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No aniversário do 11 de Setembro, mundo enfrenta onda de crises políticas e violência

No aniversário de 24 anos do fatídico dia 11 de setembro de 2001, quando as torres gêmeas, em Nova York (EUA), sofreram um atentado terrorista que matou centenas de pessoas, as memórias das vítimas se misturam às reflexões sobre as transformações geopolíticas das últimas décadas. O atual cenário mundial mostra que a crise está longe de ser superada. Pelo contrário, episódios dos últimos dias, meses e anos deixam a impressão de que o mundo está mergulhando numa calamidade política multifacetada, marcada pela violência, instabilidade, polarizações e colapsos de liderança.

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No aniversário do 11 de Setembro, mundo enfrenta onda de crises políticas e violência

O julgamento da trama golpista

Em Brasília, o julgamento que apura a responsabilidade pelo que a Procuradoria Geral da República chama de tentativa de golpe de Estado, de 2023, tem revelado fissuras profundas no Supremo Tribunal de Justiça (STF). O ministro Luiz Fux, por exemplo, que votou por 11 horas nessa quarta-feira (10), teve opinião divergente ao dos ministros que declararam seus votos anteriormente e concordou com a absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus de parte das acusações.

A divergência, clara principalmente entre ele e os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino, ganhou grande repercussão, pois implica não só em possíveis nulidades processuais, como também no risco da diminuição da credibilidade das instituições democráticas entre o público, especialmente em um país que vem sendo marcado por uma intensa polarização política. Decisões que apresentam como relativos os princípios de responsabilização política ou que denunciam a “incompetência” para julgar certos réus, são percebidas por parte do público como concessões perigosas.

© FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ AGÊNCIA BRASIL
O julgamento da trama golpista

O assassinato de Charlie Kirk, extremista da direita dos EUA

Nos Estados Unidos, o conservador Charlie Kirk foi assassinado publicamente na tarde da última quarta-feira (10), durante um evento em uma universidade no estado de Utah. O acontecimento surge como um sintoma da extrema escalada da violência política. Líderes de diferentes espectros, em todo o mundo, condenaram o crime, mas o debate central gira em torno do que levou ao ato. O discurso de Charlie era marcado por uma retórica que inflamava, feria minorias, era repleta de polêmicas éticas e morais, acusações, teorias conspiratórias e uma grande polarização de identidade.

O risco de uma “espiral de violência política” é claro em todo o mundo, com ações motivadas politicamente que acabam tendo motivações mútuas e provocam reações cada vez mais agressivas e generalizadas. Seja pela fragilidade institucional, seja pelo enfraquecimento do diálogo ou pelos constantes e muito disseminados discursos de ódio, a violência política está deixando de ser exceção para se tornar um gatilho para crises ainda mais graves.

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Charlie Kirk, ativista da extrema direita dos EUA.

Governos em crise

Na Europa, a França vive atualmente uma onda de protestos populares intensos, com o slogan “Bloqueemos Tudo” (Bloquons Tout). Na última quarta-feira (10), protestos por todo o país mobilizaram centenas de milhares de pessoas que contrariam medidas anunciadas pelo Governo, como cortes no orçamento público, extinção de feriados nacionais, congelamento de pensões e uma crescente percepção de desconexão entre governo e sociedade.

Foi um primeiro dia bastante tumultuado para o novo pimeiro-ministro Sébastien Lecornu, que foi nomeado pelo presidente francês Emmanuel Macron em meio à crise política, que surgiu após o governo anterior perder a confiança da maior parte da população. Os confrontos com a polícia e as barricadas feitas pelo público geral, por exemplo, evidenciam um cenário de instabilidade constante e crescente, de grande aumento na força dos protestos sociais e de desgaste das instituições.

Mais ao sul do globo, o Nepal se encontra em convulsão política. Protestos de jovens, principalmente da geração Z, explodiram recentemente, motivados pelo banimento de redes sociais do país, mas logo ganharam contextos mais amplos. Entre acusações de corrupção, nepotismo e descaso do governo, aparecem casos de violência graves, como a morte da esposa do ex-primeiro-ministro do Nepal em um incêndio provocado por manifestantes.

O governo do país responde aos protestos com atos de repressão, imposição de toques de recolher, intervenção militar e outros sinais claros de que as instituições estão sob pressão severa. A morte da ex-primeira dama aponta para o perigo da erosão democrática, onde protestos sociais encontram forças e dão força à atos desordenados e repressores.

A guerra contínua da Faixa de Gaza

O conflito Israel-Palestina, centrado na região da Faixa de Gaza, que vem se arrastando há décadas mas teve um intenso agravamento nos últimos dois anos, continua sendo um dos focos mais expressivos da calamidade política mundial. O número crescente de ataques, bombardeios em ambientes civis, destruição, mortes de crianças, jovens e jornalistas e várias outras tragédias persistem, com consequências humanitárias profundas.

A guerra não só permanece sem solução, como cada novo episódio de violência alimenta um ciclo formado por retaliação, radicalização, perda de humanidade, crise de saúde e aumento da fome. Além disso, os acontecimentos repercutem internacionalmente, polarizando discursos, influenciando alinhamentos políticos, gerando acusações de crimes de guerra e expandindo o impacto global, especialmente para a região do Oriente Médio.

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A guerra contínua da Faixa de Gaza.

A análise desses e de vários outros episódios, fazem surgir padrões que mantém a sociedade em um constante estado de temor e incerteza. A desconfiança da população em vários países faz com que o povo deixe de crer nas instituições judiciais, legislativas ou executivas, em meio a decisões controversas que enfraquecem a sua legitimidade.

A polarização extrema, seja política, ideológica ou social, cria discursos que pintam o “outro lado” como inimigo, que relativizam os direitos civis ou o papel do Estado democrático. O que, por sua vez, pode motivar a violência como ferramenta política ou resposta, seja através de protestos, ataques, assassinatos, confrontos, repressão.

Não se pode esquecer da incerteza econômica, quase sempre presente na maioria das nações. Inflação e desemprego são alguns dos elementos que aumentam o descontentamento e alimentam protestos. Redes sociais criam e amplificam crises, expõem desigualdades, mobilizam-protestos, mas também espalham desinformação, teorias da conspiração, discursos de ódio.

Quando se olha para o 11 de setembro não apenas como memória, mas como ponto de inflexão sobre como o mundo lidaria com terrorismo, guerra, segurança, liberdade, é preocupante observar que, após quase um quarto de século, muitas vulnerabilidades permanecem. E outras surgiram, não apenas nos muros externos entre países, mas dentro das nações, nas instituições, nos discursos públicos.

A “calamidade política” mundial não é um exagero retórico, ela se manifesta em decisões judiciais controversas, assassinatos políticos, protestos massivos, governos cambaleantes, guerras que continuam sem solução. E se essas crises não forem enfrentadas com transparência, justiça, diálogo e compromisso com princípios democráticos, corremos o risco de ver rupturas ainda mais profundas.

Rebeca Negreiros, especial para o Portal O Dia, com edição de Isabela Lopes.


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