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Em alta, carreiras em tecnologia dispensam diploma e valorizam competências técnicas

O mercado de trabalho tem passado por grandes mudanças, especialmente com a constante inclusão de novas ferramentas tecnológicas. Isso exige não apenas profissionais capacitados para manuseá-las, mas também mão de obra qualificada e disposta a aprender coisas novas. Muitas dessas áreas não exigem uma formação acadêmica, mas valorizam habilidades práticas, criatividade e a capacidade de adaptação às demandas. Trata-se de uma boa opção tanto para quem não possui um diploma universitário quanto para quem deseja mudar de área e ingressar em uma nova carreira.

Foi o que aconteceu com o programador Luan Pallin. Formado em Administração, o jovem atuou por dois anos na área, em startups de outros estados. Mas foi em meio a um problema enfrentado por uma multinacional, onde precisou atuar na área de programação, que ele se viu apaixonado por essa nova carreira.

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Em alta, carreiras em tecnologia dispensam diploma e valorizam competências técnicas

“Ali eu tive o primeiro contato com os códigos, sem ter nenhuma formação. Eu olhava o profissional lendo aqueles códigos e pensava: ‘Quero saber fazer isso também’. Perguntei para ele o que era e como eu poderia atuar nessa área, e foi então que decidi migrar. Minha formação é totalmente distinta da área em que atuo hoje”, comenta.

Atualmente, Luan atua como Engenheiro de Dados há seis anos e está se especializando em Engenharia de Inteligência Artificial. A carreira surgiu de uma oportunidade enquanto ainda estava em outra empresa. Ele chegou a iniciar o curso de Engenharia de Software e, com apenas quatro meses de faculdade, foi convidado a atuar como Analista de Dados, uma área que exige conhecimento específico em programação e lógica. Para atender à demanda, tem investido em capacitação por meio de especializações, pós-graduação e outros cursos. A faculdade precisou ser trancada, mas o conhecimento adquirido já lhe proporcionou inúmeras oportunidades.

O programador garante que a falta de um diploma em Engenharia de Software nunca o impediu de conquistar empregos, e destaca que o mercado mudou: cobra-se não apenas conhecimento teórico, mas principalmente o domínio prático das habilidades. “As pessoas estão muito mais exigentes, e adquirir conhecimento de forma autodidata está cada vez mais desafiador. Entretanto, quando olhamos para o setor de tecnologia, não basta apenas ter um diploma. Na hora da entrevista técnica ou do live coding, ou você sabe e conquista o emprego, ou não sabe e volta para os livros, seja na faculdade ou por conta própria”, afirma.

Apesar de não ter formação acadêmica na área em que atua, Luan está em constante aperfeiçoamento.

Não ter um diploma na área não significa que você deve parar de estudar. Pelo contrário, é aí que você precisa se dedicar ainda mais. A tecnologia muda constantemente, e a curva de evolução é cada vez mais exponencial. Sempre temos que buscar o novo

Luan Pallinprogramador

Mesmo atuando em uma área totalmente diferente da sua formação original, Luan Pallin afirma que o retorno financeiro é significativamente maior. Porém, ele destaca que isso exige tempo, dedicação e qualificação. Além de um bom salário, o programador conseguiu crescer profissionalmente, algo que, segundo ele, demoraria mais para ser alcançado se tivesse seguido carreira na área de origem.

“Se eu estivesse na minha área de formação, provavelmente estaria ganhando um salário um pouco menor, e para chegar ao cargo de gerente ou supervisor demoraria muito mais. Além disso, eu jamais teria a quantidade de ofertas de emprego que recebo semanalmente. Não teria as possibilidades de crescimento, nem o prazer de trabalhar com o que gosto. A tecnologia abre portas que outras áreas não abrem, principalmente se sua origem for humilde, como foi a minha”, relata.

Apesar disso, o programador ressalta que cabe a cada profissional decidir o caminho que deseja seguir, reforçando que não é certo ou errado atuar em uma área sem ensino superior, ou escolher seguir uma carreira após a formação tradicional. Independentemente da escolha, ter habilidades, criatividade e interesse em aprender algo novo será sempre o grande diferencial.

“A tecnologia permite a absorção de profissionais sem diplomas, pois o conhecimento necessário está disponível na web. Basta ter interesse e se especializar. Depois, é só provar que você sabe, o diploma apenas acompanha. Em outras áreas, essa questão é completamente diferente, e a perspectiva muda. Cada campo exige uma formação e uma trajetória próprias. A tecnologia não exige, necessariamente, um diploma, mas sim muita disciplina, interesse, paixão, paciência e muitas horas de estudo”, conclui o programador Luan Pallin.

