Portal O Dia

Calor do B-R-O Bró é desafio para comerciantes do Centro de Teresina

Com a chegada do período conhecido pelos piauienses como B-R-O Bró (meses de agosto, setembro, outubro e novembro), o mais quente do ano, o calor transforma não apenas a rotina da população em geral, mas também a dinâmica do comércio popular no centro da cidade. Para aqueles que dependem do trabalho ao ar livre, os termômetros que ameaçam bater 40 graus significam mais esforço físico, estratégias de adaptação e, em alguns casos, aumento nas vendas de produtos que ajudam a enfrentar as temperaturas extremas.

Sob o sol escaldante

A Maria do Socorro vende água de coco e água mineral há 24 anos na esquina de uma das ruas mais movimentadas do centro da cidade. Segundo a vendedora, o segredo para atrair clientes neste período é, simplesmente, garantir que a bebida esteja sempre gelada. “Se a água de coco não estiver no ponto, a pessoa nem toma. O calor é tão forte que a gente precisa comprar até três barras de gelo por dia para dar conta. Gasta mais, mas compensa, porque ninguém resiste a uma água gelada nesse sol”, diz ela.

Apesar da procura existir entre as pessoas que ainda frequentam o centro, a comerciante reconhece que o movimento nessa área da cidade já não é tão forte como antigamente. “O centro era bem mais cheio, mas hoje muita gente evita vir, até por questão de segurança. Então a gente até vende, mas não tanto quanto antes ou quanto poderia”, revelou Maria do Socorro.

Assis Fernandes/O Dia
Calor do B-R-O Bró é desafio para comerciantes do Centro de Teresina.

Quem também sente na pele os efeitos do forte calor é o pintor Gutemberg Araújo, que faz serviço em prédios durante a parte da manhã, utilizando um equipamento de rapel. Acostumado a trabalhar em diferentes cidades do país, ele garante que o sol de Teresina é mais desafiador do que outros locais. “Aqui o céu é limpo, sem nuvens, parece que o sol bate mais forte do que em qualquer outro lugar. A gente se hidrata o tempo todo, até come coisas mais salgadas para sentir mais sede, mas mesmo assim é muito puxado”, conta.

Para o jovem, natural da Bahia, a diferença do clima de Teresina fica bem clara, principalmente para quem passa mais tempo debaixo do sol. “Em outros lugares, mesmo quentes, ainda tem sombra ou tempo nublado. Aqui não, o sol vem direto, é pesado”, diz o pintor, que ainda ressalta o quanto gosta de se hidratar com a água gelada vendida por Maria do Socorro.

Impacto nas vendas

Nas lojas de eletrodomésticos, o reflexo do calor é sentido direto no faturamento. “Só neste mês de agosto, nós já vendemos mais de 120 ventiladores, e a expectativa é de vender mais”, revela Pâmela Vernan, representante de uma marca de eletrodomésticos em uma loja do Centro. Segundo ela, a praticidade do aparelho é o que mais atrai o consumidor, já que o item é portátil e pode ser utilizado em diferentes cômodos da casa. “É o campeão de vendas neste período, com certeza”, reforça.

Assis Fernandes/O Dia
Calor do B-R-O Bró é desafio para comerciantes do Centro de Teresina.

Já os climatizadores, que utilizam água para dispersar vapor no ambiente e, por isso, acabam oferecendo maior conforto, também ganham espaço no mercado, mas ainda enfrentam resistência. “A procura aumentou sim, mas pouca gente leva por causa do preço. Quem vem atrás de um ventilador de R$100 dificilmente leva um climatizador de R$1.500”, explica o vendedor Gabriel Carvalho, que também trabalha em uma loja de eletrodomésticos.

Expectativa VS Realidade

Segundo Gabriel, os comerciantes percebem que, mesmo com a alta na temperatura, o desempenho das vendas podia ser melhor. “A gente tinha expectativa de vender mais, até porque os preços de alguns ventiladores baixaram. Mas o cliente só compra se precisar, se o antigo quebrou, por exemplo. Caso contrário, a pessoa usa o que já tem em casa”, observa.

O vendedor conta que, entre os modelos mais vendidos, estão os ventiladores de mesa menores, por estarem em uma faixa de preço mais barata. “O cliente já vem preparado para esse preço. A diferença é que ele não migra para produtos mais caros, mesmo que sejam mais eficientes. O mercado acaba ficando limitado nesse patamar”, explica.

Gabriel ainda reforça a importância de manter os cuidados pessoais enquanto tenta faturar no calor do dia a dia. “O ideal seria beber três garrafas de água por dia, mas muita gente esquece. Eu até tento não esquecer, porque senão a gente não aguenta o dia inteiro aqui nessa labuta”, comentou o vendedor.

Fugindo do calor no horário mais quente

Assis Fernandes/O Dia
Calor do B-R-O Bró é desafio para comerciantes do Centro de Teresina.

Nas calçadas do Centro, o Seu Batista, vendedor ambulante, aposta na venda de cremosinhos e sorvetes para refrescar a clientela. Ele roda pelas ruas a partir da manhã, até as 15 horas, justamente o horário de mais calor. “É quando eu mais vendo. O povo procura qualquer coisa gelada para se aliviar, não tem quem resista”, revela.

Carregando o seu carrinho nas ruas da cidade, ele revela como mantém sua mercadoria protegida do sol e do calor. “Tenho que cuidar bem das placas de gelo, senão derrete. Mas é o que garante meu sustento. E, para aguentar rodar no sol, só com garrafa de água e uma blusa de manga longa para amenizar o calor”, conta Seu Batista.

Entre ambulantes, vendedores de lojas e trabalhadores de construção civil, a rotina no B-R-O Bró teresinense mostra como o calor impacta diretamente o comércio e a saúde de quem atua no Centro da capital. Para alguns, como os que vendem água, sorvete e ventiladores, as formas mais procuradas para aliviar o calor, as altas temperaturas ajudam a movimentar o caixa. Para outros, significam apenas mais desgaste físico e gastos extras com hidratação.

No final do dia suado, todos carregam a mesma sensação e as mesmas marcas de sol na pele. Para eles, trabalhar no B-R-O Bró é resistir diariamente ao sol escaldante, que transforma cada esquina do Centro em um verdadeiro teste de resistência.

Rebeca Negreiros, especial para o Portal O Dia, com edição de Isabela Lopes.


Você quer estar por dentro de todas as novidades do Piauí, do Brasil e do mundo? Siga o Instagram do Sistema O Dia e entre no nosso canal do WhatsApp se mantenha atualizado com as últimas notícias. Siga, curta e acompanhe o líder de credibilidade também na internet.