Em um mundo em que palavras frequentemente se perdem no turbilhão do cotidiano, a poesia permanece como uma expressão do sentimento humano. Entre metáforas e rimas, versos ecoados em um papel tem o poder de provocar, fazer refletir e revelar emoções antes não acessadas. Nesta sexta-feira, dia 20 de outubro, é comemorado o dia daquele que faz com que essas palavras venham à tona: o Poeta.
Na vida dos poetas, a conexão com a escrita se faz presente muito cedo. Com a artista teresinense Marcileia Ribeiro, mais conhecida como Haia Saer, de 30 anos, não foi diferente. Desde que aprendeu a ler e escrever, ela se expressa através da palavra escrita.
“Sempre gostei de me expressar escrevendo. Certo dia, um trecho de uma crônica da Clarice Lispector me chamou atenção. Eu me perguntava como alguém conseguia escrever sobre algo do dia a dia de uma forma tão intensa e poética. Foi com as narrativas dela que encontrei de fato a poesia. Desde então, me encantei”, conta a artista em entrevista ao Jornal O DIA.
A poetisa leva consigo um pedaço de sua escritora favorita. Segundo ela, Haia é uma parte do primeiro nome que foi dado a Clarice Lispector enquanto pessoa ucraniana. “Haia anda comigo desde sempre. Foi o nome que escolhi para dar vida a minha própria vida. Eu costumo dizer que a Haia é a poeta que existe em mim e que me acompanha.
Escrevendo sobre as pequenas coisas que perpassam o seu cotidiano e o cotidiano da sua cidade, Haia busca trazer em seus poemas a beleza da simplicidade. A escritora destaca que escrever poesia não é sobre usar palavras rebuscadas, mas fazer-se entender por quem lê.
Para Haia, o verdadeiro propósito da poesia é gerar provocações e fazer refletir, instigando os leitores a saírem de suas zonas de conforto. A artista vê a escrita como um veículo político-social e cultural capaz de gerar transformações na sociedade a partir da tomada de consciência do próprio público.
“Eu penso na poesia como provocação, porque a palavra e a escrita deve provocar as pessoas, ela deve tirar as pessoas de onde elas estão, para que possam pensar sobre determinado assunto. Acredito que dentro da literatura, a função da poesia é trazer reflexões e problemáticas à tona, com o intuito de tocar as pessoas. Um poema sozinho não faz nada. Nós leitores é que somos agentes ativos. É a partir dessa tomada de consciência que conseguimos agir e transformar”, ressalta.
Atualmente, Haia possui uma página de trabalho no Instagram (@haiasaer) dedicada à poesia e à colagem digital, que também surgiu a partir do seu amor pela escrita. “As minhas colagens digitais nasceram a partir da necessidade da escrita. Eu mesma quis criar as minhas imagens, as minhas composições, a partir de outras, tentando refletir o que está na minha escrita”, diz a artista.
Os temas de suas artes vão desde sociedade, à cultura, política à diversos outros assuntos importantes. Em 2019, a artista publicou o poema ‘5 meses de gestação’ em uma coletânea chamada ‘As coisas que as mulheres escrevem’, da editora Desdemona. Futuramente, Haia pretende lançar um livro solo.
“Escrever é o ponto de partida. Escrevendo eu consigo ser melhor para mim mesma e para o mundo. Escrevendo, eu consigo aprofundar o meu olhar para a existência e construir por meio das palavras aquilo que eu estou sentindo. Se a gente tem o privilégio e a oportunidade de ter contato com a poesia, a magia da poesia é capaz de nos fazer olhar para a existência de uma forma mais viva”, finaliza.
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A potência da poesia que se torna música
Às vezes, o poeta surge a partir da música, e não o contrário. Esse é o caso da cantora e compositora timonense Jaísa Caldas, de 25 anos. Ela descobriu o amor pela poesia a partir da sua proximidade com a música, que sempre esteve presente em sua vida.
As composições de Jaísa Caldas são voltadas para o que a artista chama de “literatura marginal". A cantora é uma das representantes do Hip-Hop nordestino feminino e aborda em suas letras a cultura negra. Ela se destaca como uma das vozes da poesia no Piauí e Maranhão através de diversas conquistas, como lançamento de clipes, álbuns e projetos culturais.
Recentemente, Jaísa Caldas conquistou o 1º lugar com a obra audiovisual “Timon, Papel e Letra”, na Mostra MC Mulheres, festival de música realizado no Espírito Santo.
“Depois que passei a me identificar como musicista, entendi que eu me encontrava na literatura marginal. Isso transformou a minha forma de escrever. O encaixe da letra com a melodia me tornou uma pessoa mais segura. A poesia que hoje faço em cima de melodias é, ao mesmo tempo, um processo delicado e intenso. Ser poeta é sentir o momento e sentir aquilo que acontece dentro e fora de você”, ressalta a artista.
Quando surgiu o Dia do Poeta?
O Dia Nacional do Poeta é uma data que celebra o profissional que dá vida a esse universo artístico por meio de suas palavras. Embora não seja oficialmente reconhecido por uma lei, a comemoração, em 20 de outubro, tem uma significância especial para a cultura literária do Brasil.
A origem dessa comemoração remonta a 20 de outubro de 1976, na cidade de São Paulo. Foi nesse dia que surgiu o Movimento Poético Nacional, na casa do renomado jornalista, romancista, advogado e pintor brasileiro Paulo Menotti Del Picchia. Esse momento singular na história da literatura brasileira inspirou a escolha da data como a ocasião para celebrar os poetas do país.
Embora o Dia do Poeta não tenha status oficial, ele desempenha um papel importante ao incentivar a leitura, a escrita e a publicação de obras poéticas nacionais.