A Lagoa do Portinho, uma das paisagens mais emblemáticas do litoral piauiense, voltou a chamar atenção nos últimos dias. O corpo d’água que costuma refletir as dunas da região agora revela uma realidade que causa preocupação. O recuo das águas reacendeu uma mistura de apreensão e vigilância, tanto da população, quanto das autoridades ambientais, especialmente devido a uma operação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), realizada durante esta semana.
A ação, coordenada pela Semarh em conjunto com o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA/PMPI) e a 2ª Companhia Independente de Policiamento Ambiental, percorre toda a área da lagoa. A fiscalização tem como objetivo verificar suspeitas de desvio de água e reforçar a proteção de um ecossistema considerado delicado.
Segunda a Secretaria, um dos problemas identificados já no início da operação foi uma captação irregular para uso residencial, utilizado para abastecer uma pequena chácara. A proprietária do local já foi identificada e deve ser devidamente multada. A equipe reforça, porém, que esse uso isolado não explica, por si só, o comportamento atual da lagoa.
“Tudo está sendo investigado”, frisa a Secretaria, que não descarta nenhuma hipótese. A orientação é de que qualquer intervenção humana indevida deve ser coibida, mesmo que o impacto direto sobre o recuo da lagoa ainda não esteja estabelecido.
A vistoria do órgão ainda encontrou uma supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente, além de redes utilizadas para pesca predatória, prática que é proibida neste período de defeso. O auditor ambiental da Semarh, Eduardo Ganassoli, afirma que cada irregularidade acaba pesando. “A Lagoa do Portinho é muito sensível. Qualquer irregularidade, por menor que pareça, pode provocar impactos importantes. Nosso trabalho é impedir que essas práticas se repitam e comprometam ainda mais esse ecossistema”, diz.
O Secretário Estadual do Meio Ambiente, Feliphe Araújo, reforça a mensagem de que o Estado está realizando o acompanhamento de perto e ampliando a vigilância na região. Além disso, a pasta reforça que, até o momento, nada indica uma causa única ou extraordinária para o recuo da água. Segundo o órgão, a baixa no volume é, em grande parte, consequência do próprio ciclo natural, algo que ocorre todos os anos, embora com intensidades diferentes.
Desta vez, porém, a estiagem pela qual o Piauí vem passando neste ano, com 125 municípios já em situação de emergência por conta da seca, parece ter agravado ainda mais o problema. “Neste momento, não há indicação de problema grave. Continuaremos com monitoramentos frequentes ao longo de novembro e dezembro, garantindo responsabilidade, transparência e o cuidado necessário com este importante recurso ambiental”, esclareceu o secretário.
A explicação científica não elimina a sensação de que um antigo problema pode voltar a assombrar as águas da lagoa. Em 2015, o local viveu um de seus momentos mais críticos, quando o nível baixou de forma tão drástica que o corpo quase desapareceu. Anos depois, a Lagoa do Portinho se recupera, chegando a registrar volume acima da média e voltando a atrair turistas em busca da clássica paisagem das dunas tocando a água. Agora, em 2025, o volume volta a recuar, não com a mesma gravidade de uma década atrás, mas com sinais suficientes para gerar preocupação.
A Semarh reforça que não há diagnósticos conclusivos até o momento. O órgão segue monitorando a região e lembra que, além dos fatores naturais, desvios de água, ocupações desordenadas e retirada de vegetação podem contribuir para acelerar processos que já ocorrem de forma espontânea. Por isso, a operação de fiscalização continua a ser realizada até esta sexta-feira (28), com equipes percorrendo pontos estratégicos da lagoa para coibir novas irregularidades.
Enquanto isso, a Lagoa do Portinho continua sendo uma paisagem que insiste em lembrar que a natureza é dinâmica e, muitas vezes, imprevisível. As autoridades tentam garantir, agora, que diante desse movimento natural, nenhuma ação coloque a lagoa em risco maior do que o necessário. A permanência dessa beleza depende, em grande parte, da capacidade de protegê-la.
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