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Trump deveria aprender com o STF como defender a democracia, avalia New York Times

O Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro voltou a ocupar manchetes internacionais após a condenação histórica do ex-presidente Jair Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão por conspiração golpista. Segundo um artigo publicado no jornal New York Times (NYT), a decisão representa um marco na defesa da democracia e contrasta fortemente com a realidade dos Estados Unidos, onde Donald Trump, mesmo após tentar reverter o resultado das eleições de 2020, conseguiu retornar à Casa Branca.

No editorial publicado na última sexta-feira (12), o jornal americano afirmou que o Brasil fez o que os EUA “falharam tragicamente em fazer”: responsabilizar um ex-presidente que atentou contra a ordem democrática. “Com todos os seus defeitos, a democracia brasileira está hoje mais saudável do que a americana”, avaliou o NYT.

O texto aponta que tanto Trump quanto Bolsonaro seguiram roteiros semelhantes ao colocarem em dúvida a lisura do processo eleitoral, estimulando a desconfiança contra as instituições e, após suas derrotas, incentivando ataques diretos contra a democracia. Em 6 de janeiro de 2021, nos Estados Unidos, manifestantes invadiram o Capitólio em Washington. Já em 8 de janeiro de 2023, apoiadores de Bolsonaro depredaram o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto, em Brasília.

Apesar das semelhanças, os desfechos foram distintos. O STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) agiram rapidamente, barrando Bolsonaro de disputar cargos por oito anos e, posteriormente, abrindo caminho para o julgamento criminal que resultou na condenação. Nos EUA, segundo o NYT, instituições falharam. O Senado absolveu Trump em processos de impeachment, o Departamento de Justiça demorou a agir e a Suprema Corte, ao conceder imunidade ampla, inviabilizou a responsabilização.

Reprodução/X
Trump deveria aprender com o STF como defender a democracia, avalia New York Times

O jornal também condenou a postura da atual administração norte-americana, que classificou o julgamento de Bolsonaro como “caça às bruxas”. Além de criticar o processo, Donald Trump impôs tarifas de 50% a produtos brasileiros e aplicou sanções inéditas contra ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes, relator de inquéritos ligados ao ex-presidente. Para o NYT, essa política equivale a punir o Brasil por defender a própria democracia.

O editorial ressalta que tais medidas rompem uma tradição de quase quatro décadas de defesa da democracia na América Latina por parte dos Estados Unidos. “Ao tentar intimidar o Brasil, o governo Trump abandona a postura histórica de apoio a regimes democráticos na região”, afirma o texto.

Na análise do New York Times, o papel do STF foi determinante para impedir o avanço autoritário no Brasil. O jornal lembrou a atuação do tribunal desde 2018, quando abriu o chamado Inquérito das Fake News, que buscava conter a disseminação de desinformação ligada ao bolsonarismo. Durante as eleições de 2022, o TSE, sob comando de Alexandre de Moraes, adotou medidas inéditas para garantir a integridade do pleito, como a retirada de conteúdos considerados antidemocráticos e a suspensão de contas em redes sociais.

O editorial reconhece que tais ações foram alvo de críticas, mas defende que, diante da ameaça concreta à ordem constitucional, a resposta foi proporcional. O texto cita ainda a experiência histórica do Brasil com a ditadura militar (1964-1985) como fator que teria tornado juízes e líderes políticos mais vigilantes diante de riscos autoritários.

Para o NYT, a diferença entre os dois países está na disposição das instituições em agir. Nos EUA, houve hesitação e demora, o que abriu espaço para o retorno de Trump ao poder. Já no Brasil, a Justiça agiu com firmeza, impedindo que Bolsonaro pudesse voltar a disputar a presidência em 2026.

“Os americanos deveriam aprender com o Brasil”, conclui o editorial. “As democracias não se defendem sozinhas. Elas precisam ser defendidas”.

A condenação de Bolsonaro repercutiu amplamente fora do país. Organizações internacionais e veículos de imprensa ressaltaram a decisão como um divisor de águas na história recente da democracia brasileira. Para analistas, o episódio reforça o protagonismo do STF no combate a ameaças autoritárias e projeta o Brasil como exemplo em um cenário global de crescente tensão política.

No entanto, a crise diplomática com os Estados Unidos tende a se agravar, já que Trump e seus aliados reiteraram que seguirão pressionando o governo brasileiro. Ainda assim, a avaliação do NYT ressalta a importância de responsabilizar Bolsonaro, para que o Brasil fortaleça suas instituições e sinalize ao mundo que não tolerará ataques à democracia.


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Com edição de Isabela Lopes.