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Dia do Professor: educadores reinventam aprendizagem com tecnologia aliada à prática

Em uma geração em que as crianças já nascem deslizando o dedo na tela de um celular, o desafio de professores, cada vez mais, vai muito além de ensinar letras e números. É preciso despertar curiosidade, criatividade e senso crítico, isso tudo em meio à competição com o brilho das telas, jogos online e redes sociais. Mas há quem esteja vencendo essa disputa com uma mistura poderosa entre tecnologia e ensino tradicional, com prática “mão na massa”.

Na Educação Infantil, esse movimento ganha ainda mais força. Segundo um relatório realizado pelo Ministério da Educação (MEC) com alunos entre o 6º e o 9º anos do Ensino Fundamental, quatro em cada dez adolescentes brasileiros acreditam que a “escola do futuro” precisa ter mais aulas práticas. Enquanto isso, há educadores que já vivem essa realidade no presente. É o caso da Ana Thais Cunha, funcionária de uma escola da rede municipal de ensino, exemplo vivo dessa transformação que o ensino vem sofrendo ao longo dos anos.

Reprodução/Arquivo Pessoal
Dia do Professor: educadores reinventam aprendizagem com tecnologia aliada à prática

“Quando as aulas envolvem experiências práticas e tecnológicas, as crianças se engajam muito mais. Elas se esforçam, compreendem melhor o que estamos ensinando e participam com alegria”, conta Ana Thais, que atua há cerca de 15 anos na rede pública e hoje cursa pós-graduação em Educação Infantil.

Ela explica que o segredo está em entender a tecnologia como um recurso que pode ser usado a serviço da aprendizagem, e não como um fim em si mesmo. “As pessoas acham que tecnologia é só celular ou o computador, mas não é. Tecnologia é qualquer recurso novo que nos ajuda a ensinar e aprender melhor”, explica.

Na escola onde Thais trabalha ou já trabalhou, atividades como oficinas de massinha, festas do pijama com cineminha e ditados dinâmicos são alguns exemplos de práticas que combinam ludicidade e aprendizado. “Eles amam quando podem participar, mexer, experimentar. Quando estouram um balão para achar uma palavra, quando puxam uma letrinha de um envelope, quando usam tinta guache. A aula deixa de ser algo distante e vira algo deles, que faz sentido”, diz.

Para a professora, o papel do educador não é “fazer um show”, mas criar intencionalidade nas atividades. “A diferença está em como o professor direciona. O que você quer com aquela prática? Tudo precisa ter um propósito”. Ela afirma que, mesmo sem computadores em sala de aula, o uso de celular pode ser bem-vindo, de forma controlado e pedagógica. “As professoras usam o celular para colocar músicas, gravar vídeos das atividades e mandar para as famílias. Isso cria um vínculo importante entre casa e escola. A tecnologia pode aproximar, desde que seja bem usada”, destaca Ana.

Reprodução/Arquivo Pessoal
Dia do Professor: educadores reinventam aprendizagem com tecnologia aliada à prática

Impacto da pandemia e desafios atuais

Durante a pandemia de Covid-19, Ana Thais viu seu papel como educadora mudar completamente. “Montei um miniestúdio em casa. Gravava vídeos, fazia chamadas de vídeo com as crianças todos os dias. No começo, eles achavam bom, diziam que estavam de férias. Depois, começaram a sentir falta dos colegas, da rotina. Foi difícil, mas aprendi muito”, revela.

Sem ter domínio de aplicativos, Ana precisou aprender, sozinha, a usar ferramentas como programas de edição de vídeo para editar aulas e criar atividades mais interativas. “Gravava de madrugada, usava perucas, fantasias, qualquer coisa que chamasse atenção deles. Era cansativo, mas gratificante. Vi o quanto a tecnologia podia ser uma aliada, mesmo em tempos tão duros”, reforça.

As famílias dos alunos, segundo a professora, também tiveram um papel fundamental nesse processo. “A maioria participava, mesmo com todas as dificuldades. Muitas crianças viviam em realidades muito vulneráveis, mas se esforçavam para acompanhar. Eu aprendi que, mesmo sem estrutura, o ensino acontece”.

Atualmente, o maior desafio para o professor, de acordo com Ana Thais, não está mais nas crianças, mas nas famílias. “As crianças são reflexos do que vivem em casa. Vemos alunos que chegam sem rotina de sono, comendo salgadinho de manhã, levando brinquedos e até objetos impróprios. Muitos pais entregam o celular para facilitar o dia a dia, e isso impacta o comportamento deles na escola”, reforça a educadora.

Por isso, ela defende que o professor precisa ser resiliente e firme, além de criativo. “Ser professora hoje é ser resiliente todos os dias. Temos que lidar com muitos desafios, como famílias desestruturadas, falta de apoio, agressões verbais, sobrecarga e, mesmo assim, continuar acreditando que estamos fazendo a diferença”.

Ana Thais acredita que a valorização do educador ainda é um ponto bastante sensível. “Antigamente, as famílias respeitavam mais. Hoje, muitas vezes não recebemos nem um bom dia, nem um agradecimento. Mas também há aquelas famílias que reconhecem, que dizem ‘professora, meu filho não sabia nada e agora está lendo’. Isso dá sentindo a tudo”, conta ela.

Reprodução/Arquivo Pessoal
Dia do Professor: educadores reinventam aprendizagem com tecnologia aliada à prática

A escola do futuro

As práticas desenvolvidas por professoras como Thais mostram que a escola do futuro já está em construção, e que ela nasce na Educação Infantil. O uso criativo da tecnologia, aliado a metodologias ativas, faz da sala de aula um espaço vivo, em que as crianças aprendem com o corpo, com as emoções e com o outro. “Quando a professora transforma a aula em experiência, a criança aprende de verdade. E é isso que queremos, que elas entendam que aprender pode ser prazeroso”, afirma.

Para Ana Thais, que tem uma longa e extensa experiência com o ensino, especialmente na educação infantil, cada massinha amassada, cada balão estourado, cada música cantada em grupo é uma semente de aprendizado e, também, humanidade. “O professor é quem forma todas as profissões. É quem planta as primeiras ideias, as primeiras descobertas, e o que eu mais quero é que as famílias e a sociedade vejam isso. Porque, apesar de tudo, ensinar continua sendo um ato de amor”.


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