa, mais do que lazer, uma chance de descobrir uma outra Teresina, mais verde, calma e próxima de suas origens. Dentro do barco, a cidade se mostra diferente daquela vista sob o asfalto e em meio aos prédios, com barulhos urbanos que se misturam ao som das águas. A paisagem convida à contemplação e a sensação, para a maioria, é de redescoberta.
A proposta, porém, vai além do passeio rápido. Há trajetos que podem ser mais longos e personalizados. Por exemplo, se for da vontade do visitante, o barqueiro e guia José Francisco pode ajustar o roteiro, o tempo e o preço conforme o percurso desejado. Turistas de outras cidades pedem para ir à Coroa do Parnaíba, para mergulhar ou apenas contemplar a quietude das ilhas formadas pelo rio. Entre as margens preservadas, a vegetação vibrante revela que a natureza ainda resiste no centro urbano, na zona Norte da capital.
Entretanto, o programa não é apenas uma aventura ecológica, mas também uma lição viva sobre a memória da cidade. “Teresina começou a partir do rio”, ressalta José Francisco. A fundação da cidade tem raízes na navegação, na pesca e na vida ribeirinha, com o bairro Poti Velho (onde fica localizado o Encontro dos Rios) sendo o primeiro da capital. Na região, há tradicionais comunidades de pescadores onde, antes mesmo de Teresina existir, já se vivia ao ritmo ditado pelos rios.
História Teresinense
No Parque Ambiental, há também manifestações culturais, como quiosques de artesanato, exposições e trilhas para visitantes fazerem caminhadas, admirando a paisagem natural. Um dos pontos maias simbólicos é o monumento do Cabeça-de-Cuia, lenda folclórica que corre no Piauí há gerações. A figura lendária de Crispin, que a tradição diz ter sido amaldiçoado a vagar pelos rios em forma de cabeça de cuia, ecoa na mitologia local e dá a paisagem uma aura mítica.
Após o passeio, muitos visitantes aproveitam para saborear a culinária local no restaurante flutuante, instalado sobre as águas no parque. Em meio a pratos que tem o peixe como protagonista e a leve brisa vinda da margem das águas, é possível sentir a identidade da gastronomia piauiense.
A maior força do roteiro, contudo, não está apenas nos atrativos culturais ou naturais. Está, também, na consciência ambiental que ele desperta. Para José Francisco, ver as pessoas navegando nas águas de Teresina pela primeira vez significa plantar sementes de carinho e responsabilidade. “Muitas vezes, a pessoa não vai preservar aquilo que não conhece. Mas, a partir do momento que ela entra no rio, ela vai passar a preservar”, diz o guia. É um ciclo virtuoso que envolve o turismo que educa, conecta e fortalece o sentimento de pertencimento a Teresina.
Nos últimos anos, o turismo piauiense também vem apostando nesse potencial. Projetos turísticos mais estruturados que ligam pontos como o Zoobotânico e a Ponte Estaiada, com trajetos que mesclam lazer, festas, jantares e roteiros educativos. Esse tipo de iniciativa reforça o rio como via de integração entre os bairros, um canal de sustentabilidade e identidade para a capital.
Além disso, há esforços para a preservação e valorização de outros pontos ao longo dos cursos das águas que envolvem Teresina. As margens do Poti, por exemplo, guardam uma floresta fóssil, uma relíquia urbana com troncos de milhões de anos, e as trilhas permitem observar desde espécies vegetais até os edifícios mais elevados da cidade, tudo sob a perspectiva dos rios.
Para os moradores de Teresina que participam do passeio, o momento é também de reflexão. “Esquecemos que temos folclore, temos história, pontos turísticos” comenta um frequentador. E o barco surge como uma forma de resgatar memórias antigas e ir de encontro com as gerações mais novas, para que a cultura local não se perca.
O tour sobre as águas que abraçam a capital piauiense não é somente para turistas. O momento é para todos aqueles que querem reencontrar e descobrir mais sobre sua cidade, olhando para ela sobre novos olhos e entendendo que Teresina não é só feita de ruas asfaltadas e edifícios, mas também de rios carregados de vida, histórias e futuro.
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