Localizada no Centro de Teresina, a Avenida Antonino Freire é considerada pelo Guinness Book uma das menores avenidas do mundo, com apenas 200 metros de extensão. Ela fica em frente ao Palácio de Karnak, ligando dois pontos emblemáticos da capital piauiense: a Igreja São Benedito e a Praça Pedro II, ambos patrimônios históricos da cidade.
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Apesar de pequena, a avenida conta parte da história da capital. Em entrevista ao Jornal O Dia, o professor e historiador Ricardo Arraes afirma que a avenida teve seu nome alterado pelo menos quatro vezes. “Ela já se chamou Rua do Padre e também já chegou a ser batizada como Rua São Benedito por conta da igreja. Em outro momento, também se chamou Frei Serafim. Com isso, a gente percebe que as ruas, de alguma maneira, contam a história da cidade e também refletem os acontecimentos políticos”, explica.
O último nome dado à avenida foi uma homenagem a um personagem importante na história do estado: o ex-governador Antonino Freire Silva. Além de político, Freire foi um renomado escritor. Em seu governo, ele recriou a Biblioteca Pública do Estado do Piauí. O político chegou a viver em uma casa na própria avenida Antonino Freire, mas a residência foi demolida e transformada em estacionamento.
As edificações ao redor da Avenida Antonino Freire, além de marcos históricos e fontes de memória, representam diferentes períodos de desenvolvimento da cidade. No passado, a região era movimentada por inúmeras bancas de livros, refletindo a intensa vida cultural da cidade. Com o passar do tempo, a área acabou transformando-se em uma zona menos comercial e mais administrativa.
Esse pedacinho de história, no entanto, parece ter sido esquecido com o tempo. Isso porque, ao passearmos por suas calçadas hoje em dia, é difícil não notar o abandono que se instalou num espaço antes tão movimentado. Atualmente, o local abriga apenas cinco banquinhas de livros e revistas, uma loja de variedades e a sede dos correios. O movimento diminuiu consideravelmente, e o que antes era um local comercial, agora é palco de silêncio.
Entre os empreendedores que ainda resistem no espaço está Maurício de Sousa, de 39 anos. Proprietário de uma banca de livros há dois anos, ele relata que o fluxo de clientes é bom, mas poderia ser melhor. “É uma banca de revista que mais parece uma livraria. O movimento é razoável. Pelo histórico, sabemos que aqui já foi bastante movimentado, mas com o tempo, esse movimento diminuiu bastante. Ainda assim, os amantes da literatura aparecem por aqui e procuram livros”, afirma.
Trabalhando com a venda de livros teológicos, de literatura, sebos e outros tipos, Maurício chega à sua banca às 8h da manhã e sai às 17h, horário em que, normalmente, zera-se o fluxo de pessoas no centro de Teresina. Durante a conversa, o empreendedor relatou que o local tem estado abandonado, o que causa uma sensação de insegurança tanto para ele quanto para os clientes e visitantes.
Apesar dos desafios, Maurício de Sousa mantém firme a esperança, destacando que a paixão pela literatura ainda é forte no coração de muitos habitantes locais, o que faz com que ele e outros empreendedores que se dedicam à venda de livros continuem resistindo.
Na Avenida Antonino Freire, bancas de xerox e revelação de fotografias também resistem à passagem do tempo. Uma delas é a banca de Francisco das Chagas Machado, de 74 anos, conhecido como "Aba Foto". Há 50 anos, ele foi um dos fotógrafos pioneiros na cidade de Teresina. Hoje, lamenta que as fotografias reveladas não sejam mais procuradas pelas pessoas, o que impacta diretamente em seu sustento.
"Eu fazia muitas fotos e as revelava. Fui um dos primeiros a trabalhar com isso aqui na cidade. O trabalho era todo manual. Hoje em dia, ninguém mais revela as imagens. O sustento de todas as pessoas que trabalham nesta avenida está comprometido pela falta de movimento", disse Francisco.
O historiador Ricardo Arraes destaca que essas mudanças são, também, reflexos da transformação digital, uma vez que as pessoas estão cada vez mais conectadas no mundo online e deixando de lado o mundo dos livros e das revistas físicas. “Com o avanço da internet, as pessoas estão priorizando as publicações virtuais. Então, a gente vai deixando de ver as banquinhas de jornais, revistas e cartões postais, que sumiram do Centro de Teresina, o que é algo muito triste”, aponta.