Localizado na região central de Teresina, o Centro de Artesanato Mestre Dezinho, é um espaço dedicado ao artesanato e à produção e comercialização da arte piauiense. Construído por volta de 1911, o ponto turístico integra o Complexo Cultural, que engloba a Praça Pedro II, o Theatro 4 de Setembro e o Centro Cultural Clube dos Diários, um importante roteiro que conta a história do Piauí e da nossa capital.
Antes de ser transformado em centro cultural, o prédio histórico era a sede do Quartel Militar, e foi durante a gestão do governador Lucídio Portela, em 1981, que o espaço se tornou um local para venda de peças de artesanato produzidas pelos artesãos piauienses. Atualmente, o local possui 34 lojas para comercialização.
Rosimeire Vieira, assessora técnica da Central de Artesanato, lembra que, antes de mudar para o espaço atual, os artesãos ficavam em um prédio em frente ao Palácio de Karnak. Entretanto, o local era pequeno e não o número de artesãos era reduzido.
“Quando veio para cá foi possível expandir, com espaços para comercialização de produtos de artesanatos, desde cestaria, escultura, tecelagem, cerâmica e peças trazidas de outros municípios, como a cerâmica da Serra da Capivara (São Raimundo Nonato), a opala, de Pedro II”, cita.
As visitas ao Centro de Artesanato costumam ser mais comuns em períodos de férias, como nos meses de janeiro, fevereiro e julho. Em geral, são pessoas que vem ao Piauí conhecer o litoral do estado e, na volta, quando estão em Teresina, aproveita para conhecer os pontos turísticos da capital.
O Centro de Artesanato está passando por uma reforma, que deve ser concluída em 2024. Dentre as intervenções, está o reparo dos corredores, do Auditório Mestre Expedito e do palco. Com a conclusão das obras, a expectativa é de que o local volte a ser utilizado para realização de shows e eventos.
As cooperativas, associações e grupos ficam localizadas no Centro de Artesanato. A presença desses representante é uma forma, não somente de representar a classe, mas de fomentar e incentivar que os artistas participem de feiras, exposições e também se incentivem. É nesses eventos que eles conseguem expor suas obras e fazer contatos com clientes, lojistas, arquitetos e outros profissionais que possam adquirir e divulgar seus produtos.
“Entendemos a importância das associações como forma de incentivar, de valorizar e divulgar seus trabalhos. A união faz a força e, juntos, com certeza eles terão mais sucesso, vendas e troca de experiência entre eles, para se fortalecerem”, pontua Rosimeire Vieira, assessora técnica da Central de Artesanato.
O que você encontra no Centro de Artesanato?
- Auditório Mestre Expedito;
- lojas para comercialização de produtos artesanais;
- pátio interno para estacionamento;
- palco para shows artísticos e culturais;
- restaurante de comidas típicas;
- espaço Buriti (oficina aberta);
- monumento em ferro da Árvore da Macrofauna;
- monumento em homenagem ao vaqueiro piauiense;
- Jardim da História;
- Escada das lendas;
- monumento da imagem de Nossa Senhora da Vitória, Padroeira do Piauí;
- 45 painéis retratando a história do Piauí desde a colonização;
- Escola de Dança do Piauí;
- Escola de Música;
- Agência do Empreendedor.
Grandes nomes do artesanato piauiense
Ao longo do Centro de Artesanato Mestre Dezinho é possível encontrar obras de diversos artistas espalhadas pelo espaço. São esculturas em ferro, madeira e argila, pinturas e quadros que contam um pouco da história do Piauí e desses grandes nomes.
O nome Mestre Dezinho é uma homenagem ao artesão considerado o pioneiro da arte santeira no Piauí, representada por pequenas imagens de santos esculpidas em madeira. Esse tipo de peça é um exemplo do que você vai encontrar na Central de Artesanato Mestre Dezinho, além de artesanatos feitos a base de fibras, couro, talos de buriti e outros produtos.
Quem visitar o Centro de Artesanato pode apreciar o Jardim da História, com diversas personalidades piauienses feitas em barro. As esculturas retratam personalidades como Torquato Neto, Esperança Garcia, Da Costa e Silva e tantos outros, e foram confeccionadas pelo artesão Charles do Delta.
