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Casarão de Eurípedes de Aguiar é aberto para visitação do público até segunda-feira (08)

Localizada no coração do centro de Teresina, em uma das avenidas mais icônicas da cidade, o casarão da família Eurípedes de Aguiar traz a sensação de atravessar uma fronteira no tempo. Conhecido por décadas como a casa da Dona Genu, o imóvel voltou a receber visitantes após permanecer fechado desde 2015, ano da morte de sua última moradora.

As portas altas da casa, os corredores fechados, a ligação fluida entre os cômodos e os espaços de convivência são alguns dos elementos típicos da arquitetura piauiense da época, que remetem às residências da elite política do século passado.

Rebeca Negreiros/O Dia
Casarão de Eurípedes de Aguiar é aberto para visitação do público até segunda-feira (08)

A casa fica na Avenida Antonino Freire, número 1371, próximo ao Palácio de Karnak, um dos prédios mais importantes do estado. Mais do que sua localização e sua idade, a história por trás das paredes do casarão tornam o imóvel um dos mais expressivos exemplares da arquitetura residencial piauiense dos anos 1920, quando foi construído, projetado pelo renomado arquiteto Luís Mendes Ribeiro Gonçalves.

“Os quatro filhos do casal nasceram nesta casa”, conta Lydia. “Minha mãe dizia: aqui eu nasci, aqui eu morro. E conseguiu fazer o desejo dela”. Ela lembra das várias vezes que os filhos de Genu Moraes sugeriram que mãe fosse morar em outra região, mais segura, como na zona leste, onde mantinha um apartamento. “Ela nunca quis. Aqui era o lugar dela, onde ela conversava com as pessoas, onde tinha movimento, onde as histórias aconteciam”, destaca.

Erguida há quase um século atrás, o imóvel guarda um tipo de silêncio que, repleto de memórias e significados, é tudo menos vazio. É a quietude que resta quando muitas histórias já foram contadas e muitos dias já foram vividos. E ali, entre a luz filtrada pelas janelas altas e o eco dos passos no antigo piso de madeira, a memória de um Teresina que já foi parece se recompor e se reerguer.

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Casarão de Eurípedes de Aguiar é aberto para visitação do público até segunda-feira (08)

Aberta desde o último dia 21 de novembro, a visitação da casa é supervisionada por Lydia Moraes, filha de Genu Moraes e neta do ex-governador Eurípedes de Aguiar. Ela caminha pelos cômodos com cuidado, como quem sabe que cada conta tem um peso afetivo que é difícil de ser descrito. “É uma pena que a gente tenha que vender, porque nenhum órgão público se interessou. A casa é quase um museu”, diz ela. Sua mãe e seus avós viveram ali momentos que se confundem com a própria história do Piauí e de Teresina.

Quem foi Genu Moraes

Genu Moraes, figura icônica para Teresina, para o Piauí e para todo o Nordeste, foi tantas diferentes coisas durante sua longa e movimentada vida. Historiadora, escritora, ex-vereadora de São Luís (capital do Maranhão, onde foi a vereadora mais votada em seu tempo), primeira mulher a dirigir na capital piauiense, jornalista e primeira mulher a presidir o Sindicato dos Jornalistas do Maranhão são apenas alguns dos títulos da última moradora do casarão, que nasceu em 1927 e morreu em 2015.

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Retrato de Genu Moraes.

A relação de Genu Moraes com o casarão é descrita pela filha quase como uma paixão. Segundo Lydia, ela gostava da vida que circulava ali, recebia estudantes para entrevistas, conversava com pesquisadores, mostrava objetos antigos com entusiasmo. “Ela ficava pronta em um minuto quando chegava alguém. Passava um perfume, botava um batom e saía. Era o que ela mais gostava”, conta.

Importância histórica

A historiadora Helannha Francisca observa cada detalhe do casarão com o cuidado de quem conhece a importância daquele tipo de construção para a memória urbana de Teresina. Logo na sala principal, ela aponta para elementos preservados desde a década de 1920 e comenta que o desenho das molduras ajuda a identificar o período em que a casa foi erguida. “A arquitetura é muito tradicional da época. Esse acabamento no teto, especialmente, é uma assinatura presente em outras residências de elite daquele período”, afirma.

Além de seu grande valor arquitetônico, a residência preserva elementos de vida cotidiana que ajudam a contar quem foram seus moradores. Objetos de arte sacra colecionados por Genu, livros de medicina em francês de Eurípedes de Aguiar e até ferramentas de parteira, que infelizmente foram furtadas ao longo dos anos. “Os ladrões levaram muita coisa de valor histórico. Roubaram chapéus, prataria, objetos que eram do cotidiano. Isso dói”, admite Lydia.

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Lydia Moraes, filha de Dona Genu.

Ainda assim, parte significativa do acervo foi preservada. Algumas peças foram entregues ao Museu do Piauí, em regime de comodato, como o piano em que Genu aprendeu a tocar (e que abandonou porque “não gostava de ficar de costas para as pessoas”). O cofre do ex-governador, a mesa e cadeira onde ele trabalhava também integram o espaço “Escritório Eurípedes de Aguiar”, montado especialmente para conservar esse legado.

O casarão fica aberto ao público para visitação até a próxima segunda-feira (08). A abertura permite que a população entre, observe, fotografe, sinta e conheça um dos poucos exemplares preservados da arquitetura residencial piauiense da década de 1920. O local permite que se fale não apenas da venda de objetos, mas da importância de manter viva a memória urbana, especialmente em um Centro que tantas vezes se perde em meio ao abandono e à pressa do cotidiano.


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