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Mercados públicos: espaços onde se convive e se trabalha memórias múltiplas

Em um mundo onde a praticidade dos supermercados é uma escolha quase automática, os mercados públicos resistem ao tempo. Eles não são apenas locais de compra, são também espaços de convivência, de memória e de amizade. O Mercado do Mafuá, localizado na zona Norte de Teresina, é um desses lugares raros que ainda mantêm viva a tradição da comunidade. Por ali, o tempo parece passar mais devagar, e as relações entre comerciantes e consumidores vão além da venda de mercadorias: constroem-se laços.

Assis Fernandes/ODIA
Mercados púbicos: espaços onde se convive e se trabalha memórias múltiplas

A aposentada Judite Albuquerque, de 72 anos, mora no bairro Horto, na zona Leste, e, mesmo residindo próxima a um supermercado, faz questão de ir ao Mafuá semanalmente. Para ela, vale a pena sair de uma região a outra para adquirir produtos de qualidade - afinal, a confiança no que compra é mais importante do que a economia.

“Gosto de comprar aqui porque encontro alimentos mais naturais e sem agrotóxicos, pois muitos vêm de hortas. Ainda que o preço de alguns alimentos seja até mais alto, vale a pena pela qualidade. Nos supermercados, a gente não sabe quanto tempo aquele alimento está lá”, destaca.

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Produtos frescos atraem consumidores que buscam qualidade.

Judite Albuquerque, por exemplo, é cliente fiel da permissionária Maria do Amparo, mais conhecida como Viana, há décadas. Aos 70 anos, Viana sente orgulho de ter o mercado como sua segunda - ou talvez primeira - casa. Ela cresceu nos corredores do Mafuá e foi entre as bancas de frutas e verduras que tirou, e ainda tira, o sustento da família.

“Tenho clientes muito antigos, que compram há mais de 30 anos na minha banca. Costumo brincar que conheci eles ainda com os cabelos pretos e, hoje, estão brancos. São pessoas que saem do bairro Horto, do Planalto Uruguai, só para comprar alimentos frescos e de qualidade”, conta, com orgulho.

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Aos 70 anos, Maria do Amparo, conhecida como Viana, mantém sua banca de hortaliças no mercado público.

A rotina de Viana começa cedo. As hortaliças que vende, como alface, cheiro-verde e cebolinha, são todas cultivadas na sua própria horta e colhidas no início do dia. “Tudo para garantir ao cliente a qualidade que tantos prezam e que faz com que eles voltem. ‘Meu Mafuá’ é um mercado completo. A pessoa vem comprar carne, frutas e verduras e ainda toma café da manhã. As pessoas gostam daqui porque é um ambiente acolhedor”, afirma.

Um dos frequentadores mais fiéis do Mafuá é o representante comercial Paulo Henrique, de 64 anos. São mais de 35 anos andando entre as bancas de frutas e verduras, circulando entre os boxes de carnes e peixe. O que o faz Paulo sair do bairro Aeroporto, onde reside, para comprar no Mafuá durante todos esses anos? A qualidade dos produtos. Algo que, segundo ele, os supermercados não conseguem superar.

“Às quintas, sextas e sábados, eu estou aqui. Não compro carne em supermercado, somente no Mercado do Mafuá. São alimentos mais novos e frescos, especialmente as carnes. O peixe eu gosto de comprar no dia em que vou consumir, e o mesmo vale para frutas e verduras, que também só compro aqui no mercado, pois acho a qualidade melhor”, ressalta.

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Honorato Pereira da Silva, de 60 anos, trabalha há três décadas vendendo carnes no Mercado do Mafuá

Essa fidelidade ao Mafuá, assim como acontece em tantos outros mercados ou feiras de bairro, ocorre, principalmente, porque os produtos vendidos diariamente são recebidos nas primeiras horas do dia. Frescos para o consumo, os alimentos mantêm o sabor e a qualidade, dando aquela sensação de “comida de casa”.

“Nos supermercados, a qualidade dos alimentos é um pouco duvidosa. Alguns produtos ficam nas prateleiras por muito tempo. Já no mercado e na feira livre, tudo o que está sendo vendido é fresco e do dia. Aqui, tudo é natural. Tenho clientes empresários que compram 30 kg, 40 kg de toucinho de uma vez para atender seus próprios clientes. Isso só acontece porque eles confiam na qualidade do nosso produto”, reforça Honorato Pereira da Silva, de 60 anos, que trabalha vendendo carnes no Mercado do Mafuá há 30 anos.

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Mercados púbicos: espaços onde se convive e se trabalha memórias múltiplas

E é esse frescor dos alimentos que atrai a dona de casa Sônia Regina Oliveira, de 58 anos. O mercado chega a ser quase uma extensão da sua cozinha. “Costumo comprar toda sexta-feira, tanto para minha casa quanto para o preparo dos alimentos que vendo no meu estabelecimento”, explica.

Ela mora no bairro Memorare, mas frequenta o mercado quase todos os dias. E essa proximidade com o Mafuá também tem outro motivo, que vai além do consumo dos alimentos. “Como não uso nada congelado, preciso vir comprar tudo fresco. Não gosto de alimentos congelados porque perdem o sabor. Venho para cá porque nasci e me criei aqui na Vila Operária. Como minha mãe e meus irmãos moram aqui perto, quando venho visitá-los, aproveito para vir ao mercado”, relata.

E é nessas idas e vindas que Sônia garante o alimento de qualidade da sua casa e do que oferecerá aos clientes em seu restaurante. É no Mafuá que ela compra o feijão-verde novo, a carne, as frutas frescas e o queijo caseiro. Tudo fresquinho.


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