Na entrada do Centro de Artesanato há uma imensa escultura feita em metal pelo artista Carlos Martins. O monumento, denominado de Árvore da Macrofauna, representa o homem e a macrofauna do Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato. Na árvore, além do homem que aqui chegou em 50.000 anos, estão representados o mastodonte, a preguiça-gigante e o tigre dente de sabre.
Nas paredes de todo o espaço há 45 painéis contando a história do Piauí, desde o início da colonização. Eles foram pintados pelo artista Jeová Santos, em 2006. No local também há um espaço ao ar livre onde são realizadas oficinas com o mestre Dim. “Eles estão sempre trabalhando no local, então quem as pessoas podem ver eles trabalhando, vivenciados suas histórias e processo de criação”, conta Rosimeire Vieira.
Carteira do artesão
A carteira do artesão é necessária, não apenas para o reconhecimento da profissão, mas também para que o artista possa expor suas peças e participar de feiras. Para emitir a carteira é necessário atender aos seguintes requisitos e apresentação os documentos (original e cópia):
- foto 3x4 (recente);
- comprovante de residência (atual);
- CPF e RG;
- PIS/PASEP ou NIT (se contribuir com o INSS).
É necessário apresentar peças prontas, em três técnicas diferentes. Não é necessário o domínio das três técnicas, somente uma, mas o limite para o cadastro são três. Além disso, o artesão deve apresentar uma peça inacabada e finalizá-la na frente dos avaliadores, comprovando o domínio da técnica, ou apresente um vídeo produzindo uma peça.
O amor pelo bordado e artesanato
Maria Moreira, ou tia Maria, tem 94 anos e trabalha no Centro de Artesanato desde a fundação do espaço. Ela conta que aprendeu a bordar ainda criança, quando morava no município de Marcos Parente. Após o casamento, mudou-se para Teresina. A professora por formação, aproveitava o tempo livre para fazer seus bordados. Foi quando surgiu a oportunidade de ter uma loja no Centro de Artesanato.
“Eu tive oito dias para montar a loja, mas como meus bordados eram por encomenda, eu não tinha nada para expor. Então, peguei as bonecas que fiz para minha neta e os jogos de cama do casamento da minha filha e coloquei na loja com preço bem alto. Não era para vender, era só para expor. Comprei alguns chaveiros e umas blusas, que fui bordando aos poucos. No tempo livre, eu ia produzindo minhas peças e, em três meses, eu já tinha a loja toda montada”, contou.
Apesar da idade, tia Maria continua bordando. Quase todas as peças que têm em sua loja foram produzidas pela dona Maria. São panos de prato, jogo de cama, puxas-sacos, toalhas, bate-mãos e tantas outras peças bordadas e costuradas por ela. Em média, um bordado de pano de prato demora até três dias para ser feito. Segundo tia Maria, um trabalho minucioso, mas que não é valorizado pelas pessoas.
“Costumo dizer que moro aqui e só vou em casa para dormir. Quando eu não estou atendendo e limpando, estou trabalhando. Fazer peças à mão dá trabalho e leva muito tempo, mas as pessoas não valorizam, acham caro. Eu fiz uma renda para colocar em rede, que custa R$ 500. As pessoas acham caro, mas esse valor não paga nem o material, que dirá o tempo que levei para fazer. É uma peça que vai ficar aqui, parada, porque ninguém quer comprar”, complementa tia Maria.
Mais atividades culturais para atrair turistas
O Centro de Artesanato Mestre Dezinho já foi cenário para muitos eventos e show, porém, desde a pandemia, o local está sem receber essas atrações. Sem atrativos, o público no local fica resumido a visitantes vindos de outros estados.
Para Rosimeire Vieira, investir em atrações seria uma forma de deixar o local mais movimentando, fomentando não somente a cultura, mas também a economia. “Infelizmente não temos uma cultura muito característica do nosso Estado, então é o artesanato que atrai as pessoas. Muitas pessoas visitam mais o Mercado Central do que o Centro de Artesanato, devido à nossa visibilidade. Mas nós ficamos no meio do corredor cultural de Teresina”, comenta.
Além das peças artesanais comercializadas, a Central de Artesanato Mestre Dezinho possui ambientes de convivência, como um auditório para eventos, palco para shows.