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Seletividade alimentar: desafio que pode acompanhar da infância à vida adulta

Lidar com a alimentação é, muitas vezes, um desafio, tanto para quem prepara as refeições, quanto para quem tem dificuldade em comer determinados alimentos. A chamada seletividade alimentar, condição caracterizada pela rejeição persistente a certos sabores, cheiros, texturas ou aparências, é comum na infância, mas pode se estender até a fase adulta, comprometendo a nutrição e a qualidade de vida.

A nutricionista Daniele Caldas, explica que a seletividade alimentar apresenta diferentes graus e precisa ser entendida em sua origem para que o tratamento seja eficaz. “Eu preciso conhecer a causa dessa seletividade, se ela está relacionada a fatores sensoriais, emocionais ou comportamentais. O acompanhamento é sempre multiprofissional, com o suporte de fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e nutricionistas”, explica.

Reprodução/Freepik
Seletividade alimentar: desafio que pode acompanhar da infância à vida adulta

Segundo a especialista, a alimentação saudável é um dos pilares para o bom funcionamento do organismo. Quando a pessoa evita grupos inteiros de alimentos, como frutas, legumes ou proteínas, o corpo sente os efeitos. “O sistema imunológico fica mais vulnerável e o indivíduo não consegue manter-se totalmente nutrido. Por isso, a atenção precisa começar ainda na infância”, afirma Daniele.

O tratamento da seletividade alimentar, especialmente entre as crianças, deve ser feito com acolhimento e paciência, nunca com imposições ou chantagens à mesa. “Forçar, negociar ou pressionar a criança a comer só reforça o comportamento seletivo. O primeiro passo é trabalhar o ambiente da refeição, tornar a mesa um espaço tranquilo e de prazer. Aos poucos, podemos introduzir novos alimentos, sempre respeitando o tempo e a segurança da criança”, orienta a nutricionista.

Esse processo, segundo Caldas, é um “trabalho de formiguinha”, que depende também da adesão da família. “Quando a família é acolhida e participa do acompanhamento, as chances de sucesso aumentam muito. A seletividade alimentar não se trata apenas de comer, mas de ressignificar o ato de se alimentar, de reconectar o indivíduo com o prazer e a segurança de comer”, diz.

Na fase adulta, o tratamento ganha outra dimensão. O adulto é mais consciente sobre que alimentos e nutrientes precisam ser consumidos, mas ainda assim há barreiras. Para Daniele, isso significa que o trabalho deve ser voltado para o entendimento e a conscientização. “Conversamos sobre os benefícios dos alimentos, exploramos novas texturas, modos de preparo e, principalmente, envolvemos o paciente em todo o processo, desde a compra até o preparo da comida”, detalha.

Para alguns, incluir alimentos rejeitados em receitas que já agradam (como vitaminas, molhos ou bolos) pode ser uma alternativa prática, mas a nutricionista ressalta que essa é apenas uma estratégia de consumo, não uma solução definitiva. Para Daniele, o objetivo do acompanhamento é fazer com que a pessoa reconheça o alimento, tenha contato com ele e, com o tempo, aceite-o naturalmente. É um processo que especialistas chamam de naturalização do alimento.

Mais do que garantir uma dieta variada, o tratamento da seletividade alimentar busca restabelecer uma relação saudável com a comida. “O comer é um ato aprendido, que envolve prazer, afeto e experiências. Quando conseguimos resgatar essa segurança em torno do alimento, o processo de mudança acontece com leveza e autonomia”, finaliza a nutricionista.


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