Ma foire. Do francês: minha feira. Uma referência internacional para algo singelo. A tradição oral conta que foi essa expressão a responsável por dar nome a um dos mercados mais antigos de Teresina, o Mercado do Mafuá, localizado na zona Norte da capital, próximo à linha férrea. E foi exatamente a construção desse conjunto ferroviário que influenciou no surgimento desse importante ponto turístico, cultural, econômico e de memória dos teresinenses.
As origens do bairro e do mercado do Mafuá estão conectadas. Essa ligação inicia em meados dos anos 1920, com o planejamento para a construção do conjunto ferroviário ligando Teresina (PI) a São Luis (MA), inaugurada em 1926, e da Ponte Metálica João Luís Ferreira, inaugurada em 1939. O local, que hoje é o Mercado do Mafuá, tornou- -se um ponto de encontro dos operários que trabalhavam no nivelamento da Avenida Miguel Rosa. Era ali que eles descansavam e se alimentavam.
Esse primeiro mercado fazia parte de um espaço particular e surge por meio de uma figura emblemática para a formação do bairro Mafuá: Augusto Ferro. Um comerciante de visão, que, percebendo o potencial de vendas, cria um pequeno comércio no local. Proprietário dos terrenos ali próximo, Ferro cede uma parte para que outros comerciantes também pudessem trabalhar. Surge, assim, a primeira ideia de mercado, mas de maneira singela. Foi somente em 1966 que o mercado passou a ser de alvenaria, sendo inaugurado, na época, pelo prefeito Hugo Bastos.
Mercado, um espaço de memória
A historiadora Viviane Pedrazzani comenta que o Mercado do Mafuá, assim como os demais mercados, cumpre uma função de interposto comercial, com a venda de produtos de primeira necessidade, entretanto, sua importância ultrapassa os muros físicos.
“O mercado tem uma importância história, que vai além dos prédios e dos muros. Percebemos que os mercados agregam no modo de estar ali. As pessoas que frequentam os mercados poderiam ir a um supermercado, mas, mesmo tendo outras opções, mantêm a tradição de comprar sua carne, seus grãos e verduras nos mercados. São pessoas que construíram suas vidas ali, passando para suas famílias e mantendo essa identidade cultural e um espaço de memória. O mercado é um patrimônio”, destaca a historiadora.
Por muitos anos, o contador Pedro de Alcântara (67) morou nas proximidades do Mercado do Mafuá. As visitas ao local eram quase que diárias e o destino era certo, a praça de alimentação. Tomar café no mercado tornou-se uma tradição que ele faz questão de manter até hoje.
“Gosto muito de bolo frito e aqui sempre encontro bem fresco e quentinho, além do cafezinho. Embora eu tome café em casa, ainda tenho esse costume de tomar café no mercado. Mesmo morando longe, mantenho a tradição de vir aqui. Os mercados, muitas vezes, são um ponto de encontro das pessoas que querem sentar, tomar um café, conversar, trazer as pessoas que vêm de outros lugares para conhecer. Tudo isso contribui para a economia da cidade, para o turismo e para manter a história”, complementa o contador.
Sabores do Mercado do Mafuá
A tradição de frequentar os mercados é passada ao longo das gerações. Não somente por aqueles que trabalham e fazem desse ofício o sustento familiar, mas dos que visitam esses patrimônios para apreciar suas iguarias. Aos domingos, o Mercado do Mafuá fica pequeno para os apreciados do bolo frito e da panelada. A feira é movimentada e recebe pessoas de todas as idades.
Ancelismar de Sousa Barros, ou apenas Solimar, tem 63 anos. Desses, mais de 40 anos são trabalhando no Mercado do Mafuá. Natural de Barras, Solimar veio a Teresina buscando a formação para se tornar professora, mas foi no mercado que encontrou sua vocação. Segundo ela, os clientes elegeram seu bolo frito como o melhor do Piauí.
“Minha tia trabalhava com fruta e comida no Mercado do Mafuá e precisava de alguém para ajudá-la. Pela manhã, eu ajudava nas vendas e à tarde ia para o Instituto. Quando ela saiu, assumi a barraca com a irmã, mas comecei a vender bolo frito. Eu não sabia fazer e os clientes compravam para me ajudar. Hoje em dia, eles vêm pelo meu bolo e nem olham mais para mim. Foi assim que criei meus dois filhos e ajudo até hoje minha família”, disse.
Francileide Pereira da Silva (37) trabalha há 27 anos no mercado e herdou a banca de verduras de sua mãe, que já tinha mais de 50 anos de Mercado do Mafuá. Ela conta que, desde pequena, corre pelos corredores do local e mantém uma relação de carinho e afeto com o espaço. “A nossa relação com o mercado é antiga. Sou filha do Mercado do Mafuá. É daqui que tiro o sustento da minha família. Aqui é um lugar agradável para trabalhar. Por mais que a feira não esteja boa, a brincadeira e a amizade fazem com que o dia fique melhor. Costumo dizer que aqui é nossa segunda casa”, acrescenta.
Seu Cláudio da Silva Nunes (74 anos), trabalha no Mercado do Mafuá desde a década de 1970 e é um dos permissionários mais antigos do espaço. Ele trabalha no setor de carnes e conta que sua relação com o mercado iniciou quando ele trabalhava como servente de pedreiro. “Eu trabalhei na construção das casas que ficavam ao redor do mercado. Meu irmão comprou uma banca no mercado e passamos a trabalhar juntos. Gostei e acabei ficando. Eu gosto de trabalhar no mercado e foi daqui que sustentei meus nove filhos”, destaca o comerciante.
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