Cresce a busca por cursos que não exigem de diploma de ensino superior

Com as transformações da sociedade e o avanço da tecnologia, o mercado de trabalho tem exigido cada vez mais habilidades práticas e específicas, nem sempre ligadas à formação universitária tradicional. Pensando nisso, o Senac Unidade Centro, em Teresina, tem investido em cursos que não exigem diploma de ensino superior e oferecem rápida inserção no mercado.

Segundo Júlia Macedo, gerente da unidade, os cursos de qualificação e técnicos são pensados para atender à nova demanda profissional. “Com nossos cursos de qualificação e técnicos, que são cursos rápidos, estamos entregando o que o mercado está buscando”, explica.

As áreas com maior destaque são aquelas voltadas para tecnologia, como Inteligência Artificial, suporte de TI, manutenção de redes, design gráfico digital e construção de sites. São carreiras promissoras, com alta demanda e que podem ser iniciadas sem a necessidade de graduação.

Divulgação/Senac
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Além do setor tecnológico, outras áreas também oferecem oportunidades para profissionais com cursos livres ou técnicos. Gastronomia e gestão de mídias digitais estão entre elas, com formações voltadas para social media, analista de marketing digital, tráfego pago, editor de vídeo e filmmaker.

A carga horária dos cursos varia: os de qualificação têm entre 80 e 400 horas, enquanto os técnicos, voltados para quem tem ensino médio, podem chegar a 1.800 horas, com duração de 15 a 18 meses.

“São cursos que dão uma alavancada na sua carreira, especializando esse profissional. Podem ser feitos tanto por quem deseja se aperfeiçoar quanto por quem quer mudar de área”, reforça Júlia Macedo.

Formação acadêmica ainda é essencial em meio às mudanças do mercado de trabalho

Com o surgimento de novas áreas e profissões, especialmente ligadas à tecnologia, as instituições de ensino superior têm enfrentado o desafio de adaptar seus cursos e métodos para acompanhar as mudanças do mercado. Segundo Edjofre Coelho, diretor de Ensino do Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA), essa transformação exige atenção constante às diretrizes do Ministério da Educação (MEC) e ao que está ocorrendo na sociedade em níveis regional, nacional e mundial.

De acordo com o profissional, o surgimento e a queda de determinadas profissões são sazonais e influenciados por fatores políticos, sociais e econômicos. A geração atual, que nasceu na era digital, tende a se afastar de áreas tradicionais como Direito e Medicina e busca carreiras ligadas à tecnologia, como Engenharia de Software e Ciências da Computação. “A nova geração até atuará nas áreas tradicionais, mas estará com um olhar mais tecnológico. Eles não aceitam apenas um ensino mais tradicional, exigem também que existam aplicativos e ferramentas que auxiliem nesse ensino e no desenvolvimento das atividades”, destaca.

Assis Fernandes/ODIA
Edjofre Coelho, diretor de Ensino do Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA)

Apesar das mudanças, Edjofre alerta para os riscos da atuação em novas áreas sem a devida formação acadêmica. Segundo ele, muitos profissionais têm ingressado em setores em ascensão sem a qualificação necessária, o que pode trazer prejuízos no futuro. “Em algum momento, a falta dessa capacitação será um empecilho, pois será cobrado algo que esse profissional não dará conta, seja pela falta de ética ou de habilitação”, reforça.

Para Coelho, a formação acadêmica vai além da técnica e do conteúdo programático. Ela também é responsável por promover vivências, debates e o desenvolvimento das relações sociais. “Sentimos muita falta desse local de formação. Ter uma formação acadêmica vai além do desenvolvimento da ciência”, acrescenta.

Procura por cursos de licenciatura tem diminuído

Um problema crescente identificado por Edjofre Coelho é a queda na procura por cursos de licenciatura, o que representa um risco para a sociedade. “Em pouco tempo, vamos perceber uma carência de professores do ensino básico no mercado. Quem vai ensinar a criança a ler e a escrever até o quinto ano é o pedagogo; quem vai ensinar as linguagens são os especialistas das áreas de formação de Letras, de Matemática, de História, entre outras. Estamos começando a ter uma carência enorme nessas áreas e isso não é uma realidade apenas do ensino privado, mas do público também”, comenta.

Segundo ele, a formação de educadores é essencial para garantir o futuro da educação básica, desde a alfabetização até o ensino fundamental. O diretor de Ensino explica que a desvalorização financeira da profissão e o desgaste físico e emocional da carreira docente estão entre os principais motivos da baixa procura. Com turmas cada vez menores, as instituições de ensino superior enfrentam o desafio de manter a formação de profissionais que serão responsáveis por ensinar as próximas gerações.


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