Celebrado nesta sexta-feira (5), o Dia do Irmão é uma data que convida a refletir sobre os laços de irmandade que ultrapassam a infância e seguem como vínculos de apoio, afeto e cumplicidade ao longo da vida. A data é uma homenagem a Madre Teresa de Calcutá, que morreu no dia 5 de setembro de 1997, que pregava a fraternidade entre as pessoas. Muitas pessoas usam a ocasião para celebrar a existência de seus irmãos e os momentos passados juntos.
Em muitas famílias, esses laços se revelam em memórias de brincadeiras, em rivalidades passageiras ou em parcerias duradouras. Para os irmãos Caio, Francisco (ou Chicão), Flávio e Alessandro, a irmandade vai além do convívio familiar. Os quatro escolheram o mesmo caminho profissional, o da docência, também compartilhado pelo pai.
Do quarteto, Caio e Francisco seguiram diretamente os passos do pai, Francisco Soares, também professor de biologia. Flávio tornou-se professor de história e Alessandro, chef de cozinha, hoje leciona no ramo de gastronomia. Os dois últimos trilharam outras disciplinas, mas mantém a mesma aptidão pela docência. O resultado é uma família em que a educação não apenas conecta gerações, mas também é elo entre os irmãos que compartilham conquistas, dificuldades e aprendizados.
Caio Soares conta que a escolha pela profissão veio de maneira muito natural, inspirada pelo pai. “Com um pai muito presente e, ao mesmo tempo, tão dedicado ao trabalho que faz, ver o trabalho de um professor como gratificante foi um estímulo enorme para me interessar pela profissão. Como começamos muito cedo, nos ajudamos muito. O que falar e como falar sempre foram tópicos que permearam nossas conversas e reuniões familiares”, relata.
Para Flávio Soares, as referências ultrapassam o pai – a docência faz parte de um legado ainda mais amplo. “Sempre quando estou em sala de aula, digo que um dos motivos pelos quais escolhi a licenciatura é porque venho de uma família de professores. Meu pai, meus irmãos e até meu avô foram professores. Crescemos vendo de perto o que era ser professor e a forma como pessoas reconheciam e admiravam o trabalho deles. Isso foi uma influência direta, mas também uma escolha natural diante das referências que tínhamos”, revela.
Francisco, mais conhecido como Chicão, reforça esse olhar sobre a herança familiar. Ele lembra que, embora tenha pensado em seguir outro caminho, foi na sala de aula que encontrou sua verdadeira vocação. “Meu pai teve influência na escolha da biologia, mas a docência veio como um amor à primeira aula. Quando entrei em sala pela primeira vez, me apaixonei pela experiência”, diz. Essa ligação entre Chicão e Caio se torna ainda mais forte, já que os dois atuam na mesma área, nas mesmas escolas e até dividem turmas de alunos. “É muito bom trabalhar com alguém que você ama e admira”, comenta.
Parceria que vai além do sangue
Se a convivência entre irmãos na infância foi marcada por disputas e brincadeira, na vida adulta a profissão se transformou em ponte de fortalecimento. Hoje vizinhos, Caio e Chicão trocam ideias quase diariamente. “É raro que minhas condutas hoje, no trabalho que faço, não passem por uma conversa com quem compartilha tanto comigo. Trocamos experiências, materiais e até confidências sobre o que deu errado em sala de aula”, conta Caio.
Flávio, que também atua com alunos do ensino fundamental e médio, mas em uma área diferente, a troca de experiências também é uma das maiores riquezas dessa irmandade. “Temos idades e trajetórias diferentes, então cada um traz uma vivência distinta. Quando um já passou por uma dificuldade, orienta o outro. Isso fortalece não só o trabalho, mas também a nossa relação enquanto irmãos. Além do amor fraterno, existe essa construção coletiva que é muito bonita”, diz o professor de história.
“Um irmão é a pessoa mais próxima de você, não só geneticamente, mas afetividade. E quando esse irmão também compartilha a profissão, só tem a acrescentar. Claro que exige maturidade, mas é muito bom estar perto de quem você gosta, tanto em casa, quanto no trabalho”, resumiu Chicão Soares.
Orgulho geracional
A docência, para a família Soares, não é apenas uma profissão, mas um legado. Além do pai e do avô, outros parentes também passaram pela sala de aula. E, para eles, dividir esse caminho traz orgulho e naturalidade. “À despeito dos percalços na vida do professor, há muito valor neste tipo de trabalho”, diz Caio.
Flávio acrescenta que a convivência reforça valores importantes. “É lindo dividir uma trajetória com irmãos. Além de estarmos no mesmo núcleo familiar, temos a possibilidade de crescer a partir das experiências uns dos outros. Isso fortalece o trabalho e nos ajuda a melhorar como profissionais e como pessoas”, ressalta o historiador.
O significado de ser irmão
O Dia do Irmão não é uma data oficial, mas surgiu como um marco simbólico para celebrar a fraternidade. Independentemente da origem religiosa ou cultural, o dia é um lembrete da importância desses vínculos, que podem ser de sangue, mas também se expressam em amizades profundas, irmandades espirituais ou em laços construídos ao longo da vida.
Na história dos quatro professores da família Soares, a irmandade se revela não apenas no convívio, mas também na escolha de um mesmo propósito. Em cada sala de aula e experiência compartilhada, o laço de irmandade entre eles se fortalece. “Toda vitória e todo sucesso são amplificados pela partilha com aqueles que nos são preciosos”, define Caio. No Dia do Irmão, histórias como a dos quatro irmãos lembram que laços fraternos podem ser tornar legados. E que ensinar, para além de uma profissão, pode ser também um ato de amor em família.
Rebeca Negreiros, especial para o Portal O Dia, com edição de Isabela Lopes.
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