O sentimento é de gratidão e alívio. É assim que dona Lucélia Maria da Conceição Silva, 54 anos, define sua vida depois de ter sido solta nesta segunda-feira (13). Ela passou cinco meses na Penitenciária Feminina, em Teresina, acusada e ter envenenado duas crianças em Parnaíba. Desde o início, ela afirmava sua inocência, mas somente ontem a polícia confirmou que os cajus que ela doou para os meninos João Miguel e Ulisses não estavam envenenados.
Em entrevista exclusiva a O Dia, Lucélia diz que tenta olhar para o futuro e que tudo pelo que passou nos últimos meses serviu para lhe tornar uma pessoa mais forte e renovada.
E quando se trata de inocência, Lucélia diz que foram poucas as pessoas que acreditaram na sua. O ciclo de confiança, ela afirma, se restringia ao advogado e à sua família. A eles, ela expressa gratidão. “Desde a primeira vez eu falei da minha inocência, mas só eles acreditaram em mim. O advogado e a minha família sempre acreditaram em mim. Eles vêm me ajudando. Só eles”, desabafa ela, que teve a casa incendiada por populares revoltados com a situação quando ela foi acusada de ter envenenado João Miguel e Ulisses.
Hoje, sem ter sua residência para onde voltar, ela está na casa de parentes, sendo assistida por eles e pela equipe jurídica, que está preparando sua defesa para a audiência de instrução que acontecerá no próximo dia 23 de janeiro. Nela, a justiça analisará as provas anexadas aos autos que incriminam Lucélia e que, conforme seu advogado, são fracas e não se sustentam.
Em entrevista ao Portalodia.com, o advogado Sammai Cavalcante disse que a investigação da polícia foi deficitária e se baseava em provas fracas e sem razão. Hoje, Sammai afirma que o momento é de deixar que dona Lucélia esteja com a família e tente se restabelecer um pouco mentalmente depois de ter passado cinco meses reclusa.
É deste sentimento de liberdade, ainda que liberdade provisória concedida pela justiça, que Lucélia tenta aproveitar. “Estou me sentindo outra pessoa. Me sentindo livre e me sentindo outra pessoa a partir de agora”, finaliza ela.
Prisão de padrasto e reviravolta
A investigação sobre os envenenamentos ocorridos em Parnaíba em agosto de 2024 teve uma reviravolta depois que mais nove pessoas da mesma família foram envenenadas no começo deste ano. Todos eles eram parentes dos meninos João Miguel e Ulisses, que faleceram em Teresina após terem ingerido terbufós, conhecido popularmente como chumbinho.
A principal suspeita era que o veneno estava nos cajus dados por dona Lucélia Maria às crianças. Ela era vizinha deles e como a polícia encontrou veneno de rato na casa dela, acabou prendendo-a preventivamente enquanto o inquérito avançava. Mas o laudo pericial dos cajus só veio sair na última quinta-feira (09), após a prisão de Francisco de Assis Pereira da Costa, padrasto da mãe das crianças envenenadas.
Ficou comprovado que os cajus que dona Lucélia deu aos meninos não tinham veneno e ela teve sua liberdade concedida pela justiça, já que esta era a principal tese defendida pela acusação. Para o advogado dela, Sammai Cavalcante, houve erros processuais que levaram à prisão de sua cliente.
Questionado sobre a busca de reparações para dona Lucélia, ele diz que ainda é cedo para se falar nisso, porque o processo ainda está correndo na Justiça. “Vamos primeiro aguardar o trânsito em julgado. Depois que ela for sumariamente absolvida, nós vamos buscar isso. A verdade é só uma: jogaram dona Lucélia aos leões e isso com certeza nós não vamos ignorar”, finaliza Sammai.
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