Muitas pessoas aproveitam o recesso e as festas de fim de ano para viajar e se reunir com amigos e familiares. No entanto, alguns serviços essenciais não podem parar, e trabalhadores precisam deixar seus lares para atender à população e garantir o funcionamento da cidade.
Enquanto áreas como saúde, segurança, limpeza pública e transporte operam em regime de plantão para assegurar a continuidade dos serviços, outros profissionais enfrentam jornadas exaustivas para atender ao aumento da demanda provocado pelo fluxo de turistas nesta época, como ocorre em bares e restaurantes.
Jonatas Miranda trabalha há cinco anos como gari e já passou alguns natais e réveillons longe da família. Enquanto grande parte da população celebra as festas, os trabalhadores da limpeza urbana seguem nas ruas, garantindo que a cidade permaneça limpa. Para ele, trata-se de uma profissão cansativa e que deveria ser mais valorizada, já que os profissionais estão constantemente expostos a riscos.
“Nós não temos recesso, nem no Natal nem no fim de ano. Trabalhamos todos os dias para manter a cidade organizada enquanto muitos estão em casa. Um dos momentos mais difíceis foi durante a pandemia, mas, ainda assim, continuamos trabalhando”, relata.
Trabalhar enquanto todos comemoram, segundo Jonatas, não é fácil, especialmente para quem é pai. Estar ao lado da família nesses momentos é um desejo comum entre os trabalhadores. “Do lado de cá, não é muito bom, porque a gente também queria estar com a família, viajando, passeando, aproveitando. Muitos são pais e gostariam de passar as festas com os filhos”, afirma.
Para manter a cidade limpa durante as festividades, equipes são organizadas em escalas que seguem até as 2h da madrugada. Na véspera de Natal, os trabalhadores atuaram até o fim da tarde, com tempo para retornar para casa. Já no Ano Novo, o trabalho segue madrugada adentro.
“No Ano Novo, teremos várias equipes nas ruas fazendo a manutenção da limpeza pública. Alguns começam às 6h da manhã, enquanto outros só encerram o serviço por volta das 2h da madrugada. São pessoas que, de fato, vão passar o Ano Novo trabalhando”, conclui Jonatas Miranda.
Servir à sociedade: uma missão que não entra em recesso
Enquanto muitas famílias se reúnem para celebrar o Natal e o Ano Novo, profissionais da segurança pública seguem de prontidão para garantir tranquilidade à população. Na Polícia Militar, o fim de ano é marcado por escalas de serviço e pela certeza de que alguém precisará abrir mão das confraternizações para que a cidade continue segura.
A cabo Alícia Cerqueira, de 32 anos, atua há nove anos na Polícia Militar do Piauí e explica que esse período costuma trazer sentimentos mistos. “Quando chega o final do ano, bate uma ansiedade, porque a gente já sabe que provavelmente vai trabalhar no Natal ou no Ano Novo”, relata. Segundo ela, o policial tem consciência de que dificilmente conseguirá participar das duas comemorações com a família.
Atualmente lotada no setor administrativo, a militar conta que, mesmo fora do serviço ostensivo, a rotina não para. “A polícia não pode parar. Existe uma divisão de recesso, em que parte do efetivo trabalha no Natal e outra no Ano Novo, para que nenhuma demanda fique descoberta”, explica.
Cerqueira lembra que, ao longo da carreira, já precisou abrir mão de diversas datas comemorativas quando atuava no serviço ordinário. “Nós fazemos um juramento de dedicar nossa vida à sociedade, mesmo com o sacrifício da própria vida. E esse sacrifício também inclui abdicar de momentos de lazer e de estar com a família”, afirma.
Apesar das renúncias, ela destaca que o sentimento de dever cumprido traz conforto. “Mesmo indo na contramão do que todos estão fazendo, existe um acalento. A gente sabe que essa é a nossa missão. Servir à sociedade é uma honra”, conclui.
Festas para uns, trabalho dobrado para outros
Weberty Pereira Lopes, de 38 anos, conhece bem o significado de trabalhar quando a maioria das pessoas está comemorando. Há cerca de 10 anos atuando como cobrador de ônibus, ele também faz extras como garçom, o que o levou a abrir mão de muitos Natais e Réveillons ao lado da família.
“O transporte coletivo é um serviço essencial, então não pode parar. E, como garçom, sempre tem festas e jantares para cobrir. A gente acaba ficando escalado justamente nessas datas especiais”, explica.
A rotina é intensa: durante o dia, Weberty trabalha como cobrador e, à noite, faz um extra como garçom. Com a agenda cheia, o tempo com a família se torna escasso. “É um pouco crítico, mas ao mesmo tempo é gratificante, porque eu gosto de trabalhar com pessoas. E também tem a questão financeira, já que esse extra ajuda bastante”, comenta.
Desde que começou a trabalhar, em 2009, Weberty conta que só conseguiu passar um fim de ano com a família em 2020, durante a pandemia. “Foi o único ano, mas porque todo mundo precisou ficar em casa”, lembra.
Mesmo sentindo a ausência, a família entende a rotina do trabalhador. “Eles mandam mensagem no Natal ou na virada do ano, mas, por causa da correria, eu só consigo responder quando chego em casa, lá pelas 2h da madrugada. Ficam tristes, mas já se acostumaram. No outro dia, eu tento compensar ficando com eles”, relata.
Neste ano, Weberty trabalhou na noite do dia 24 de dezembro até as 3h da manhã como garçom e, poucas horas depois, retomou o trabalho como cobrador. “Não dormi direito, mas é isso. E no Ano Novo, provavelmente, vou estar trabalhando de novo”, conclui.
O Natal de quem salva vidas
Os socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) são outros profissionais que também passam as festas de final de ano trabalhando, seguindo a rotina de prontidão, sempre atentos às ocorrências.
Um desses plantões marcou para sempre a trajetória profissional do socorrista Girleno França de Carvalho, 48 anos, que atua no SAMU há 11 anos. Na noite de Natal, uma ocorrência mobilizou equipes de motolância, ambulância de suporte básico e, em seguida, suporte avançado. Uma senhora, em meio à família, sofreu um mal-estar súbito e evoluiu para uma parada cardiorrespiratória.
O atendimento rápido e integrado permitiu a reversão da parada, o encaminhamento com vida ao Hospital de Urgência de Teresina (HUT) e, posteriormente, a alta médica. Um desfecho que transformou aquela noite em um lembrete concreto do valor da vida.
Casos como esse se repetem ao longo do ano, mas ganham um peso emocional maior durante as festas. “Enquanto as pessoas estão em casa comemorando, nós estamos trabalhando”, relata o profissional. Ainda assim, o sentimento predominante não é de frustração, mas de propósito. Atender emergências, reduzir complicações e evitar sequelas em situações como acidentes de trânsito, AVC, hipoglicemia e paradas cardíacas faz parte da missão diária.
Para o socorrista, atuar no SAMU vai além de uma profissão. Ele integra equipes terrestres na motolância e também o SAMU Aéreo, responsável por transferências de pacientes em locais onde não há atendimento adequado. Voando por todo o estado, ajuda a garantir que cada paciente chegue ao serviço de saúde compatível com sua necessidade.
“Nem todo mundo pode chegar em casa e dizer: hoje eu salvei uma vida. Isso para mim é muito gratificante. Sou muito grato a Deus pela oportunidade de compor essa equipe e fazer parte de um trabalho tão importante quanto esse do SAMU em salvar vidas”, resume.
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